Política

Meus votos: Salles, Marinho, Reali,
Regina, Vanessa, Saulo e Maranhão

DANIEL LIMA - 03/10/2012

Promessa feita, promessa cumprida. Estou abrindo os votos que consumarei nas eleições de domingo na Província do Grande ABC. Certamente não faltará quem interpretará o festival de agremiações partidárias relacionadas aos candidatos como uma montanha de incoerências, mas não é bem assim. Estou seguindo a trilha lógica de que ideologia não se põe na mesa nesses momentos. Mais ainda: esse negócio de direita versus esquerda virou uma algazarra tão grande na corrida aos votos que desfraldá-lo em nome da coerência não passaria de oportunismo. Estão aí o mensalão em julgamento e tantos mensalões e mensalinhos que dominam a política nacional a me assegurarem coerência.


 


Confesso que a escolha dos concorrentes em cada Município da Província do Grande ABC não guarda qualquer relação com o bem mais precioso que deveríamos acalentar e que já foi para a cucuia há muito tempo: a regionalidade implícita e explícita de nosso território. Se escrevesse que o tom a marcar as sete escolhas é composto de critérios observados em defesa e no estímulo à integração regional, estaria mentindo.


 


Poucos desses candidatos escolhidos por mim (e também os preteridos) se referiram durante os últimos três, quatro meses, de forma enfática sobre questões de cunho regional. O municipalismo autárquico prevaleceu porque é assim, infelizmente, que o próprio eleitorado exige nesse período em que promessas valem mais que prudências. Somos uma Província subdivida em sete pedaços que se fingem comunicar. O intermitente moribundo Clube dos Prefeitos, inutilidade que se junta à desativada Câmara Regional do Grande ABC, é a expressão maior da flacidez integracionista.


 


Vou votar nesses sete candidatos por razões que tentarei explicar. Sem escravagismo partidário, sem medo algum dos atiradores de sempre que não saltam do muro, têm inveja dos que saltam mas para não ficarem mal na fita se fingem de equilibrados, de coerentes. São covardes juramentados porque é da omissão que retiram o combustível das estocadas particulares e corporativas.


 


Salles regenerador? 


 


Voto em Raimundo Salles em Santo André porque não há sequer outro candidato que se rivalize com ele na potencialidade de dar um choque de gestão e principalmente de reformismo no Município mais apático, mais vergonhosamente apodrecido da Província do Grande ABC. Santo André, outrora Capital Política, outrora Capital Econômica da Província, virou casa de sogra. A Administração Aidan Ravin é um desastre e sucede uma Administração João Avamileno de péssimas lembranças. A alternativa representada por Carlos Grana, do PT, é uma combinação de velharias ideológicas e oportunismos escancarados. Juntou-se o pior da esquerda com o conservadorismo corporativista dos incapazes. É uma coalizão do caos que só seria salva em caso de vitória por uma intervenção do que sobrou de experiência individual, partidária e administrativa de alguns herdeiros de Celso Daniel que estão fora de Santo André. Raimundo Salles exagerou na campanha eleitoral ao promover festival de propostas que não cabem no bolso do paletó do orçamento municipal, mas, infelizmente, isso faz parte do jogo. Político que subestima a criatividade e leva a ferro e forro a viabilidade de investimento durante a campanha eleitoral é mal visto, porque o eleitorado gosta de sonhar.  Houvesse uma Lei de Responsabilidade Eleitoral, tudo seria diferente.


 


Marinho desafiado


 


Voto em Luiz Marinho em São Bernardo porque pretendo lhe dar mais quatro anos para ver até onde chega como líder esquerdista na região e até onde ganhará fôlego para tentar disputar o governo do Estado em 2018 ou mesmo em 2014, caso Fernando Haddad vença as eleições em São Paulo. Luiz Marinho foi previdente e certeiro na programação de uma montanha de investimentos em São Bernardo, quase tudo com dinheiro do governo federal. Mérito dele, ao contrário do que negam seus opositores, porque soube extrair o máximo de uma assessoria de planejamento comandada informalmente pela hoje ministra Miriam Belchior. Luiz Marinho terá quatro anos para tentar se aproximar do brilho de Celso Daniel que, com muito menos e em contexto completamente diferente, de regime de pão e água do governo Fernando Henrique Cardoso, plantou e até mesmo fez colher série de iniciativas que foram muito além de obras físicas. Marinho fez algumas arremetidas das quais terá de dar conta. Um polo da indústria petrolífera, um aeroportozão, uma ramificação da indústria de defesa, entre outras iniciativas, deverão ficar apenas no plano teórico porque, entre outras razões, falta à Administração capacidade técnica para desenhar um modelo de intervenções práticas. Luiz Marinho tem de sobra o que faltou a Celso Daniel – disponibilidade de recursos – mas lhe falta tudo que o então prefeito de Santo André tinha – uma imensa capacidade de gerar ideias, propostas e intangíveis fluídos de grandeza à reestruturação do tecido econômico e social da região. Mais quatro anos seria um período apropriado para consagrá-lo ou metê-lo de vez na vala comum dos fazedores de obras.


 


Regina transparente


 


Voto em Regina Maura Zetone em São Caetano por conta da continuidade de uma gestão vitoriosa de José Auricchio Júnior, prefeito que implantou um dos maiores programas sociais da história da região exatamente num Município em que todos consideravam a intervenção do Estado, ou seja, municipal, absolutamente dispensável. O Profamília é uma espécie melhorada do Bolsa Família que José Auricchio Júnior produziu para uma sociedade local como espécie de reprimenda, chamando a atenção de todos para os bolsões de pobreza do Município de melhor qualidade de vida da infernal Região Metropolitana de São Paulo. O voto endereçado a Regina Maura tem, portanto, relações especiais com o desempenho de Auricchio, mas em maior grau se deve a ela mesma, técnica de primeira, profissional séria e competente. Uma Regina Maura que é considerada arrogante porque há eleitores absolutamente incoerentes, já que criticam os demagogos de plantão e quando encontram alguém que não lhes faz promessas, que não doura a pílula, que não projeta o irrealizável, acabam zangados. O voto a Regina Maura é também um obstáculo ao programado bom-mocismo do candidato de oposição, Paulo Pinheiro, lubrificado pela máquina petista que pretende tornar a Província do Grande ABC um monolítico espaço de manobra partidária com objetivos que fogem à geografia regional. Regina Maura simboliza a continuidade com aperfeiçoamentos, porque expressa volúpia de racionalidade que Paulo Pinheiro jamais ofereceu a São Caetano em duas décadas de intimidades com o Paço Municipal.


 


Reali complementador


 


Voto em Mário Reali porque entendo que o PT ainda não encerrou o período de grandes mudanças que Diadema exige. São quase três décadas de poder da esquerda no Município mais problemático da região, juntamente com Mauá. Mário Reali equacionou alguns dramas orçamentários de Diadema, provocados por restos ideológicos do PT dos tempos de Gilson Menezes, caso específico do transporte coletivo municipalizado e falido, e segue firme e forte na obtenção de um equilíbrio maior na área social. Diadema é uma obra do acaso, do improviso, da ocupação desregrada, por isso exige mesmo olhares sociais mais aguçados. Sob o ponto de vista econômico, os esquerdistas já não são os mesmos e começaram a entender que sem empreendedores não há futuro. Falta à Administração Reali algo semelhante ao que ocorre nos demais paços municipais: uma força-tarefa que dê novos contornos ao setor produtivo e prestador de serviços. Um diálogo mais permanente e maduro com forças à direita seria uma prova de maturidade do PT local.


 


Vanessa mais confiável


 


Voto em Vanessa Damo porque quero sentir a sensibilidade de uma mulher à frente de um Município embrutecido por correntes partidárias autofágicas. Relações históricas do pai da candidata com as mazelas de Mauá não podem ser particularizadas como exemplo único que obstaria a preferência pela deputada estadual, já que esse é o figurino padrão naquele Município. Vanessa Damo é a candidata mais apetrechada a evitar a vitória do PT em Mauá. E por que evitar a vitória do PT em Mauá? Porque o candidato Donisete Braga, também deputado estadual, participou de uma operação desavergonhada para desalojar o prefeito Oswaldo Dias da tentativa de reeleger-se. Em conluio com o prefeito Luiz Marinho e seu grupo de apoiadores financeiros, Donisete Braga não mediu esforços para derrubar um companheiro de partido sob a alegação de que havia rejeição de grande parte do eleitorado. Uma rejeição, diga-se, naturalmente elevada por conta dos mandatos de Oswaldo Dias. O poder desgasta, e o poder petista desgasta ainda mais. Nada, entretanto, insolúvel. A queda de Oswaldo Dias transformou-se em profecia realizada, porque o liquidou de vez e só fez aumentar a carga de restrições do eleitorado. Donisete Braga só se esqueceu do efeito-contaminação, o qual só será superado com muito dinheiro de campanha, com Lula da Silva nos palanques, com Luiz Marinho por trás. E mesmo assim com risco de derrota.


 


Saulo e Maranhão


 


Para completar, voto em Saulo Benevides à Prefeitura de Ribeirão Pires e em Gabriel Maranhão à Prefeitura de Rio Grande da Serra. São escolhas sem muita consistência, mas são escolhas. Saulo Benevides porque é o candidato mais apropriado a impedir o retorno da petista Maria Inês Soares ao cargo, depois de desastrados oito anos. Foi Maria Inês, então presidente do Clube dos Prefeitos, a atrapalhada e autoritária condutora interna da implantação da Universidade Federal do Grande ABC, esse elefante branco que não representa nada para o futuro da economia e da sociedade da região. Benevides caiu na besteira de prometer um aeroporto na vizinhança da matadora Rodovia Índio Tibiriçá, mas nem essa excentricidade o retira de minha preferência. Até porque, se o fizesse, teria que jogar fora a candidatura de Luiz Marinho, que prometeu um aeroportozão em São Bernardo igualmente dominada pelos mananciais. Quanto a Rio Grande da Serra, o candidato Gabriel Maranhão, com o suporte de Kiko Teixeira, o prefeito mais bem avaliado da Província, me parece bem mais apetrechado que o petista identificado pelo nome-alcunha de Claudinho da Geladeira.


Leia mais matérias desta seção: Política

Total de 863 matérias | Página 1

17/09/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (9)
16/09/2024 Três versões de um debate esclarecedor
14/09/2024 GILVAN SOFRE COM DUREZA DO DEBATE
13/09/2024 Voto Vulnerável é maior risco de Gilvan Júnior
12/09/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (8)
10/09/2024 Gênios da Lamparina querem subprefeituras
10/09/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (7)
06/09/2024 Largada eleitoral para valer vai começar agora
06/09/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (6)
04/09/2024 É a Economia, Marcelo, Luiz Fernando e Alex!
04/09/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (5)
02/09/2024 QUAL É O PREÇO DE FORA BOLSONARO?
02/09/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (4)
30/08/2024 Marcelo Lima responde ao UOL como prefeito
30/08/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (3)
28/08/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (2)
27/08/2024 Luiz preocupado com Luiz indicado por Luiz
26/08/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (1)
20/08/2024 Seis armas de Zacarias que tiram sono do Paço