Política

Salles vira salvação da lavoura para
PT ir ao segundo turno contra Aidan

DANIEL LIMA - 28/09/2012

A ofensiva antiAidan em Santo André está a todo vapor. A ordem é tentar inflar a votação de Raimundo Salles para impedir que o prefeito Aidan Ravin liquide a fatura no primeiro turno. O PT cresce espasmodicamente quando faltam apenas 10 dias para as eleições ao Paço Municipal. A militância bastante ativa enfrenta a borrasca do julgamento do mensalão, ao mesmo tempo em que o partido estimula um adversário coadjuvante que está longe de alcançar esperados 20% dos votos para jogar tudo para o turno final. Conseguirá Raimundo Salles escapar do voto útil em favor de Aidan Ravin ou de Carlos Grana? É o que o PT mais quer, senão a vaca do planejamento moldado há mais de um ano vai para o brejo. 


 


O Diário do Grande ABC é o carro-chefe da empreitada que visa esticar a disputa em Santo André para um segundo turno no qual a militância e a entourage de Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo, fariam do território vizinho a concentração de uma operação de guerra. Não há quem tire da cabeça dos petistas que marcar o maior número possível de gols na Província do Grande ABC é questão de honra a embalar o sonho governamental de Luiz Marinho. Juntar-se-iam a fome hegemônica do PT de Marinho e a vontade de comer da oposição do jornal a Aidan Ravin. Bem diferente de 2008, quando o jornal apoiou Aidan Ravin e instalou o petista Vanderlei Siraque na mira de hostilidades.


 


Raimundo Salles está cumprindo o papel de coadjuvante. Vai, pelo andar da carruagem, consagrar-se como o segundo candidato do coração de petistas e petebistas. Uma espécie de Portuguesa entre os times da Capital. Está certo que é melhor do que ser um time de várzea qualquer, mas está longe de alcançar o objetivo traçado. O agora pedetista planta um pouco mais no árido terreno eleitoral de uma cidade que está institucionalmente mais morta que o restante da Província do Grande ABC. Santo André é o suprassumo da inoperância, da inapetência, da acomodação e dos acertos, quando não de conchavos indecorosos, simbolizados pelo escândalo do Semasa. Poucas instituições driblam esse perfil de desencanto.


 


Distribuição semelhante


 


Conta o PT de Santo André com a maioria dos votos destinados a Raimundo Salles no primeiro turno. Por isso levar o jogo para um segundo tempo é questão vital. O problema é que faltou combinar com os russos. A pesquisa publicada ontem pelo Diário do Grande ABC, a qual li sem a devida concentração e sobre a qual não corro o risco de maiores incursões até que o final de semana chegue e me dedique a decifrá-la, diz que há certa igualdade dos eleitores de Raimundo Salles em distribuir eventual preferência no segundo turno. Petistas e petebistas seriam contemplados em proporções semelhantes.


 


Isso significa que, caso consiga mesmo prorrogar a disputa, Raimundo Salles terá que posicionar-se rigorosamente em favor de uma das duas candidaturas finalistas. Como se sabe, firmou um pacto com os petistas. Dificilmente deixará de honrá-lo, entre outros motivos porque condicionaria o apoio a futuros passos na política, já que não desistirá jamais de seguir em frente. E como os petistas fazem qualquer negócio para Carlos Grana ocupar o gabinete hoje de Aidan Ravin, certamente Salles contará com aparato logístico e financeiro considerável à provável corrida rumo a uma vaga de deputado federal.


 


Possivelmente o grande pecado cometido por Raimundo Salles nestas eleições tenha sido a demora em sair do ponto morto de abrandamento crítico da gestão de Aidan Ravin e também da omissão às estripulias do PT de Santo André, sobretudo durante a Administração João Avamileno. Salles fugiu demais às características que marcaram sua carreira política. A estridência deu lugar à discrição, a insatisfação foi sufocada pela contemplação, a idiossincrasia foi suplantada pela generosidade. Tudo isso soou falso. Quando resolveu voltar ao estado normal, à origem de sua essência, parece que já era tarde. O que é genuinamente autêntico ganhou a forma de marketing mequetrefe. Os adversários adoraram. E o PT comemora a descaracterização daquele que viam como indomável contratempo.


 


Indefinições atrapalharam


 


O ziguezague tático de Raimundo Salles comprometeu a solidez estratégica da campanha. A aproximação com o PT foi um equívoco estrondoso porque precoce demais, antes mesmo da largada oficial da disputa, quando o quadro político municipal, regional e, principalmente nacional, estava longe de ser desenhado. Possivelmente o eleitorado decepcionado com a Administração Aidan Ravin e avesso ao petismo tenha se desencantado além da conta com Raimundo Salles, porque não o decodificou como a chave de esperança de novos dias para Santo André. Colocou-o entre os dois extremos dos candidatos agora favoritos sem, entretanto, arriscar adotá-lo porque sentiu possivelmente docilidade demais na alternativa. Salles fermentou a indecisão quando substituiu a brasa pelo gelo. 


 


Fosse Santo André e a Província do Grande ABC um todo dotado de mídia de massa que contemplasse espaço ao horário eleitoral obrigatório, possivelmente Raimundo Salles teria saltado do patamar de votos mais que decepcionante. Advogado com ótima articulação verbal e estudioso na arte do convencimento, Raimundo Salles tem o potencial limitado demais nas páginas de jornais impressos e digitais. Os eventos públicos como debates são uma camisa de força à impetuosidade e ao detalhamento de propostas pela exiguidade de tempo e amarras regulamentares.


 


Resta a Raimundo Salles ir ao segundo turno com as vestes do PT de Carlos Grana e torcer para o eleitorado de Santo André dobrar-se majoritariamente a uma eventual gestão que, confesso, não me dá a menor confiança de dias melhores. O PT de Santo André, tutelado pelo PT de Luiz Marinho, é apenas um arremedo do PT deixado por Celso Daniel e esvaziado por João Avamileno. Trata-se de uma agremiação medíocre na estrutura e sofrível na concepção de futuro que, em desespero, agarra-se como náufrago ao legado de Celso Daniel sem se dar conta de que o tempo passou, as demandas se alteraram e não seria simplesmente a réplica de um governo fazedor de obras como Luiz Marinho que alteraria de forma significativa o futuro de uma cidade há décadas sem futuro.


 


Santo André, como São Bernardo e os demais municípios da Província, precisa de obras e de intelecto. Os orçamentos aditivados por recursos estaduais e federais garantem as obras. Já a inteligência abrangentemente transformadora precisa ser garimpada numa sociedade esfacelada. Algo como procurar agulha em palheiro porque os medíocres tomaram conta do pedaço e sufocam qualquer tentativa, sempre isolada, dos inconformados.


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