O PT de São Caetano precisa perder a vergonha de ter vergonha de assumir o acordo do PT de São Bernardo, comandado pelo prefeito Luiz Marinho. Que acordo é esse? Como já informamos, o candidato oposicionista Paulo Pinheiro está tendo a campanha eleitoral tutelada pelo PT de Marinho.
Incapaz de chegar ao comando de municípios onde o voto da classe média tradicional é majoritário, o PT aliou-se ao PMDB velho de guerra, do vice-presidente Michel Temer. A operação é dissimulada, porque pesquisas garantem que o vínculo oficial seria um desastre eleitoral. Tanto que as tentativas iniciais foram refugadas. Um divórcio antes mesmo do casamento. De um casamento que se consumou informalmente. Algo como um concubinato.
É engraçado ler nos jornais que alguns petistas de São Caetano ameaçam os coordenadores da campanha de Regina Maura Zetone no âmbito da legislação eleitoral. Ingênuos ou dissimulados, dizem que não passa de ofensa o relacionamento entre petistas e peemedebistas. Quem acreditar nessa lorota precisa ganhar o Troféu Alice no País das Maravilhas.
O esconde-esconde do galope do PT de São Bernardo no lombo de Paulo Pinheiro na condução da campanha eleitoral peca pelo excesso. Lembra comportamentos de nossa infância, quando, para fugir à responsabilidade de uma traquinagem, mas colhidos em flagrante malandragem, ficamos rubros de vergonha ante nossos pais que, como não eram e não são bobos, donos de psicologia de relacionamento que a vida tanto ensina, nos aplicavam os necessários corretivos.
No caso da candidatura de Paulo Pinheiro, chegam a ser patéticas as tentativas de negar o inegável. Como nenhum crime é perfeito (e quem trata o relacionamento dos dois partidos como crime ético ou coisa parecida são Paulo Pinheiro e o PT, que fingem distanciamento), o noticiário mais corriqueiro trata de colocar os pingos nos devidos iis.
Frank Aguiar entrega o ouro
Vejam que ainda outro dia o vice-prefeito de São Bernardo, o forrozeiro Frank Aguiar, saiu a campo para apoiar Paulo Pinheiro, movido por um ímpeto desastrado, porque retirou das sombras o que tanto se pretendia manter nas sombras. Convém lembrar que Frank Aguiar é petebista, assim como Regina Maura Zetone. A diferença é que trafegam por caminhos diferentes. Frank Aguiar é um petebista avermelhado, parceiro de Luiz Marinho na chapa que concorrerá à reeleição em São Bernardo. Aliás, sua recandidatura faz parte de acordo com a cúpula peemedebista.
PT e o PMDB, os maiores bondes da política brasileira, porque carregam tudo o que veem pela frente, querem manter a aliança que se espalha por todo o território nacional e que é sintetizada na máxima de que o que é mais próximo de um precisa contar com o suporte do outro. São Caetano faz parte dessa lógica de mosaicos multicoloridos a envolver também outras agremiações à direita e à esquerda do espectro eleitoral.
O PT de São Caetano foi constrangido pelo PT de São Bernardo a tirar o time de campo na campanha ao Palácio da Cerâmica porque estava decidido que conquistar a cidadela mais classe média do Brasil é uma questão de fundamental interesse da coalizão partidária. A representatividade simbólica de São Caetano a futuras campanhas eleitorais do PT, especialmente de Luiz Marinho, de olho no Palácio dos Bandeirantes, tem significado semelhante ao trauma dos corintianos que sonhavam acordado com a conquista da Taça Libertadores. Sem um Município de classe média para chamar de seu o PT tem pesadelos. Olha-se no espelho do passado e do presente e não consegue encontrar o futuro de viabilidade ao comando do Estado mais importante da Federação. Com São Caetano no colar de municípios conquistados nestas eleições, experimentos poderão valer ouro, porque o contato direto com os contribuintes, mesmo que disfarçadamente sob suposto comando do afável mas morno Paulo Pinheiro, a mina de ouro de projeções estaria mais que disponível, estaria pronta a exploração.
Recompensa gradual
Entre os acertos envolvendo Paulo Pinheiro e os petistas de São Bernardo que viabilizaram o financiamento eleitoral da campanha, sempre com os dois principais braços de articulação de Luiz Marinho à frente, no caso Luiz Fernando Teixeira e Edson Asarias, está uma série de medidas. Até mesmo certa maleabilidade à aceitação gradual de perda de arrecadação assegurada pelos terminais da Petrobrás, em favor de Mauá do candidato petista Donisete Braga, faz parte do show de combinações. Nada que fira de morte o orçamento de São Caetano no curto prazo. Teríamos uma espécie de chuva de verão, dessas que caem mansinhas, que parece não molhar, mas que nos causam transtornos. A medida robinwoodiana será negada até a morte, claro.
Quem conhece bem o PT de São Caetano jura por todos os juros que há alguns devotos da agremiação que abominam a intromissão do PT de São Bernardo, que creem sinceramente na individualização da agremiação na campanha eleitoral, longe, portanto do peemedebismo valetudista. Esses puros, entretanto, são tratados como objetos de um museu político porque a maioria dos petistas de São Caetano apoia mesmo que envergonhadamente e, portanto, limitada aos bastidores, o incremento à campanha de Paulo Pinheiro. A recompensa, garantem os formuladores do projeto, é que, havendo governo a governar e a dividir, o PT terá a recompensa pública de preencher alguns importantes nacos da Administração. Seria o começo da tomada da Bastilha sem disfarce nas eleições seguintes.
Por isso a candidatura de Paulo Pinheiro é resumida como Cavalo de Troia. Uma expressão que os pemedebistas odeiam, os petistas rejeitam e Regina Maura Zetone consideraria perfeita para resumir o quadro político em São Caetano. Resta saber se os eleitores, senhores das decisões, captaram a mensagem. Convenhamos que não é fácil captá-la, porque Paulo Pinheiro foi meticulosamente escolhido pelos petistas pela serenidade, experiência política e uma vocação incontrolável à docilidade.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)