Entrevista Especial

Musachio afirma que OABs só
servem para promoção pessoal

DANIEL LIMA - 17/10/2012

A advogada Maria Helena Musachio, coordenadora do Fórum da Cidadania do Grande ABC e integrante do Conselhão Regional de CapitalSocial, afirma com a contundência de sempre: a Seccional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo é uma réplica da instituição em todo o território nacional: "Só serve para promoção pessoal dos seus administradores, seja para ocupar cargo político ou ser nomeado desembargador pelo Quinto Constitucional". Sobre as subseções da OAB na região, as quais conhece muito bem, Maria Helena Musachio afirma que não têm recursos financeiros nem poder para atuar com independência, o que as levam a ficar alheias às questões sociais. "Fiscalizar o setor público é utopia porque, reitere-se, seus administradores precisam dos políticos para se autopromoverem". 


 


As declarações da experimente advogada não surpreendem a direção editorial de CapitalSocial. Ao contrário: confirmam o prevalecimento crítico do Conselhão Regional sobre o grau de inserção de instituições dos mais diferentes matizes na sociedade regional. Maria Helena Musachio contrapõe-se a esta publicação quanto à eficiência do Fórum da Cidadania, dado por muitos como peça da arqueologia institucional da Província do Grande ABC.   


 


A senhora é coordenadora do Fórum da Cidadania numa fase posterior ao sucesso seguida de fracasso. Foi um período de tentativa de salvação da entidade. Por que o Fórum da Cidadania acabou desaparecendo?


 


Maria Helena Musachio – Não é uma fase seguida de fracasso porque em nossa gestão conseguimos trazer o 41º Batalhão da Policia Militar, Poupatempo Móvel por três vezes em Santo André, uma em Ribeirão Pires. Fizemos campanha vitoriosa contra a CPMF junto aos senadores, acionamos o Ministério Público contra o nepotismo nas sete cidades. Fizemos ação Civil Pública contra o aterro sanitário que foi abafada pela imprensa. Fizemos evento em favor dos afrodescendentes e trouxemos para participar o cônsul da África. Na verdade, não temos como outrora veículos de comunicação social para divulgar nossos feitos. Inclusive, a Acisa, que sempre participou do Fórum, hoje, com a nova diretoria, deixou até de contribuir com mensalidades.


 


Há possibilidade de a Província do Grande ABC contar algum dia com uma réplica melhorada do Fórum da Cidadania? Quais os pontos que deveriam servir de lição daquela primeira experiência?


 


Maria Helena Musachio – Não precisa ser réplica; basta o atual modelo do Fórum. O que precisamos é de pessoas que queiram participar e colaborar com o Fórum sem se preocupar com trampolim político e vaidade pessoal, como foi o caso dos coordenadores que me antecederam.


 


Qualquer movimento social que se forme na Província do Grande ABC deve estar atrelado a veículos de comunicação ou o melhor mesmo, diferentemente do Fórum da Cidadania, é uma instituição que não tenha qualquer vínculo com a Imprensa, exceto a democratização das informações para mobilizar a sociedade?


 


Maria Helena Musachio -- Precisamos sim de uma imprensa que não seja marrom para divulgar nossas atividades, mesmo que sejam contrárias às práticas dos políticos investidos em mandatos.


 


Como advogada, qual é avaliação crítica sobre a atuação das OABs (Ordem dos Advogados do Brasil) na região? Defendemos que a entidade deveria se envolver com questões sociais no sentido mais amplo, inclusive de transparência do setor público.


 


Maria Helena Musachio – Lamentavelmente, a OAB-SP, assim como todas as Seccionais da OAB do País, só serve para promoção pessoal dos seus administradores, seja para ocupar cargo político ou ser nomeado desembargador pelo Quinto Constitucional. As subseções não têm verba nem poder para atuar com independência e acabam ficando alheias às questões sociais. Fiscalizar o setor público é utopia porque, reitere-se, seus administradores precisam dos políticos para se autopromoverem. Se as Seccionais da OAB nem se preocupam com o próprio profissional advogado, porque haveria de se preocupar com questões sociais?


 


Fosse a senhora presidente da OAB de Santo André e ante os casos de denúncias de corrupção no Semasa e de irregularidades no projeto Cidade Pirelli, entre outras questões polêmicas, que medidas tomaria?


 


Maria Helena Musachio -- Ficaria com as mãos atadas, como todos os presidentes, porque, como disse, as subseções são obrigadas a viver na sombra das Seccionais, razão pela qual tenho tido pouco participação.


 


A senhora que vive o ambiente em Santo André acredita que o Município estaria encalacrado em termos econômicos porque o processo de esvaziamento econômico vem de longo tempo ou há condições de recuperação?


 


Maria Helena Musachio – Com a evasão das indústrias, lamentavelmente grande parte na gestão do saudoso Celso Daniel, Santo André virou uma cidade fantasma sem indústrias. Só existem lojas e mais lojas e pouco consumidor com poder aquisitivo para comprar.


 


A senhora faz parte do grupo que entende que a Administração Aidan Ravin é um fracasso ou confere ao atual prefeito de Santo André a sustentação de que está sendo vítima de campanhas orquestradas para desmoralizá-lo?


 


Maria Helena Musachio – Não precisa fazer parte de algum grupo para perceber o fracasso da Administração Aidan Ravin. Grande parte da população de Santo André acha isso. Como se pode falar em campanhas de desmoralização se os rombos no Semasa, Craisa, Secretaria de Obras, etc, estão à vista d’olhos? Nem a parte cultural está sendo respeitada diante dos desvios de verbas para contratação de shows. Não se pode esquecer que só em Ongs, algumas até com sede em fundo de quintal para acomodar seus apoiadores, a Administração já gastou quase R$ 1 bilhão de reais, e os atendimentos nas unidades de saúde são precários. A maioria dos contratos das Ongs foi destinada à área de saúde. Até o Ministério Público me parece inerte ante todos esses problemas, pois, no caso do aterro sanitário, foi a favor da continuidade do lixão.


 


Em sua avaliação, qual foi o dirigente público mais importante de Santo André?


 


Maria Helena Musachio – Alguns dirigentes foram importantes, cada um com seus projetos. Lincoln Grillo e Newton Brandão como condutores de obras, Celso Daniel na modernização da política econômica, embora tenha cometido alguns erros, como deixar as indústrias saírem da cidade. Estes deixaram sua marca em Santo André. O atual prefeito está destruindo aquilo que a cidade tem em escassez -- patrimônio histórico. A destruição do Cine Carlos Gomes não me deixa mentir. Nasci e sempre vivi em Santo André. Amo essa cidade.


 


E o dirigente público que a senhora colocaria no outro extremo, de desaprovação total?


 


Maria Helena Musachio – Aidan Ravin, sem nenhuma dúvida.


 


Como a senhora observa o cenário político regional que conduziria o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, em direção à disputa do governo do Estado em 2018?


 


Maria Helena Musachio – O prefeito Marinho me surpreendeu com sua habilidade política e tem grande potencial para disputar e ganhar o governo do Estado de São Paulo, desde que aguarde um pouquinho e não dispute com o Geraldo Alckmin.


 


A senhora é adepta da expressão “Grande ABC” ou entende que vivemos mesmo numa “Província do Grande ABC”?


 


Maria Helena Musachio – Se não houver a metropolização do Grande ABC, seremos sempre uma Província. Em breve o bairro Itaquera terá mais destaque social e econômico que o Grande ABC.


 


No cotidiano de Santo André, Município onde a senhora mais convive, o que lhe chamaria mais atenção como fonte de insatisfação e de desencanto?


 


Maria Helena Musachio – Deixei um pouco de lado minha participação nos eventos sociais diante da mediocridade que os assola. Tudo em Santo André faz mal aos olhos e ao coração. Quando eventualmente levo algum paciente aos postos de saúde de Santo André fico indignada com a falta de médicos e fila quilométrica de pessoas que vão à busca de paliativo para sua dor.


 


E como fonte resistente de conforto e alegria?


 


Maria Helena Musachio -- Só encontro com meus amigos, que felizmente possuo um número razoável, e com minha família.


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