Política

Lula entrega rapadura. E agora,
como vai reagir São Caetano?

DANIEL LIMA - 23/10/2012

O ex-presidente Lula da Silva entregou a rapadura da operação (caçapa mais que cantada aqui nesta revista digital) do PT que culminou na eleição do conservador e boa-praça Paulo Pinheiro à Prefeitura de São Caetano. Tudo isso após massacrante desconstrução da imagem de Regina Maura Zetone, competente assessora especial do prefeito José Auricchio Júnior. A pergunta que resiste é simples: o que será da Administração Paulo Pinheiro, inevitavelmente sob controle da banda mais assanhada do PMDB na Província do Grande ABC, e também de uma ala petista que exigirá reciprocidades nem sempre públicas? Como São Caetano acompanhará a Administração a partir do primeiro dia do novo ano?


 


Lula da Silva não resistiu ao microfone, seu velho companheiro de guerra, seu confessionário empolgante, embora às vezes lastimável. Não se pode condenar o ex-presidente, porque ninguém é de ferro com aquele troço à mão, numa eterna coerção à autenticidade entre as retóricas espirituosas de praxe. Lula disse num comício em Diadema, onde tenta ajudar a salvar o domínio da esquerda a trocentos anos, que o PT vai fazer mais prefeituras na região no segundo turno, depois de ganhar em São Bernardo com Luiz Marinho e, vejam só, em São Caetano com Paulo Pinheiro.


 


Fico imaginando a cara dos moradores de São Caetano que odeiam o PT entre outros motivos porque muitos até nem motivos têm, ao tomarem conhecimento da boca da eminência maior dos petistas que Paulo Pinheiro, como aqui publiquei, não passou de cavalo de Troia nas últimas eleições. A engenharia que conduziu o peemedebista, ex-aliado de José Auricchio, ao Palácio da Cerâmica, foi cuidadosamente traçada por algumas estrelas regionais do PMDB, várias das quais até outro dia no comando do Semasa, em Santo André, e os especialistas do PT em arrecadação de fundos eleitorais e em encabrestamento de marketing, os advogados Luiz Fernando Teixeira e Edison Asarias. Todos convenientemente protegidos pela maioria da Imprensa que tem relações próximas com aqueles que acham que estão com a faca e o queijo do futuro político e econômico da região nas mãos.


 


Sodoma e Gomorra


 


Foi intenso o poder de fogo da retaguarda partidária que se utilizou da boa imagem de Paulo Pinheiro para estilhaçar a reputação de Regina Maura. A campanha chegou a ser odiosa, porque se convencionou que período eleitoral equivale em ofensas e desrespeito ao extremo de Sodoma e Gomorra.


 


Os limites éticos apenas aparentemente resvalados nos noticiários se romperam completamente no dia a dia da campanha em São Caetano. O PT e o PMDB distribuíram catiripapos demais e surpreenderam os adversários que imaginavam uma contenda menos sanguinária, como nas disputas anteriores. Quando tentaram reagir, já era tarde.


 


As declarações de Lula da Silva jogam sobre Paulo Pinheiro uma responsabilidade imensa, porque, de alguma forma, o eleitorado que o elegeu com folga (foi o único dos prefeitos da região a obter mais de 50% dos votos no primeiro turno, considerando-se os respectivos colégios eleitorais) confiou na independência de uma Administração que se colocaria, de alguma forma, ou de muita forma, como continuidade da gestão do atual prefeito que, por sua vez, não rompeu com as tradições administrativas do antecessor, numa fórmula bem ao gosto de uma população que não aprova surpresas num Município de qualidade de vida que foge completamente à regra de lamentações na Região Metropolitana de São Paulo.


 


Partidos assemelhados


 


Não que a parceria do PMDB com o PT seja pressuposta e irremediavelmente danosa. Os dois partidos tornaram-se tão semelhantes a comandar uma imensidão de agremiações de menor porte, que seria injusto separar uma da outra. Tudo virou uma salada mista em que ideologia no sentido de radicalismo literal do conceito simplesmente se dissolveu. PT e PMDB são partidos de resultados, uma espécie de Fluminense do Campeonato Brasileiro -- ou seja, não interessa como joga, basta que vença. A idealização do Barcelona virou ingenuidade política.


 


O crime ético cometido em nome de uma concepção eleitoral genial está configurado na tapeação do eleitorado que acreditou na independência de gestão de Paulo Pinheiro. O prefeito eleito deverá usufruir das vantagens da parceria com os petistas, inclusive com investimentos federais. Resta saber a que preço cederá espaços a estranhos no ninho que não escondem a intenção, o desejo, o interesse, o compromisso e tudo o mais à conquista de mais e mais cidadelas, pouco se importando se a bandeira vermelha cede espaço a outras cores. 


 


O PT aprendeu as regras do jogo eleitoral depois de apanhar muito ao se intitular guardião da coerência ideológica e monopolizador dos interesses sociais. O mensalão está aí para confirmar. São Caetano caiu na rede de forma indireta, terceirizada, porque os petistas podem ser tudo de bom e tudo de ruim, mas não são bobos. A lógica de que é melhor estar por trás quando é impossível estar à frente flexibiliza para valer a avaliação dos resultados das urnas ao pretender quantificar o sucesso das legendas. A contabilidade de votos virou um quebra-cabeça. Quando escrevi que o resultado parcial das eleições deste ano estava 2 a 2, com os gols do PT em São Bernardo e em São Caetano, me chamaram de maluco. Está aí Lula a confirmar algo distante de qualquer genialidade interpretativa.


 


Quem nunca viu o PT por trás do PMDB em São Caetano brigou com os fatos. Quem não vê o PMDB por trás do PT em Santo André, onde Carlos Grana virou favorito, também não pode ser levado a sério. Em Mauá a associação dos dois partidos tornou-se impossível porque os finalistas defendem as duas legendas, a provar que no jogo de reciprocidades só se estabelece um hiato de interesses individuais quando as urnas tornam impossível o sincronismo esperto de estar atrás ou à frente. Por isso o pau está comendo em Mauá, onde os candidatos reforçam os esquemas bélicos de segurança. Tudo, absolutamente tudo à distância das páginas de jornais que se limitam ao trivial, por preguiça, acomodação, inexperiência, conveniência e outros motivos não publicáveis. 


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