Política

Celso Daniel vai às urnas da pior
maneira possível. É a política

DANIEL LIMA - 26/10/2012

Em Santo André e em Mauá, dois dos três municípios que vão decidir neste domingo, em segundo turno, quem ocupará os respectivos paços municipais, Celso Daniel estará em boa parte das urnas eletrônicas. Uma pena que seja de forma tão oportunista, abusada e apelativa. Em Mauá, a candidata Vanessa Damo revisita a teoria da conspiração de que o adversário Donisete Braga teria participado de alguma forma do assassinato do prefeito, num caso mais que apurado e decidido pela inocência do petista. Em Santo André, a rivalidade pessoal entre Ronan Maria Pinto, presidente do Diário do Grande ABC, e o ex-menino de ouro da Administração Celso Daniel, Klinger Sousa, atinge a candidatura do petista Carlos Grana, suspeita de desafiar o veto do dirigente do jornal ao acolher o desafeto.


 


De alguma forma, ou de forma representativa de profunda reflexão, os acontecimentos revelam o grau de deterioração da vida política da Província do Grande ABC desde que Celso Daniel virou saudade. A agenda de trabalho foi corrompida pelo facilitarismo da crítica infundada, da ilação maliciosa, de traquinagem verbal, da manipulação de dados, dessas coisas que a política tem de pior.  


 


O único consolo é que é melhor a guerra da politica do que a política da guerra, como disse rapidamente ontem de manhã no Primeiro de Maio Futebol Clube, em Santo André, convidado que fui pela direção da Radio ABC e do jornal Bom Dia para formular uma questão aos candidatos Aidan Ravin e Carlos Grana, durante um debate mais que abrasivo.


 


O ambiente de UFC que reinou naquele encontro subverteu completamente a ordem de paz e amor, de irmãs carmelitas, de ambiente eclesiástico, que marcou o primeiro debate dos candidatos à Prefeitura de Santo André, realizado na Fundação Santo André. A camaradagem do primeiro foi substituída pela artilharia pesada do segundo. Grana e Aidan foram para um combate franco, aberto, debochado, provocativo.


 


À beira da agressão


 


A transmissão ao vivo da Radio ABC não traduziu aos ouvintes o que se passava no palco porque radio não é televisão. Ao vivo foi imperdível. Grana e Aidan mantiveram olhos nos olhos o tempo todo. Até parecia que a qualquer momento deixariam de lado o combate verbal e partiriam à luta corporal. As torcidas organizadas na plateia urravam.


 


Klinger Sousa estava ali, acompanhando tudo com os olhos postos no palco e no tablete conectado às redes sociais. Sentei-me ao lado dele durante algum tempo, porque é sempre bom ouvir um atento observador da cena política regional. Klinger é desses exemplares que não costumam jogar ao vento uma frase sequer. Celso Daniel não o escolheria como sucessor não fosse uma combinação de inteligência, preparo, senso crítico e inesgotável repertório de ideias.


 


Não notei qualquer sinal de constrangimento provocado pela presença de Klinger Sousa entre os petistas que dividiram a plateia com os petebistas. O jornal exagera na dose por conta do dedodurismo do diretor-presidente. Cria-se ou pretende criar-se um fato político adicional na reta de chegada. Daí ressurge a polêmica sobre a morte de Celso Daniel. Um passo mais que compulsório à esculhambação do legado do maior prefeito regional da Província do Grande ABC. Tão superior que só o fato de relembrá-lo cheira à exagero, porque tornam todos os demais agentes públicos locais no mínimo aprendizes.


 


A pergunta que formulei a Aidan Ravin e a Carlos Grana foi motivo de exposição de conteúdo nestas páginas. Tratou-se de definir o destino dos 34% dos votos de eleitores de Santo André que não compareceram às urnas, que votaram em branco ou anularam o voto no primeiro turno, além de outra batelada de eleitores que votaram em candidatos que não chegaram ao segundo turno. É claro que os finalistas puxaram às respectivas brasas a sardinha desse estoque inutilizado no primeiro turno.


 


Mensalão versus militância


 


Teria o mensalão julgado numa fase decisiva do segundo turno desviado a maioria desses potenciais votos para o prefeito Aidan Ravin, como muitos imaginam, ou a militância petista, impressionantemente forte nesse período na região, conseguiu desarmar a bomba e impediu que se cristalizasse aquela tendência? É isso que decidirá as eleições em Santo André neste domingo. É isso que deveria ser exaustivamente esmiuçado pelos meios de comunicação, tanto em Santo André quanto em Mauá e em Diadema, onde também se deram vácuos de votos em níveis preocupantes.


 


Mas o que fazer se, até mesmo ex-aliados da Administração Celso Daniel, igualmente envolvidos em verdades, mentiras e dúvidas sobre os acontecimentos de janeiro de 2002, resolveram adotar seletividade nas informações para atingir desafetos pessoais?


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