O PT saiu das eleições municipais na Província do Grande ABC com um saldo mais positivo do que em 2008, quando ficou com três das sete prefeituras. Desta vez, além de retomar Santo André e de manter São Bernardo e Mauá, o partido do ex-presidente Lula da Silva contabilizou o sucesso em São Caetano, travestido de PMDB do vereador Paulo Pinheiro. Entretanto, o domínio político não foi tão expressivo nas urnas como parece, porque o PT ficou com 51,29% dos votos válidos ante 48,71% dos azulados e assemelhados. Já o maior contratempo está localizado em Diadema, onde o controle de 30 anos de uma Prefeitura trocou de lado com a vitória do verde Lauro Michels. Estaria em Diadema o ovo da serpente do esgotamento de políticas públicas do partido voltadas às classes sociais menos favorecidas?
As vitórias de Carlos Grana em Santo André e de Donisete Braga em Mauá poderiam servir de argumento para a força de lideranças petistas mais estreladas junto ao eleitorado. Além do presidente Lula da Silva, ministros de Estado, como Gilberto Carvalho, Miriam Belchior e Alexandre Padilha, reforçaram as campanhas nas ruas para contrabalançar os estragos do julgamento do mensalão. Se for verdade que tudo isso tem peso, a derrota massacrante em Diadema ganha contornos mais dramáticos, porque Lula da Silva também foi às ruas para pedir voto ao derrotado Mário Reali.
Passadas as comemorações, o melhor a fazer é pensar com seriedade o futuro da Província a partir do domínio político do PT. Agora o Clube dos Prefeitos conta com maioria avermelhada, já que além de Luiz Marinho, Carlos Grana e Donisete Braga, a agremiação ganhou o reforço de Paulo Pinheiro, de São Caetano. Com 83% do PIB (Produto Interno Bruto) da região, esses administradores têm tudo para dar dinamismo a uma instituição que raramente saiu da inércia, embora não tenha faltado marketing para vender ilusões. Diadema de Lauro Michels, Ribeirão Pires de Saulo Benevides e Rio Grande da Serra de Gabriel Maranhão compõem oposição interna praticamente sem força a eventuais enfrentamentos no Clube dos Prefeitos. Resta saber se o PT repetirá os tempos de Celso Daniel, criador e maior incentivador dessa instância de integração regional. Nos primeiros quatro anos de mandato, a maior estrela regional petista, Luiz Marinho, praticamente ignorou o Clube dos Prefeitos.
Apenas a minoria
Não se pode desconsiderar também no balanço das urnas eletrônicas que a vitória de Carlos Grana não é necessariamente a vitória da maioria em Santo André. Tampouco o seria se o vencedor fosse o prefeito Aidan Ravin. O petista ganhou as eleições, mas apenas uma minoria de eleitores de Santo André o consagrou. De cada 100 votos disponíveis, apenas 36,95 foram endereçados ao PT. O restante votou em Aidan Ravin (31,57) e nada menos que 31,47% optaram por votos em branco, votos nulos ou simplesmente não compareceram aos locais de votação. Essa crise de representatividade não tem as digitais exclusivas de Santo André, mas na cidade que ainda lamenta a morte de Celso Daniel os números estão bem acima da média regional e nacional.
Na Província do Grande ABC apenas um prefeito eleito contou com menor contingente de votos relativos que Carlos Grana, sempre considerando o total de eleitores habilitados a votar. Saulo Benevides ganhou em primeiro turno em Ribeirão Pires com 28,17%. Bem menos que Luiz Marinho, também vencedor em primeiro turno, em São Bernardo, com 45,50%. Um pouco mais que os 46,23% de Gabriel Maranhão em Rio Grande da Serra, também em primeiro turno. Paulo Pinheiro, em São Caetano, foi o único a superar a barreira de 50% dos votos totais ao chegar à vitória: foram apertados 51,20% em primeiro turno. Lauro Michels ganhou em Diadema com 45,28% do total de votos disponíveis. Um pouco acima dos 40,97% de Donizete Braga em Mauá.
Os três resultados do segundo turno não podem ser catalogados como surpreendentes. Pesquisas eleitorais indicavam os vencedores, exceto em Mauá, onde o instituto criado pelo Diário do Grande ABC apontava empate técnico a dois dias da disputa. Uma barrigada e tanto, porque o petista ganhou com folga – 57,14% a 42,86% --, resultado de 120.115 votos a 90.098. A diferença de 14,28 pontos percentuais foi extravagante perto do que o jornal projetou – vantagem de Donisete Braga por 50,5% a 49,5%, ou seja, de apenas um ponto percentual.
Ascensão interrompida
Mesmo acertando a projeção de votos em Santo André, a pesquisa do Instituto Diário não foi precisa ao encaminhar o resultado para possível aperto na contagem final. A diferença de 6,8 pontos percentuais (53,4% a 46,6% para Carlos Grana) apontada nas intenções de votos do Diário do Grande ABC foi praticamente reproduzida na prática das urnas (53,92% a 46,08%), mas a publicação sugeriu no texto e nos gráficos da edição de sábado que o petebista Aidan Ravin estava em processo ascendente, enquanto Carlos Grana estaria em declínio, supostamente por conta da possível participação de Klinger Sousa na campanha de Carlos Grana. O petista acumulou 204.594 votos ante 174.815 de Aidan Ravin. Os 15% iniciais de apuração de votos nas zonas eleitorais do centro expandido apontavam vitória esmagadora de Aidan Ravin. Quando as urnas da periferia começaram a ser apuradas, a reviravolta foi inevitável.
A classe média tradicional de Santo André é antipetista como quase toda São Caetano e como a parte mais nobre da Capital. Isso significa que as medidas estratégicas da cúpula petista da campanha de Carlos Grana não atingiram o volume de votos imaginado nessas áreas. A simplificação de iniciativas que pretendem aproximar o PT dos mais aquinhoados em escolaridade e renda é um obstáculo a ser superado nas eleições ao governo do Estado, por exemplo. Daí o ex-presidente Lula da Silva lançar candidatos com o perfil de Fernando Haddad, novo prefeito de São Paulo, também derrotado de forma contundente em áreas mais conservadoras.
Em Diadema, onde desmoronou o edifício esquerdista de 30 anos, cujas fundações se iniciaram em 1982 com a vitória do sindicalista Gilson Menezes, a diferença imposta pelo verde Lauro Michels sobre o prefeito Mário Reali foi avassaladora. O placar final de 60,44% (145.084 votos) a 39,56% (94.963 votos) é um enorme ponto de interrogação para os petistas. A diferença de 20,88 pontos percentuais foi diagnosticada pela pesquisa do Diário do Grande ABC, que apontava a vitória de Lauro Michels por 59,8% a 40,2% dos votos válidos. A questão que se coloca à mesa política é simples: o modelo petista de administrar um Município com fundas exigências sociais está esgotado ou a derrota se deve a debilidades circunstanciais de um administrador público específico?
No balanço dos votos
O balanço de votos petistas e antipetistas na região repete o enredo de 2008, com divisão praticamente meio a meio entre os concorrentes nos sete municípios da Província do Grande ABC. Os candidatos petistas obtiveram 706.010 votos ante 670.365 votos dos azulados e assemelhados. Entenda-se azulados e assemelhados tanto os eleitores tucanos quanto os que se aproximam politicamente deles. Foram somados os votos de cada agremiação nos municípios que tiveram apenas o primeiro turno (São Bernardo, São Caetano, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra) e os votos do segundo turno em Santo André, Mauá e Diadema. Em 2008 o PT superou os azulados e assemelhados por apenas 865 votos.
Os votos destinados a Paulo Pinheiro, em São Caetano, foram remetidos aos azulados e assemelhados por uma razão simples: fosse anunciado como candidato apoiado pelo PT, saindo portanto do armário, provavelmente Paulo Pinheiro teria sido derrotado pela candidata Regina Maura Zetone.
O resultado deste ano poderia ser mais apertado e aproximar-se do de quatro anos atrás porque os prováveis mais de 20 mil votos de Ednaldo Dedé de Menezes, em Ribeirão Pires, foram considerados inválidos pela Justiça Eleitoral. O candidato foi colhido em delito pela Lei da Ficha Limpa, mas seu nome foi mantido na urna eletrônica.
O contingente de votos em branco, votos nulos e de eleitores que não compareceram às urnas atingiu 29,72% na Província do Grande ABC, repetindo com números médios acima da média nacional um fenômeno que preocupa quem entende que a representação política expressa nas urnas pode estar em processo de enfraquecimento. Em Santo André o desperdício de voto foi mais elevado do que a média regional. Nada menos que 31,47% do eleitorado não votaram em nenhum dos dois finalistas. Quase o mesmo percentual de votos do vencedor Carlos Grana, quando considerado o total de eleitores habilitados no Município.
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01/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (20)