Política

Prorrogações vão desempatar jogo
eleitoral na Província. Quem vence?

DANIEL LIMA - 08/10/2012

Urnas apuradas, jogo inacabado: três dos sete municípios da Província do Grande ABC levaram à prorrogação a disputa eleitoral entre petistas e oposicionistas. Uma vitória de Luiz Marinho abaixo da expectativa numérica em São Bernardo, muito longe da marca consagradora de William Dib nas eleições de 2004, e o esperado triunfo em São Caetano, com um Paulo Pinheiro disfarçado de peemedebista, asseguraram dois gols, mas o PT sofreu dois reveses igualmente esperados, embora menos impactantes: em Ribeirão Pires na vitória do peemedebista Saulo Benevides ante Maria Inês Soares, e em Rio Grande da Serra com o tucano Gabriel Maranhão ante Claudinho da Geladeira. Mário Reali foi surpreendido pelo verde Lauro Michels, enquanto Carlos Grana e Donisete Braga chegaram à frente em Santo André e em Mauá mas ainda estão longe da segurança de que são gols certeiros. O jogo regional está empatado e tanto pode terminar em goleada como em placar apertado. Como o foi há quatro anos, quando os azulados (tucanos e afinados) venceram os petistas (ainda sem as misturebas pontuais de agora) por 4 a 3.


 


O prefeito Luiz Marinho ficou frustrado com o resultado, porque os 65,79% de votos válidos (contra 30,94% de Alex Manente) não foram exatamente o esperado. Ficou o placar muito aquém da vitória do agora tucano William Dib, que, em 2004, obteve 76,37% dos votos válidos ante o petista Vicentinho Paulo da Silva. Se São Caetano compensou em parte a decepção de Luiz Marinho, enquanto Santo André e Mauá acalentam a esperança de vitórias importantes, Diadema também entra na contabilidade de prejuízo parcial. A diferença do petista Mário Reali para Lauro Michels é estreita demais e, em tese, desvantajosa, porque os tucanos representados por Maridite Oliveira registraram 9,48% dos votos e são apoio certo ao oposicionista de família tradicional na cidade.


 


Resultado arriscado


 


Quem quiser arriscar palpite para o placar final do jogo eleitoral na Província do Grande ABC que o faça. Prefiro não avançar, mas não deixo de expor algumas possibilidades, além da que já o fiz em relação a Diadema. Quem ajudará a decidir em Santo André é o eleitorado de Raimundo Salles. Somente um detalhado mapa dos votos do pedetista proporcionaria segurança avaliativa. Se a maioria dos sufrágios saltou dos bairros mais tradicionais, de maior escolaridade e economicamente mais fortes, provavelmente Aidan Ravin ganharia a disputa.


 


Em Mauá o jogo é muito mais intrincado porque a classe média tradicional é muito menos representativa do que em Santo André. Praticamente um quarto dos votos válidos do primeiro turno foi destinado a quatro candidatos que ficaram no meio de caminho. É voto demais a distribuir. A diferença de menos de cinco pontos percentuais favoráveis a Donisete Braga é escassa para assegurar favoritismo. Tudo vai depender de composições.


 


Sabe-se que o PT está carregadíssimo de dinheiro, concentrado numa estrutura arrecadatória gerida por Luiz Fernando Teixeira e Edson Asarias, homens de confiança do prefeito Luiz Marinho. O regionalismo de Luiz Marinho está longe de assemelhar-se ao regionalismo de Celso Daniel. O ex-sindicalista só quer votos e obras, enquanto o maior prefeito regional da história da Província dedicou-se intensamente, até cansar, à integração econômica, social, institucional, estratégica e muito mais.


 


Haddad vai atrapalhar


 


A transposição da candidatura de Fernando Haddad para o segundo turno em São Paulo é excelente como perspectiva de o PT reassumir uma Prefeitura estratégica e fortalecer-se na campanha presidencial em 2014 e também na disputa do governo do Estado em 2014. Entretanto, pode ser um complicador a mais para as campanhas petistas de segundo turno na Província do Grande ABC. O partido vai ser bombardeado antes, durante e depois de novas condenações da cúpula política que comandou o mensalão, em fase decisiva de julgamento. Os estragos serão potencializados com a campanha na TV.


 


O candidato José Serra não vai abrir mão de um prato tão apetitoso, como já antecipou no discurso de ontem à noite. Aidan Ravin, Lauro Michels e Vanessa Damo deverão beneficiar-se do contexto. O PT regional vai ter de trabalhar dobrado nas zonas mais periféricas porque a classe média já ostensivamente restritiva ao partido aumentou os índices de desaprovação. Sem Haddad no segundo turno paulistano o PT perderia um potencial prefeito, mas sentiria menos os impactos do programa eleitoral de TV. É claro que a troca favoreceria ao PT regional, mas seria um contrassenso ao grupo majoritário comandado por Lula da Silva. Afinal, o orçamento e a visibilidade da Capital são insumos que sensibilizam novos aliados e voos muito mais interessantes.


 


Votos desperdiçados


 


Um fator importante que torna os segundos turnos em Santo André, Diadema e Mauá sujeitos a alterações significativas é o total de votos desperdiçados no primeiro turno. Entre votos em branco, nulos e abstenção, ou seja, não comparecimento de eleitores, os três municípios registraram números extravagantes. Em Santo André foram 177.026 votos, ou 31,97% do total de eleitores. Mauá registrou números relativos ainda maiores: foram 32,23% -- um total de 94.498 votos desperdiçados. Em Diadema foram 94.836, ou 29,60% do eleitorado.


 


Em circunstâncias normais o segundo turno apresenta queda significativa de votos desperdiçados. Um exemplo pode ser retirado da vitória de Aidan Ravin em Santo André, em 2008. Ele virou um jogo praticamente impossível depois de terminar o primeiro turno com 21% dos votos, contra 48,90% do petista Vanderlei Siraque. Entre as razões que pesaram na reviravolta do segundo turno, quando Aidan Ravin alcançou 56% dos votos válidos, foi a recomposição numérica do eleitorado. Dos 30,07% votos em branco, nulos e de abstenção no primeiro turno, sobraram apenas 12,75% no segundo turno, quando 390.323 votos válidos foram registrados de um total de 447.352 eleitores, ou 87,25% do total.


 


Não há estudos científicos que identifiquem o perfil de acomodação ou mesmo de desencanto dos eleitores no primeiro turno e as mudanças de comportamento no segundo turno. Mesmo assim não faltam conjecturas. Para os antipetistas, a perspectiva seria das melhores. Eles acreditam que a maior parcela de eleitores que anulam o voto ou votam em branco, e também dos que não comparecem às urnas na primeira rodada, é composta principalmente por quem condena a escalada de escândalos na política. Como o julgamento da fatia mais importante do mensalão vai se dar justamente durante os preparativos para o segundo turno, Aidan Ravin, Lauro Michels e Vanessa Damo contam com o que os marqueteiros chamam de efeito-STF nas urnas. Já os petistas desqualificam essa teoria, mas já trabalham com a possibilidade de enfrentamento de uma leva retardatária de eleitores adversários.


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