Política

Instituto Opinião/ABCD Maior
erra mais que Diário em pesquisas

DANIEL LIMA - 16/10/2012

A parceria entre o Instituto Opinião e o jornal ABCD Maior errou mais que o DGABC Instituto nas pesquisas eleitorais de primeiro turno na Província do Grande ABC. O que parecia impossível, ou seja, superar a baixíssima qualidade investigativa do eleitorado regional do Diário do Grande ABC, acabou por se efetivar. O ABCD Maior chegou a levar à manchete de primeira página da edição impressa que Marinho e Reali liquidaram o jogo no primeiro turno em São Bernardo e em Diadema. Mário Reali não chegou lá e vai ter de suar a camisa para vencer o verde Lauro Michels.


 


Os erros estatísticos divulgados pelo ABCD Maior com suporte técnico do Instituto Opinião foram gravíssimos. Apenas as disputas em Rio Grande da Serra fugiriam à constatação de que se as premissas valessem como diagnóstico de saúde, muitos pacientes tratados como em plena forma física já estariam mortos e enterrados, enquanto outros descobririam que em vez de bronquite eram portadores de osteoporose.


 


A situação mais extraordinariamente fora do esquadrinhamento estatístico traçado pelo Instituto Opinião se deu em Diadema. O ABCD Maior publicou que o primeiro turno terminaria com Mário Reali 26,18 pontos percentuais à frente de Lauro Michels. No final, urnas contabilizadas, Reali teve menos 10,66 pontos percentuais dos votos válidos previstos, enquanto Lauro Michels caminhou em sentido contrário, com 10,69 pontos percentuais acima do previsto. Resultado: a diferença real se estreitou a 4,83 pontos percentuais.


 


Em segundo lugar no ranking de erros do Instituto Opinião/ABCD Maior ficou a disputa em São Bernardo, entre o petista Luiz Marinho e o jovem Alex Manente. O jornal publicou que a diferença seria de 48,40 pontos percentuais a favor de Marinho, mas as urnas apontaram 34,85. Uma diferença de 13,55 pontos percentuais, ou de 28%.


 


Também na disputa em São Caetano o ABCD Maior e o Instituto Opinião se deram mal. De projetados 16,51 pontos percentuais de diferença a favor do peemedebista-petista Paulo Pinheiro, as urnas apontaram distância de 28,54 pontos percentuais. Um crescimento de 12,032 pontos percentuais.


 


Em Santo André também se perdeu a dupla formada para antecipar os resultados eleitorais. O petista Carlos Grana ficou 5,90 pontos percentuais atrás do prefeito Aidan Ravin nos números da pesquisa, mas na vida real das urnas venceu por 5,62 pontos percentuais. Uma diferença de 11,52 pontos percentuais.


 


Ainda na escala decrescente de quantificação de erros, em Mauá se deu algo semelhante a Santo André: o candidato petista Donisete Braga chegou atrás 4,70 pontos percentuais na pesquisa realizada pelo Instituto Opinião mas ganhou nas urnas com vantagem de 4,44 pontos percentuais. Uma diferença de 9,14.


 


Em Ribeirão Pires a assimetria foi menor, de 2,31 pontos percentuais. O vencedor peemedebista teve 21,46 pontos percentuais de vantagem nas urnas ante 19,15 pontos percentuais apontados pela pesquisa.


 


Completando o quadro regional, apenas 4,08 pontos percentuais separaram a pesquisa envolvendo os candidatos Gabriel Maranho (tucano) e Claudinho da Geladeira (petista): a pesquisa apontou vantagem de 19,50, mas a distância chegou a 23,58.


 


Tempo exagerado demais


 


Há um ponto importante para amenizar a intensidade dos equívocos da pesquisa do Instituto Opinião divulgado pelo ABCD Maior, mas que em nenhuma matéria foi ressalvado: foi longo demais o período que separou os trabalhos de campo e as datas da publicação dos resultados nas páginas digitais e depois nas páginas impressas da publicação. Para ser mais preciso, mais de 10 dias de diferença entre os questionamentos aos eleitores e a publicação dos dados.


 


A pergunta que se faz é simples e direta, até porque esse procedimento é comum na maioria dos acordos entre publicações e institutos de pesquisa: até que ponto interessa ignorar o lapso de tempo para dar eventual sustentação a determinados resultados? No caso do ABCD Maior, publicação de centro-esquerda, duas candidaturas de suposta proteção da publicação foram subestimadas, casos de Donisete Braga e de Carlos Grana, enquanto outras duas, de Mário Reali e de Luiz Marinho foram beneficiadas pela fermentação do eleitorado. Em Rio Grande da Serra e em Ribeirão Pires não houve discrepância. Já em São Caetano, território sobre o qual o PT tutelou a candidatura vencedora de Paulo Pinheiro, os números da pesquisa do Instituto Opinião foram subestimados, ou seja, a diferença foi maior do que apontou previamente o ABCD Maior.


 


Observar as tendências


 


Parece evidente que qualquer desconforto sobre eventual direcionamento dos dados estatísticos coletados pelo Instituto Opinião e publicados pelo ABCD Maior não passaria de especulação. Agora, quanto à qualidade do trabalho está mais que evidenciado a fragilidade investigativa, independentemente até de possível atenuante do lapso de tempo entre prospecção e publicação. Afinal, não houve em nenhum Município da Província do Grande ABC qualquer acontecimento extraordinário que alterasse o ritmo de definição de votos para, em uma semana ou pouco mais, instalarem-se tamanhos buracos entre a informalidade das pesquisas e a formalidade das urnas.


 


Como as barbeiragens cometidas pelo Instituto Opinião não divergem fortemente das constatadas no trabalho do DGABC Pesquisas, é mais que provável que haja deficiências estruturais, metodológicas e operacionais a trançar as pernas da credibilidade dos dados. Sem contar deficiência adicional de interpretação dos números, à parte as obrigações legais ditadas pela legislação eleitoral.


 


O que exatamente? Está na hora de os institutos de pesquisas (e isso vale para todos, inclusive para os grandões, que andaram errando feio em várias capitais) começarem a analisar a possibilidade de calcular possíveis tendências do eleitorado na reta de chegada das urnas reais levando-se em conta o ritmo do movimento do eleitorado entre a penúltima e a última pesquisa. A derrota de Celso Russomanno em São Paulo, por exemplo, se deu exatamente por conta disso, mas os institutos de pesquisa, Datafolha e Ibope, prenderam-se apenas aos números finais da última pesquisa, a algumas horas da votação de verdade.


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