Política

Mensalão vai ser um freio de
arrumação no PT de Marinho?

DANIEL LIMA - 21/09/2012

Votei duas vezes em Lula da Silva à Presidência do País, votei em outros candidatos do PT, Celso Daniel inclusive, mas torço para que o escândalo do mensalão, em julgamento no Supremo Tribunal Federal, sirva de freio de arrumação à agremiação na Província do Grande ABC, com eventuais reflexos em todo o território nacional.


 


O sonho de hegemonia regional do prefeito Luiz Marinho e da ala sindical que imagina controlar, mas que, de fato, o controla, precisa passar por reparos, por uma parada providencial. O avanço da cavalariça petista sobre o território de São Caetano, por exemplo, que se sobrepõe a um peemedebismo antiquado, é obra de ganância eleitoral e administrativa, e também de apurado senso de flexibilidade associado a uma espécie de GPS que tem o governo do Estado como ponto de convergência.


 


O PT virou um comboio à semelhança do bonde chamado PMDB. Com a diferença de que é muito mais orgânico, sistêmico, concentrador de poderes e definidor de metas de sustentabilidade político-econômica. O PT apenas finge que solta as amarras aos parceiros circunstanciais de jornada, para, em seguida, dominá-los e submetê-los coercitivamente ou não a seus caprichos. 


 


Tenho pensado cá com meus botões sobre se deveria escrever este texto, que, de alguma forma, serve de alerta a todos, inclusive ao PT que se amesquinha e apodrece nos tentáculos dos oportunistas incubados no seio da estrutura partidária que coordena. Não poderia fugir à luta, mesmo que isso custe caro a quem ousa não só não marchar no mesmo passo como, sobretudo, jogar limpo.


 


Independência incômoda


 


Talvez não haja jornalista mais apropriado para sugerir a contenção de ambições ao PT. Jamais flertei com a esquerda, seja moderada ou branda, e tampouco com a direita, seja conservadora ou flexível demais. Sou um tresloucado profissional do jornalismo. Entenda-se tresloucado como algo que foge à psicanálise tradicional. Trata-se simplesmente de estar na contramão dos facilitarismos comuns da prática jornalística quando domesticada pelo poder de plantão.


 


As críticas de leitores e de pessoas com as quais convivo circunstancialmente sobre minha identidade partidária (como se a tivesse) são meu diploma de imparcialidade, que também pode ser entendido como burrice crônica num mundo substancialmente materialista.


 


Cansei de ouvir e ler detratores que me excomungam porque saí em defesa de uma verdade interditada à maioria dos consumidores de informação – o assassinato do então prefeito Celso Daniel não tem relação direta alguma com a suposta (e muito mais que provável) conexão de irregularidades administrativas e de financiamento de campanhas eleitorais que marcaram aquela administração. Dizem que sou petista por ter saído em defesa de Sérgio Gomes da Silva, um inocente colocado na arena de intrigas e suposições, quando não de sentenças peremptórias.


 


Por outro lado, não foram poucos os petistas que me execraram – e ainda o fazem – quando desanco a inútil Universidade Federal do Grande ABC. Como os leitores mais assíduos destas linhas sabem de cor e salteado, o que temos são campi de uma escola federal de Ensino Superior sem a menor preocupação com a sociedade regional. Somos aquilo que tão bem definiu o professor e consultor universitário Valmor Bolan – apenas uma barriga de aluguel da FUABC.


 


Novos desperdícios


 


Pior que o que temos já em concreto e currículo da UFABC é o que nos ameaçam de ter, porque cada petista candidato a prefeito sai às páginas de jornais para propagar promessa de instalar um novo campus, pouco se lixando para a conexão entre ensino, sociedade e economia. 


 


Poderia listar um monte de questões que me colocam em alinhamento ou em rota de colisão com o Partido dos Trabalhadores. No caso, por exemplo, do esvaziamento industrial da Província do Grande ABC, os radicais de direita depositam todo o peso de reclamações e explicações nos sindicalistas comandados naquela etapa revolucionária pelo então operário Lula da Silva.


 


Fiz estudos profundos que descaracterizaram o unilateralismo desses estragos, relativizando os resultados, os quais, entretanto, jamais deixaram de constar como elementos àquelas perdas. Os sindicalistas de viés petista, notadamente instalados em São Bernardo e com espraiamento regional, ajudaram sim a afugentar o empresariado que não se dobrasse a conceitos socialistas em evidentes frangalhos na Europa Oriental. Mas daí a centralizar o ônus sobre eles, sindicalistas, esquecendo-se de outros fatores, como a negligência do governo estadual e o descaso do governo federal (de outrora e também mais recentes) no planejamento de ocupação industrial sem ceder à guerra fiscal e à queda de barreiras alfandegárias sem um mínimo de bom-senso, é tratar um copo pela metade sem a ponderação de que pode estar se esgotando como também próximo de estar cheio. 


 


Por tudo isso que exponho de supetão como breve balanço de minhas atividades profissionais a salvo das garras de ideologias sobressaltadas por agremiações partidárias, digo e repito: quanto mais vitórias eleitorais o PT comandado pelo viés sindicalista de Luiz Marinho conseguir na Província do Grande ABC, mais riscos correremos de ver o que parecia impossível: uma região ainda mais medíocre, mais provinciana, mais interditada ao contraditório, mais pendurada no prevalecimento acrítico da supremacia do Estado sobre o Mercado e sobre a Sociedade.


 


Tudo isso, é claro, muito bem disfarçado, muito bem doutrinado pelos desígnios petistas. Como já o fomos aos desígnios de capitalistas selvagens que ainda resistem com suas barricadas de idiossincrasias em cidadelas que permanecem intocáveis porque, espertos como são, não perdem tempo e fazem rapidinho parcerias. Principalmente com os petistas que, mesmo sob a artilharia pesada que os atinge no caso do mensalão, não se furtam a imantar novas e viciadas bases de combinações que ignoram a comunidade como um todo.


 


Tomara, tomara mesmo que o mensalão provoque um choque anafilático na objetividade por demais pragmática dos petistas-sindicalistas que dominam a agremiação na Província do Grande ABC.


 


Celso Daniel diferente


 


Quando oposicionista ao governo federal em 2000, o PT regional liderado intelectualmente por Celso Daniel, guardava relação respeitosa com interlocutores hostis ou pouco preparados à doutrina de esquerda. O resultado eleitoral municipal naquele ano – 5 a 2 para os avermelhados – foi a consequência natural de uma gestão desastrosa de Fernando Henrique Cardoso em relação às realidades econômicas da região. Perdemos um terço de nosso PIB Industrial e mais de 85 mil empregos do setor. Uma catástrofe que esteve distante, entretanto, de uma reação coordenada dos sindicalistas.


 


Pois bem: aquele Celso Daniel tinha a grandeza de esparramar sobre a Província do Grande ABC, a partir de Santo André, um mínimo de ecumenismo social que o diferenciava do partido que, até então, pretendia-se proprietário exclusivo da verdade, da honestidade e da coerência.


 


Agora que está mais que consolidado que o PT não é nada daquilo que se pretendia fazer crer, muito pelo contrário, porque caiu faz tempo na gandaia do vale-tudo explicitado no mensalão e que, com isso, no mínimo, empatou o jogo com as demais agremiações (com a desvantagem de que foi flagrado em delito) a proposta emanada do sindicalista de São Bernardo de ganhar as eleições na região a qualquer custo é mais que preocupante.


 


Luiz Marinho talvez um dia agradeça por eventual e esperada contenção de ânimo conquistador do PT. O aniquilamento das maiores agremiações partidárias da história percorreu mais ou menos o mesmo trajeto de gulodice.


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