Política

PT dá suporte a Paulo Pinheiro
para tentar vencer jogo regional

DANIEL LIMA - 17/09/2012

O Conselho Político Regional do PT (de viés sindicalista e centralizado na Administração Luiz Marinho em São Bernardo) quer a vitória do peemedebista Paulo Pinheiro a qualquer custo nas eleições de outubro em São Caetano para assegurar uma ainda improvável vitória regional no placar de um jogo muito especial, que tem sete gols (ou municípios) como referência. Por isso não poupa esforços, marketing e dinheiro para sustentar uma candidatura que em princípio não teria maiores possibilidades de sucesso, ante o grau de aprovação do prefeito José Auricchio Júnior e da capacidade técnica de Regina Maura Zetone, escolhida para dar continuidade às políticas públicas do Município.


 


A dobradinha PT-PMDB, que garantiu a reeleição de Lula da Silva após o escândalo do mensalão e que levou Dilma Rousseff à Brasília, é a pedra de toque que faz de Paulo Pinheiro um artilheiro considerado importante pelos petistas. O vereador por múltiplas legislaturas (sempre como homem de confiança e sem maiores ambições executivas dos prefeitos que comandaram São Caetano nas duas últimas décadas) pode desempatar um jogo regional que nas eleições de 2008 foi vencido pelos azulados (como são chamados os partidos aliados ao governo do Estado, o tucano Geraldo Alckmin). Os avermelhados -- até então exclusivamente petistas, mas agora com tonalidades peemedebistas -- querem reverter o placar de 4 a 3 de 2008. Paulo Pinheiro é a esperança do gol que se somaria ao de Luiz Marinho em São Bernardo, Mário Reali em Diadema e um quarto, dividido em probabilidades entre Donisete Braga em Mauá e Carlos Grana em Santo André. Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra já são contabilizados como gols dos adversários pelo Conselho do PT.


 


Vazamentos inoportunos


 


O que mais preocupa o Conselho do PT comandado politicamente por Luiz Marinho, operacionalmente pela máquina sindical e financeiramente por Luiz Fernando Teixeira, presidente do São Bernardo Futebol Clube, são os desdobramentos do vazamento de informações que cristalizaram a aproximação entre o partido e o candidato Paulo Pinheiro. As tentativas de negar a retaguarda logística, técnica, política e administrativa não teriam alcançado a profundidade esperada. Há sinalizações demais que desqualificam qualquer tentativa de imputar aos adversários, ligados à candidatura de Regina Maura Zetone, a propagação do entrelaçar dos interesses dos dois partidos.


 


Até petistas de São Caetano, próximos ao ex-candidato Edgar Nóbrega, confirmam a tutela de Paulo Pinheiro pelo esquema presidido informalmente pela PT de São Bernardo, controlador da agremiação na Província do Grande ABC. Mais que isso: a complementaridade da informação, de que o PT de viés sindicalista comanda o partido em São Bernardo e na região, assusta ainda mais nacos do eleitorado de São Caetano nos quais chegou de forma consistente a junção de petistas e peemedebistas.


 


A tentativa de colar a imagem de Dilma Rousseff, mais palatável à classe média típica de São Caetano, à candidatura do petista Edgar Nóbrega e, em seguida, à campanha de Paulo Pinheiro, não teria encontrado terreno fértil, segundo pesquisas qualitativas, modalidade de acompanhamento da sensibilidade do eleitorado que reúne um grupo de eleitores que espelhariam as variáveis do conjunto e de especificidades da população que irá às urnas.


 


Estragos da renúncia


 


A renúncia de Edgar Nóbrega à Prefeitura provocou fissuras consideradas insanáveis. Defenestrado internamente por conta de um vídeo postado na Internet, vinculando-o a uma relação menos hostil com o Palácio da Cerâmica, Edgar Nóbrega teria descoberto que a empreitada foi desencadeada por peemedebistas e petistas. Principalmente petistas que pretendiam afastá-lo da campanha sem renúncia, de forma a, levando-se em conta a corrente favorável a Paulo Pinheiro, transferir votos para o peemedebista. Como Edgar Nóbrega relutou em aceitar a intervenção, acabou defenestrado publicamente, a ponto de não ter escapatória senão jogar a toalha. Ou seja: o centro de ações de engenharia intelectual e operacional do PT, sob o comando de Luiz Marinho, optou para valer por afastamento inapelável de Edgard Nóbrega para consolidar, sem risco, apoio mesmo que clandestino a Paulo Pinheiro. Apoio clandestino porque o PT sabe que São Caetano não é terreno firme em que possa transitar, por isso se juntou ao PMDB, aliado federal de todas as horas, para conceber a escalação de Paulo Pinheiro.


 


A expectativa petista é que Paulo Pinheiro marque um dos quatro gols do placar eleitoral na Província do Grande ABC. Quatro a três é o resultado mínimo desejado pelo staff de Luiz Marinho. Uma vitória regional cacifaria o ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, da CUT (Central Única dos Trabalhadores), ex-ministro do Trabalho e Emprego e da Previdência Social, rumo à disputa do governo do Estado em 1018. Ou mesmo antes disso, em 2014, caso Fernando Haddad vença as eleições municipais em São Paulo.


 


Um integrante do Conselho Político do PT na Província do Grande ABC considera até mesmo a possibilidade de Luiz Marinho satisfazer-se, em última instância, com uma nova derrota regional de 4 a 3 -- desde que um dos gols petistas seja de Paulo Pinheiro e que ele, Marinho, vença em São Bernardo com pelo menos 70% dos votos válidos.


 


Joia da coroa


 


Ganhar São Caetano é quase uma questão de honra para o PT. O trauma de não alcançar a classe média tradicional acentua-se a cada nova rodada de pesquisas eleitorais na Capital. Concentrar-se principalmente nas áreas periféricas da Capital é a confirmação das dificuldades de o PT envolver-se com os chamados formadores de opinião.  Na Província do Grande ABC não é diferente. Mesmo onde ganhou as eleições municipais de 2008, o partido perdeu nos territórios eleitorais de classes econômicas mais maduras. São Caetano é fortemente concentradora dessa classe média e como tal passou a ser um desafio à experimentação de um governo municipal, mesmo sob a roupagem do PMDB. Não faltariam secretarias já negociadas pela dobradinha partidária.


 


O projeto que seria implementado sob Administração de Paulo Pinheiro é ambicioso. Algumas vitrines seriam esculpidas para, a partir de São Caetano, atrair a confiança de nichos mais abastados financeiramente. O apartheid eleitoral do PT é um obstáculo desafiador a lideranças que esperam conquistar o governo de um Estado que tem sérias restrições ao histórico petista de origem sindical e, mais recentemente, de estripulias administrativas flagradas e denunciadas.


 


Também não faltam petistas mais radicais que veem na possibilidade de gestão de Paulo Pinheiro um caminho mais curto e dócil a um acerto de contas com Mauá -- Município que os petistas pretendem manter petista -- sobre os recursos de comercialização de derivados de petróleo do Polo Petroquímico de Capuava.


 


O candidato petista Donisete Braga transformou em um das principais mantras eleitorais a intenção de transferir para Mauá parte dos valores milionários em forma de repasse de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) a que São Caetano tem direito legal por sediar os terminais de distribuição da estatal. A transfusão, superior a 40% do orçamento anual, atingiria em cheio os cofres de São Caetano. Seria um impacto semelhante ao da retirada da planta da General Motors da cidade -- segundo cálculos do prefeito José Auricchio Júnior.


 


Solução sem Regina


 


Com a vitória de Regina Maura, analisam os petistas, não haveria a menor possibilidade de encaminhar uma solução com a Petrobrás de forma a estabelecer um cronograma de compensação gradual aos cofres de Mauá. Com Paulo Pinheiro de aliado, o que associaria cores e dores de uma guerra de bastidores, teria um destino quase que compulsório. Ou seja: o PT que comanda a Petrobrás, e supostamente comandaria Mauá e São Caetano, consolidaria uma correção de rota dos valores, segundo os conceitos petistas. Esse pré-acordo, segundo um petista que atua no entorno do Conselho Político do partido, em São Bernardo, faz parte do processo de apoio à candidatura de Paulo Pinheiro. Gradualismo é o nome do jogo. Ou seja: São Caetano disporia de tempo para adaptar o orçamento com base no refluxo de uma parte substancial dos valores financeiros que passariam aos cofres de Mauá. A operação seria facilitada com a vitória de Paulo Pinheiro, acreditam os petistas, mas não dependeria necessariamente desse resultado. Donisete Braga pretende seguir na luta caso vença as eleições em Mauá. O dinheiro que vai para São Caetano virou o mapa da mina eleitoral dos petistas de Mauá. 


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