O empresário (é dono de um supermercado de médio porte na periferia de Santo André) Gilberto Wachtler Primavera concorre à reeleição como vereador certo de que a forte característica de distritalização do voto nos Legislativos não tem os supostos mandatários na proporção alardeada. Entenda-se por distritalização do voto o predomínio de vereadores (e também de deputados estaduais e federais) representativos de determinadas áreas eleitorais, às quais dirigem seus interesses e contrapartidas em detrimento do conjunto do território geográfico no qual se inscreveu.
Para Gilberto Primavera, como é mais conhecido, a tematização da atuação no Legislativo de Santo André o está afastando da faixa dos distritais puros. Para assegurar-se de que romperá cada vez mais as fronteiras de um eleitorado fisicamente mais próximo, Gilberto Primavera acredita na força multiplicativa da tecnologia que envolve as redes sociais, ferramental ao qual dedica especial atenção.
Gilberto Wachtler Primavera foi ouvido nesta Entrevista Especial de CapitalSocial por conta principalmente da candidatura à reeleição. Trata-se de uma maneira de levar aos leitores um padrão de legislador municipal que foge à característica da maioria. Gilberto Primavera é químico por formação mas tem o empreendedorismo como sustentáculo de atividades. Cristalinamente transparente, Gilberto Primavera utiliza-se da franqueza pouco usual entre os políticos, a ponto de dispensar o que chama de voto de baixa qualidade. "Preferimos 10 votos de qualidade a 10 mil votos desqualificados" -- diz.
Até que ponto a forte distritalizacão do voto para vereador é saudável para a democracia e, sobretudo, para a estruturação ou mesmo a reestruturação dos municípios? Entenda-se por distritalização do voto para vereador a divisão informal dos munícipios em microterritórios nos quais Os candidatos atuam diretamente em suas respectivas bases para amealhar votação.
Gilberto Primavera -- O vereador deve trabalhar para a cidade toda. A divisão de pequenos redutos eleitorais é natural por conta da origem do candidato; mas o eleitor vem rompendo essa fronteira de micro regiões e escolhendo melhor, analisando as propostas e optando realmente pelo candidato mais preparado. E comum ouvir que determinada região "é" do fulano de tal, mas quando chegamos à região vemos que apenas uma parte próxima ao candidato o tem como representante. O restante, que representa a maioria daquela região, está desamparada e opções por conta da falsa ideia de que é um reduto de um ou de outro. Trabalhamos bastante por segmentos e não por regiões, atingindo Santo André inteira.
É óbvio que a mudança a evolução do eleitorado ainda é discreta, levará algum tempo, mas, com a evolução da tecnologia, meios de comunicação, internet e outros mecanismos, aos pouco vai melhorar e muito. Hoje, infelizmente, ainda impera o regionalismo e assistencialismo nas eleições proporcionais municipais.
Essa distritalização é prejudicial para Município, pois o vereador de redutos tende a trabalhar apenas para o seu reduto, nem sempre de maneira ética, às vezes assistencialista, o que faz com que a cidade trabalhe em soluções pequenas, sazonais e fragmentadas ao invés de se unir em um macro plano para solucionar os problemas de maneira coletiva e para a cidade toda.
Por conta da situação posta, ou seja, de que é indispensável contar com microterritório para eleger-se, como o senhor planeja disputar urna nova eleição?
Gilberto Primavera -- Apesar de ter atuado expressivamente na região onde fui projetado, o 2° Sub Distrito, até por conta da cobrança, pelo compromisso assumido e pela carência de políticas públicas na região, também realizei grandes projetos em outras áreas da cidade, sempre buscando melhorar o dia a dia da população.
Tento romper essa barreira do microterritório atuando na cidade toda, segmentando-a em grupos como, por exemplo, o grupo Melhor Idade Primavera, que criei há dois anos e que busca, além de melhoras na qualidade de vida de nossos idosos através da prática de exercícios, implementar cultura, informação e lazer a todos eles, podendo citar que tem aulas de informática, dança e realizam diversos passeios.
Posso citar também a comunidade Pet Primavera, que cuida dos animais abandonados, maus tratos, castração, vacinação, campanhas de adoção de animais.
Minha campanha está focada principalmente em divulgar nosso trabalho neste primeiro mandato. A campanha está distribuída em toda a cidade, nosso atendimento, meu e de minha equipe, nunca teve divisas de bairros. Atendemos o munícipe onde ele precisa. Claro que o segundo subdistrito é a região que melhor me conhece, e por esse motivo o reconhecimento aparece mais.
O balanço positivo do primeiro mandato nos dá certeza pela resposta que temos nas ruas. Recebemos muitos elogios dos munícipes, principalmente pela resposta que damos sempre a tempo aos munícipes, entendemos que as pessoas merecem satisfação. Nosso site www.gilbertoprimavera.com.br e Facebook Gilberto Primavera transmitem sempre os resultados das dezenas de ações que realizamos.
Cada voto é por nós comemorado. Peco para minha equipe buscar o voto de qualidade. Voto de qualidade é o voto das pessoas que sabem o porquê estão votando, tenham a certeza de que o voto é justo e merecido. O voto de qualidade vem de pessoas de qualidade, pessoas que não se deixam levar por promessas inconvenientes e eleitoreiras. Preferimos 10 votos de qualidade a 10 mil votos desqualificados. O futuro politico de uma cidade deve buscar qualificação de ideias e propostas. Esperamos muitos votos bons, pois semeamos sementes da melhor qualidade.
Quatro anos depois do primeiro mandato a que foi conduzido a Câmara Legislativa de Santo André, o que mudou em sua concepção de empresário, de cidadão e de político? E possível dividir sua vida em três pedaços que não se interagem ou não ha escapatória: tudo está num mesmo invólucro?
Gilberto Primavera -- A constatação da ingerência dos poderes é inadmissível ao olhar do empresário e do cidadão. Como empresário, entendo que essa mistura, empresário e politico, é sempre saudável e muito interessante. Figuras políticas que nunca administraram nenhum carrinho de pipocas, com todo respeito aos pipoqueiros é o resultado do desastre administrativo dos governantes.
Entendo que, como empresário, lidamos com as dificuldades do dia a dia de mercados competitivos e aprendemos a gerir grandes projetos, e no Poder Público é diferente. No dia em que fizermos mais Administração Pública e menos politicagem, acredito que o País melhore. É preciso administrar a cidade como uma empresa, com arrecadação, gastos, metas, projetos e o principal, satisfação dos clientes, que nesse caso se traduz na satisfação plena da população. Ternos obrigação de atender aos anseios da população.
Por que há tanta dificuldade à composição de uma Câmara Legislativa Regional para introduzir o debate de temáticas além-fronteiras municipais?
Gilberto Primavera -- Vaidade, individualismo, deseducação e falta de qualidade dos legisladores. É óbvio a necessidade de pensamentos e atitudes públicas regionais, óbvio também a dificuldade diante da ausência de um maestro, um prefeito com poder de liderança e articulação no eterno Consórcio inoperante.
Enquanto não realizarmos politicas públicas de maneira regional e cooperativa, teremos resultados fragmentados e pequenos, que, efetivamente, não resolverão os problemas do ABC.
Os partidos políticos são todos iguais?
Gilberto Primavera -- Acho que os políticos são todos iguais. A dificuldade em sair do modelo inoperante, burocrático e perverso do viciado sistema politico, unido à pouca exigência social, enterrou a ideologia partidária. Escolhas partidárias são feitas por conveniência eleitoral, mais nada.
Se tivesse de listar as três maiores preocupações da população com a qual mantém diálogo permanente, quais seriam as escolhidas?
Gilberto Primavera -- Na ordem: saúde, segurança e trânsito. Três questões que, tratadas de forma regional, dariam ganho extraordinário ao Grande ABC.
É possível acreditar que chegaremos algum dia a urna institucionalidade que garanta mudanças profundas na maneira com que é conduzida a politica de integração regional?
Gilberto Primavera -- Sim, é o caminho natural. A qualidade deve ganhar espaço à medida que a sociedade adquira também qualidade. Educação, essencialmente Os ganhos educacionais, prepararão as próximas gerações, arremetendo as instituições à integração regional.
Qual é a sua avaliação sobre a criação da Universidade Federal do Grande ABC? Somos críticos a ausência de regionalidade na UFABC. O senhor entende que devemos formar apenas cérebros para o Brasil ou a região teria de ter prioridade absoluta, voltando-se os currículos ao setor de produção?
Gilberto Primavera -- A UFABC deveria formar profissionais que não só atendessem principalmente as demandas locais, mas que transformassem a região em um polo de mão de obra qualificada com o objetivo de colher os louros do pré-sal e atrair indústrias de diversos setores, como tecnologia por exemplo.
O senhor continua sofrendo como pequeno empresário do setor mercadista? A competição com as grandes redes tornou-se mais cruel ou houve alguma mudança que lhe permitiu ganhar fôlego?
Gilberto Primavera – Continuo sofrendo e muito. Trata-se de uma concorrência desleal. As grandes redes identificaram o potencial regional, de bairro, e estão investindo pesado nas pequenas lojas As grandes redes possuem centro de compras especializado, compram em volume e escravizam os fornecedores, comprando no preço que querem e para pagar quando querem, tornando-se muito competitivos no quesito preço, mas, com a impessoalidade das lojas, acabam dividindo espaço com o pequeno e médio, que, com muita criatividade, trabalho e diferencial no atendimento, acaba fidelizando a clientela.
É importante frisar que o pequeno e médio empresário é responsável por sete em cada 10 empregos no País, e arca com uma carga tributária desumana. Deveriam ser criadas politicas públicas para favorecer o pequeno e médio empresário, que é a locomotiva do Brasil, além de auxiliá-lo a manter seu negócio e continuar gerando emprego e renda para os munícipios e para o Brasil. Muitos fecham as portas por não conseguirem arcar com Os altos custos, principalmente de impostos.
O senhor tem alguma conclusão a respeito da inserção do trecho sul na geografia regional? Nossa avaliação é que não nos preparamos para a obra e seguimos apenas contemplando o trajeto corno uma interligação entre o Planalto e a Baixada Santista, com alguns efeitos residuais a economia da região, entre outras razões porque só ternos três alças de acesso e mesmo assim distantes do perímetro urbano, ao contrário do trecho oeste, que tem Osasco como principal beneficiária.
Gilberto Primavera – O Rodoanel para a região do ABC, mais ainda para Santo André, não cumpriu o papel de proporcionar investimento e desenvolvimento para a região, pois não nos preparamos para recebê-lo e nossos legisladores estaduais não interferiram no projeto para alinhar geograficamente a passagem pela região, aproximando-o mais dos perímetros urbanos. Ao contrário de nós, no outro trecho, que engloba Barueri e Osasco, que se prepararam para recebê-lo, o resultado é outro, muito mais renda chegou à região. Ficamos inertes e o que temos hoje é um aparelho que resolveu apenas o problema de deslocamento da classe media em carros de passeio e no um complexo logístico potencial que poderia ser, tendo em vista a proximidade do porto e interligação importante com as principais rodovias do País.
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10/05/2024 Todas as respostas de Carlos Ferreira