Administração Pública

Classe média é indigesto desafio
a Carlos Grana em Santo André

DANIEL LIMA - 07/11/2012

É pouco provável que o prefeito eleito Carlos Grana consiga em Santo André o que Luiz Marinho está longe de alcançar em São Bernardo, que Donisete Braga improvavelmente festejará em Mauá e que Mário Reali tentou mas não conseguiu em Diadema: conquistar a classe média de verdade numa região onde o sindicalismo estabeleceu ambiente de conquistas mas também de conflitos.


 


Carlos Grana, como Marinho, perdeu de lavada entre os eleitores mais escolarizados e de maior renda de Santo André. Pouco lhe adiantou somar apoios de supostas forças políticas e sociais dessas áreas, inclusive da Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André). Apesar do desgaste da Administração Aidan Ravin, envolvida em escândalos ainda não devidamente apurados, como não o foram os escândalos locais do PT, Carlos Grana comeu poeira.


 


Fosse Santo André mais próxima do perfil socioeconômico (e consequentemente social) de São Caetano, a candidatura de Carlos Grana teria feito água. Não é a toa que o PT abdicou de concorrer diretamente na cidade vizinha e optou pelo Cavalo de Troia de Paulo Pinheiro. O jornal Bom Dia ABCD foi a única publicação a exibir o mapa eleitoral do primeiro e do segundo turno em Santo André. Ali estão impressas as digitais do eleitorado, que se assemelham a tantas outras localidades da Grande São Paulo e do País como um todo: os azulados dominam as áreas centrais e bairros do entorno e empalidecem e são substituídos pelos avermelhados na medida em que os votos apurados se cristalizam nas periferias.


 


Azulados e avermelhados


 


Os pouco mais de 30 mil votos de diferença que colocaram Carlos Grana na Prefeitura de Santo André se devem aos eleitores menos escolarizados e de rendas inferiores, contingente prevalecente no Município. A maior derrota de Carlos Grana e a maior vitória de Aidan Ravin se deram na Zona 156, que abrange parte do Centro, a Vila Bastos e o Jardim Bela Vista. Foram 70,89% dos votos para o petebista Aidan Ravin e apenas 29,11% para o petista. Também a Zona 136, formada por Bairro Campestre, IAPI, Bairro Jardim, Vila Alpina e Vila Guiomar, hostilizou o PT nas urnas: 64,96% a 35,04%.


 


Como essas áreas foram as primeiras a ser apuradas, o prefeito Aidan Ravin e seu grupo de apoiadores começaram a festejar a reeleição, certos de que a periferia estaria dividida. Deram-se mal: o mensalão fez menos estragos entre as classes mais baixas, menos críticas e mais pragmáticas, sensíveis às políticas econômicas do governo federal petista e também às políticas de renda, especialmente o Bolsa Família. As mesmas classes mais baixas cobraram mais ações locais do governo municipal por conta de deficiências estruturais e pontuais de infraestrutura urbana.


 


Tanto é verdade que o maior índice de sucesso de Carlos Grana se deu na Zona 383, onde obteve 63,03% dos votos válidos contra 34,97% de Aidan Ravin. Querem saber quais são os bairros dessa zona eleitoral? Centreville, Cidade São Jorge, Clube de Campo, Condomínio Maracanã, Jardim Ipanema, Jardim Santo André, Jardim Silvana, Paranapiacaba, Parque Andreense, Parque Marajoara, Parque Miami, Sitio Cassaquera, Vila Guaraciaba, Vila Guarani, Vila Homero Thon, Vila Humaitá, Vila Progresso, Vila Suíça e Vila Tibiriçá. Só nessa geografia Carlos Grana livrou 20 mil votos de vantagem sobre Aidan Ravin, enquanto Aidan Ravin capitalizou não mais que 13 mil de vantagem nas duas zonas eleitorais do Centro e do Centro Expandido. Os pobres e remediados de Santo André formam exército ante o batalhão da classe média. 


 


Sindicalismo na raiz


 


Faltam-me números históricos sobre o desempenho do PT em Santo André sob o aspecto geoeconômico. Há enormes dificuldades para rastreá-los. Mas há indicativos mais que fortes de que, contrariamente ao que se deu na maioria do País, quando o partido obteve o apoio da classe média até que estourou o escândalo do mensalão, tanto em Santo André quanto na Província do Grande ABC como um todo o PT sempre apanhou da classe média.


 


O sindicalismo está na raiz de certa ojeriza ao PT pelas classes sociais mais maduras ou mais conservadoras – dependendo do ângulo de interpretação. A candidatura de Lula da Silva só foi majoritariamente vencedora em Santo André em 2002, quando concorreu com o tucano José Serra. Tudo dentro da lógica. A Província foi devastada pela política econômica de Fernando Henrique Cardoso. Naquela disputa, Lula da Silva obteve 65,61% dos votos válidos, ante 34,39% de Serra. Em 2004, antes do mensalão, portanto, Lula reelegeu-se com 51,36%, ante 48,64% de Serra. Ali a classe média já se mandara em direção ao tucano. Em 2010, a neopetista Dilma Rousseff, de perfil bem distinto da imagem divisionista dos sindicalistas, perdeu para José Serra por 51,20% a 48,80%. De novo a classe média se mostrou antipetista em larga maioria em Santo André, como em toda a Província.


 


O que vai fazer Carlos Grana para desatar o nó em Santo André? A maioria dos petistas que lhe dão assessoria acredita que a causa é perdida em todos os endereços municipais que tenham características semelhantes a Santo André. Consideram que a melhor saída mesmo é cuidar da maioria da população, de classe média baixa, de classe média emergente, de pobres e de miseráveis.
 
Aí o peso da macropolítica rivaliza-se com a influência de vetores municipais, por mais que questões locais ditem em parte o ritmo do direcionamento de votos. Se o governo Dilma Rousseff insistir no estoque de geração discretíssima de riqueza, porque baseado em consumo que dá sinais de esgotamento, tudo pode mudar. Até mesmo com uma boa administração de Carlos Grana, algo perfeitamente lógico depois dos estragos dos antecessores.


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