Política

Para onde vão mais de meio milhão
de votos perdidos no primeiro turno?

DANIEL LIMA - 15/10/2012

Há mais de meio milhão de votos sem donos no segundo turno das eleições em Santo André, Diadema e Mauá. Para onde vão esses eleitores que não compareceram às urnas, votaram em branco, anularam votos ou votaram em candidatos que não passaram para a etapa final?


 


É uma montanha de eleitores desiludidos, cansados, descuidados, derrotados e desprezados. Até que ponto a redução desse contingente, que deverá se dar em mais de 50%, conforme os resultados municipais de 2008, poderá modificar a ordem do primeiro turno? 


 


Seriam os candidatos petistas, presentes nos três locais, beneficiados pela ação de militantes ou duramente atingidos pelos eleitores de olhos e ouvidos nas repercussões do julgamento do mensalão? Esse é um ponto nuclear que os institutos de pesquisas, tão frágeis nas prospecções do primeiro turno, deverão desvendar.


 


Em Santo André, onde o petebista Aidan Ravin e o petista Carlos Grana disputam o segundo turno, foram 262.887 eleitores (47,47%) que se recusaram a votar nos dois finalistas no primeiro turno. É gente para caramba. A grande maioria (190.547) é composta de votos em branco, nulos e abstenções. Os demais foram destinados a concorrentes que não ultrapassaram a barreira ao segundo turno.


 


As três semanas que separam o primeiro do segundo turno deverão marcar intensa ação de corpo a corpo dos concorrentes. A possibilidade de eleitores que votaram num dos dois finalistas trocar de preferência é pouco provável. Mas há quase o mesmo tanto de eleitores sem compromisso com o passado recente de escolha, gente sem nenhuma preocupação em manter suposta fidelidade, gente que se resolver ir às urnas para valer, comparecendo e votando tecnicamente certo, pode mudar o rumo dos acontecimentos. 


 


Em Mauá, onde a peemedebista Vanessa Damo e o petista Donisete Braga jogam um jogo pesado para substituir o petista Oswaldo Dias, nada menos que 51,05% do eleitorado não foram às urnas, votaram em branco, anularam o voto ou votaram em outros candidatos no primeiro turno. São 149.658 votos num total de 293.143 disponíveis.


 


Já em Diadema, onde o prefeito Mário Reali, do PT, concorre à reeleição ante o jovem Lauro Michels, do PV, o percentual de votos que se enquadram no conjunto daquelas categorias de perdas alcança 37,66%. São nada menos que 29,60% como somatório de votos em branco, votos em branco e abstenções. Os demais não apareceram para votar.


 


Custos do mensalão


 


O que se pergunta, dada a proximidade territorial e a influência televisiva da campanha de segundo turno na Capital entre o petista Fernando Haddad e o tucano José Serra, é até que ponto haverá contaminação em parte do eleitorado, principalmente desse conjunto de votos menos convictos e, supostamente, mais sensíveis à análise crítica? Os custos eleitorais do mensalão ainda não terminaram para o PT. Os julgamentos vão prosseguir e se projeta para as vésperas das eleições em segundo turno a condenação da então cúpula do partido, José Dirceu à frente, por formação de quadrilha. A expressão é forte e toca fundo no eleitorado menos letrado e de menor renda, mais densamente petista.


 


Os finalistas paulistanos já deram a dica sobre o que pretendem no palanque eletrônico retomado nesta segunda-feira: a campanha de José Serra vai explorar ao máximo o mensalão, enquanto os marqueteiros de Haddad querem dar o troco ao destacar o mensalão dos tucanos, em Belo Horizonte, fonte inspiradora da ação petista. É claro que haverá potencialmente mais complicações para o PT, embora um ou outro articulista político, mesmo não diretamente envolvido com os dois candidatos, prefira minimizar a situação.


 


A contraofensiva planejada pelo PT para tentar reduzir o grau de estragos do mensalão é a força motriz da militância, empenhadíssima em contrapor-se ao que chama de tentativa de golpe do Judiciário. A pretendida rebeldia comandada por José Dirceu foi abafada. Chegou-se a planejar algo estrondoso, que atingiria frontalmente o Supremo Tribunal Federal, mas a medição entre prós e contras foi sensatamente diagnosticada: o PT só teria a perder com revanches no período de linha de chegada eleitoral.


 


Exploração do filão


 


Acreditar que o mensalão não terá influência na Capital e nos municípios tão tradicionalmente sob a influência do PT, como Santo André, Mauá e Diadema, é um discurso que nem mesmo os seguidores de Lula da Silva exercitam com convicção. Pesquisas reservadas indicam que há mesmo uma camada da sociedade mais duramente crítica às ações petistas. Tanto que o PT orquestrou um contra-ataque mais ajuizado: procura destilar na sociedade que o mensalão virou passado e que, portanto, não provocará qualquer tipo de ressonância eleitoral. Até mesmo o ministro Gilberto Carvalho aprendeu a lição martelada durante um encontro de cúpula do partido: negou o que afirmara no dia anterior aos jornalistas e já coloca o mensalão na coluna de neutralidade eleitoral. Tudo jogo de cena.


 


Sabe-se que na Província do Grande ABC as campanhas de Vanessa Damo, Aidan Ravin e Lauro Michels vão enfatizar a atuação do STF. Falarão em moralidade e em ética com ares de virgindade absoluta ante petistas com enormes dificuldades de contra-atacar porque, embora a formação de maioria dos Legislativos carregue o DNA semelhante ao do mensalão, jamais se chegou às vias dos fatos dos julgamentos protagonizados pelos membros do Supremo.


 


Essa história de dizer que eleições municipais são decididas basicamente por conta de agendas municipais vale para a maioria dos municípios brasileiros, mas uma temática tão abrasiva como o mensalão não pode ser desconsiderada em regiões metropolitanas. Sobretudo numa Grande São Paulo que é berço político e ativista do PT.


 


Isoladamente o mensalão não tem força suficiente para derrotar as candidaturas petistas, mas o escândalo é um componente de desgaste já comprovado em pesquisas. Quem tem dúvidas sobre isso basta um raciocínio simples: o PT provavelmente não estaria no segundo turno em nenhum dos municípios da região e tampouco da Capital se não fosse castigado pelo calendário matreiro do julgamento do mensalão. Todos esses jogos já teriam sido resolvidos no primeiro turno ou marcariam resultados bem mais expressivos no primeiro, encaminhando o resultado final. 


 


Entretanto, como há um mensalão no meio do caminho, esforços triplicados vão ter de ser feitos numa nova etapa eleitoral para tentar resolver a situação de forma positiva para a agremiação. É nesse ponto que se torna intrigante, para não dizer desafiador, o universo de mais de 500 mil eleitores nos três municípios da Província do Grande ABC que deixaram para decidir em segundo turno quem ocupará os respectivos paços municipais. Seriam, em maioria e em tese, votos de protesto aos malfeitos petistas. O que não quer dizer que esses votos poderiam ser suficientes para uma tríplice derrota petista na região. Até porque, a militância vermelha já está procurando massificar a ideia da cúpula no sentido de reduzir a carga de influência do mensalão, dividindo o farto com os tucanos de Minas e os democratas de Brasília. É melhor dividir o ônus da realidade do que subestimar o eleitorado.


Leia mais matérias desta seção: Política

Total de 863 matérias | Página 1

17/09/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (9)
16/09/2024 Três versões de um debate esclarecedor
14/09/2024 GILVAN SOFRE COM DUREZA DO DEBATE
13/09/2024 Voto Vulnerável é maior risco de Gilvan Júnior
12/09/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (8)
10/09/2024 Gênios da Lamparina querem subprefeituras
10/09/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (7)
06/09/2024 Largada eleitoral para valer vai começar agora
06/09/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (6)
04/09/2024 É a Economia, Marcelo, Luiz Fernando e Alex!
04/09/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (5)
02/09/2024 QUAL É O PREÇO DE FORA BOLSONARO?
02/09/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (4)
30/08/2024 Marcelo Lima responde ao UOL como prefeito
30/08/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (3)
28/08/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (2)
27/08/2024 Luiz preocupado com Luiz indicado por Luiz
26/08/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (1)
20/08/2024 Seis armas de Zacarias que tiram sono do Paço