Política

Como os avermelhados perderam
o apoio da população de Diadema (I)

DANIEL LIMA - 05/11/2012

Quem procurar num graveto de detalhismo a explicação para a quebra da hegemonia do PT em Diadema, depois de 30 anos de domínio da esquerda avermelhada no Município mais problemático e mais revolucionário da Província do Grande ABC, acabará frustrado. O que derrotou o PT em Diadema ganha desenho de uma frondosa árvore de circunstâncias, contextos históricos e transformações urbanas que desabou por exaustão, por idiossincrasias partidárias, por conjunções ambientais e outros passivos típicos de metrópoles como a Grande São Paulo. A boa notícia para o PT é que a queda tem tudo para limitar-se ao circunstancial, reparável já na próxima eleição. Mas nem por isso deixa de ser emblemática e pedagógica. Afinal, antecipa armadilhas ao desempenho do partido no território nacional.


 


Por isso mesmo quem se deixar levar por duas correntes de facilitarismos avaliativos provavelmente cairá do cavalo. Nem o PT já deu o que tinha de dar em Diadema, nem a oposição que assume a direção da Prefeitura em janeiro próximo encontrou a fórmula mágica para aniquilar com a maior novidade política pós-redemocratização, ou seja, o partido liderado pelo ex-metalúrgico Lula da Silva. Mesmo que essa novidade política tenha se acasalado tão intensamente com modelos viciados, tornando-se desafiador distingui-la no cenário político.


 


A compreensão do PT derrotado em Diadema nas eleições de outubro passa, portanto, por diagnóstico mais amplo e mais profundo que o sugerido pelo prefeito Luiz Marinho, de São Bernardo, principal liderança do partido na região. A simplificação do dirigente, de que ao governo derrotado de Mário Reali faltou comunicação, como se comunicação fosse algo suficiente para resolver todos os problemas, para mudar o mundo, corresponde na literatura médica a explicar um ataque fulminante de coração única e simplesmente porque a vítima deu uma corridinha matutina quando estava acostumada a percorrer alguns quilômetros sempre ao final da tarde.


 


Risco estrutural


 


Se o Partido dos Trabalhadores não entender que perder um reduto como Diadema é mais que um alarme, é um claro sintoma de que o organismo de centro-esquerda precisa de reparos, que já não viverá do passado que se dissipa a cada nova geração, se não atinar para as regras do jogo eleitoral de uma comunidade não tão avermelhada como antigamente, o que reúne contornos de pontual poderá tornar-se estrutural.


 


Ou seja: se por enquanto o que desabou foi uma árvore frondosa do pensamento e das obras da centro-esquerda no coração urbano mais fortemente influenciado pelo sindicalismo, eventual negligência na terapêutica a ser aplicada poderá virar devastidão florestal.


 


Perder Diadema é uma dor dolorida demais para o PT que mal comemorava a vitória enviesada na então inexpugnável São Caetano, ao apoiar por baixo dos panos o peemedebista Paulo Pinheiro. A simbologia do primeiro Município brasileiro governado pelo partido, a partir da vitória do metalúrgico Gilson Menezes, em 1982, é muito cara ao PT. Pouco adiantou o desfilar de estrelas vermelhas, Lula da Silva inclusive, na reta de chegada do segundo turno pelas ruas de Diadema. A derrota de Mário Reali estava sacramentada muito antes do aproximar das urnas.


 


Trabalho em construção


 


Esta série comportará cronologia errática porque se desenvolverá sempre aberta a novas informações que se conectarão às matrizes já diagramadas com base em núcleos informativos e analíticos esmiuçados. O jornalismo digital oferece a possibilidade de construção sobre alicerces seguros, embora maleáveis.  Aliás, nada diferente da engenharia propriamente dita. Quem entende de construção civil sabe que o que parece rígido tem na verdade uma banda relativamente confortável de deslocamento, sem comprometer a estrutura com que foi concebida.


 


Isto significa que as linhas mestras da análise do resultado eleitoral em Diadema já estão delineadas, avaliadas, aprovadas e, portanto, prontas para exposição em alguns capítulos interessantíssimos a todos que querem mais que números eleitorais – querem compreender por que, por exemplo, um vereador praticamente inexpressivo, como a quase totalidade dos legisladores municipais, chegou ao poder máximo de uma Administração Pública que durante três décadas deu o tom ideológico num Município que, não fossem as intervenções centro-esquerdistas, seria uma extensão desnaturada do extremo sul de pobreza da Capital, que lhe faz divisas territoriais. 


 


É claro que esta série não tem a pretensão de tutelar a verdade dos fatos, mas não abdicará uma vírgula sequer de apresentar-se como trabalho jornalístico que, vejam só, dará sequência a uma reportagem especial que este jornalista preparou para o Jornal da Tarde em 1986, na qual se explicitavam os então menos de 50 meses da gestão de Gilson Menezes. No intervalo entre aquela matéria e esta série, este jornalista, à frente da revista LivreMercado, escreveu ou editou muitas matérias sobre as mudanças sociais, econômicas e culturais em Diadema. Foram textos antológicos que acompanharam as transformações significativas naquele solo. Desde o radicalismo opositor dos esquerdistas aos empreendedores à conversão um pouco envergonhada à economia de mercado.


 


Diadema é de singularidade tão extraordinária que existe apenas outra explicação para o fato de nenhum veiculo de comunicação ter ido a fundo às razões que levaram à derrota do PT em outubro -- a apatia e a formalidade de um jornalismo cada vez mais rastaquera e desinteressado, um jornalismo fastfoodiano de declarações oficiais, acrítico, insensível.


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