Política

Domínio petista na Província vai
exigir regionalidade de Marinho

DANIEL LIMA - 24/10/2012

Se der nas urnas o que se insinua em várias pesquisas eleitorais, o PT vai terminar o segundo turno com quatro vitórias contra três dos azulados e saltará para o controle de 83% do PIB (Produto Interno Bruto) da Província do Grande ABC. Ou seja: a contagem econômica seria muito mais expressiva que a contagem política. Dos R$ 71,1 bilhões do PIB regional de 2009, o PT ficaria com R$ 59,1 bilhões. Um resultado que exigirá extroversão territorial de Luiz Marinho, a maior e mais poderosa estrela política da região.


 


A vitória final de 4 a 3 levaria em conta o sucesso de Carlos Grana em Santo André e de Donisete Braga em Mauá. A derrota se daria em Diadema, onde o verde Lauro Michels superaria o petista Mário Reali. Com 4 a 3 no placar, o PT reverteria desvantagem das eleições em 2008, quando perdeu a possibilidade de controlar o Clube dos Prefeitos, inutilidade institucional da Província que provoca alguns efeitos pirotécnico-políticos por conta do desconhecimento da maioria dos consumidores de informações.


 


O placar provável de 4 a 3 para o PT na Província do Grande ABC inclui a vitória em São Caetano, quando o partido travestiu-se de PMDB com Paulo Pinheiro e deu um drible da vaca no eleitorado avesso aos avermelhados. Excluir a Administração Paulo Pinheiro do conglomerado petista é brigar contra os fatos.


 


O alinhamento entre petistas e peemedebistas foi informal, mas muito mais sólido que qualquer aliança tácita. A informalidade foi pragmática. Não convinha mostrar a cara meio avermelhada, meio outra coisa que ninguém consegue definir quando se trata da agremiação do vice-presidente da República, Michel Temer. Já a Administração Paulo Pinheiro será estratégica, no passo e no compasso de interesses combinados desses dois conglomerados eleitorais de origem contestatória aos situacionistas conservadores e hoje não muito distantes dos pressupostos que combatiam. 


 


Fugindo da raia


 


O que mais se pergunta é o que o provável controle do Clube dos Prefeitos representará a Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo e principal condutor do PT e aliados na Província do Grande ABC.


 


Contrariamente ao imaginado e ao esperado, quando não ao necessário e ao indispensável, Luiz Marinho fugiu da raia da regionalidade durante os quatro primeiros anos de mandato. Se repetir a dose nos próximos quatro anos passará para a história da região como o prefeito mais incrivelmente negligente em matéria de integracionismo. Se o fizer, entrará para qualquer disputa mais importante, como ao cargo de governador do Estado, com passivo de inteligência administrativa e social imperdoável. Bastam apenas três projetos mesmo que incompletos, porque o tempo urge e quatro anos passam rapidamente, para Luiz Marinho fazer história além dos muros da principal fatia socioeconômica da Província regional.


 


Ou o leitor entende o contrário, ou seja, que, mesmo com a faca do PIB e o queijo do controle político na mão Luiz Marinho dispensaria o currículo mesmo que tardio de aproximar-se de instâncias regionais, comandando durante algum bom tempo o Clube dos Prefeitos, mesmo que o Clube dos Prefeitos não seja lá aquela maravilha.


 


Aliás, não é aquela maravilha porque desde que Celso Daniel cansou de liderar o movimento pró-regionalidade, não apareceu ninguém com talento, assessoria, conhecimento e dedicação para jogar-se para valer nas águas da sistemicidade de planejamento e ações que comecem a modificar a trajetória cada vez mais provinciana deste território.


 


Nem o próprio prefeito Luiz Marinho se daria ao luxo de desprezar medidas que provocassem alterações no quadro regional a partir de uma instituição potencialmente com capacidade política para tanto. Exceto se o dirigente político em que se transformou insista em contrariar completamente o histórico do sindicalista que já foi. Ou estará enganado este jornalista?


 


Voltando ao passado


 


Vamos ver como se comportava na teoria Luiz Marinho nos idos de 2000 (portanto há 12 anos, quase 13 na verdade), tendo como base uma entrevista que concedeu à revista LivreMercado (então sob o controle editorial deste jornalista) ao brilhante repórter Rafael Guelta? Sob o inspiradíssimo título “O negociador de incertezas”, exemplar da grandiosidade intelectual daquela publicação, título este retirado do texto de Rafael Guelta, Luiz Marinho manifestou-se da seguinte maneira à indagação sobre a fragilidade política da região naqueles tempos:


 


“Recentemente saímos de uma ditadura militar, entramos num processo de eleições e ainda estamos aprendendo. O Grande ABC só foi sugado. Estado e União diziam: vocês são uma região rica, então se virem. Só que ficavam com nossos recursos para aplicar em outros lugares. É claro que todos têm obrigação de contribuir de forma solidária para o Estado e a União, mas era preciso que uma parte retornasse para cá. Na gestão dos prefeitos anteriores, o sindicato propôs várias iniciativas. Infelizmente era uma safra de prefeitos muito ruim. Tirando o Filippi (José de Filippi Jr.), de Diadema, não se salvava um. Não havia disposição para um debate regional. Na última eleição todos eles, até por força dos debates de campanha, se comprometeram com questões regionais. Acho que não devemos ficar analisando o passado e o tempo que perdemos. Temos de correr e preparar a região para defender seus direitos – disse Luiz Marinho.”


 


Não resisto a duas observações sobre aquelas declarações do então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo.


 


Primeiro, o volume de investimentos do governo federal na região nestes novos tempos, sobretudo em São Bernardo sob a administração do ex-sindicalista, é um processo de cunho político associado à organização e ao planejamento sincronizado com os anseios expostos naquela entrevista. Segundo, Luiz Marinho construiu uma teoria de regionalismo que o obriga compulsoriamente a sair do encalacramento em que se meteu, olhando apenas para o umbigo de São Bernardo. Cabe-lhe projetar-se regionalmente muito além das fronteiras partidárias como comandante do PT na Província do Grande ABC.


 


A projeção de domínio avassalador se não do eleitorado mas sobretudo do Produto Interno Bruto regional praticamente impõe a Luiz Marinho novas iniciativas. Já se sabe e não adianta torcer exageradamente por algo impossível, ou seja, que ganhe a forma de um Celso Daniel, único e incomparável na gestão de movimentos voltados a tratamento de questões específicas além do autarquismo municipalista.


 


Entretanto, é possível que Luiz Marinho seja brilhante de outra forma e, quem sabe, dada a proximidade com o governo federal, contrariamente ao contexto das gestões de Celso Daniel, acabe se consagrando como agente público que enxergou muito além dos pouco mais de 400 quilômetros quadrados de São Bernardo, espaço sobre o qual limitou o primeiro mandato prestes a se encerrar. Será que conseguirá?


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