Administração Pública

Por que não, além da CPI do Sehal,
a CPI do Bigucci em São Bernardo?

DANIEL LIMA - 20/11/2012

Ora, ora, ora, a resposta é simples: porque a maioria dos políticos está comprometidíssima com os mercadores imobiliários. A pergunta do título e a resposta no primeiro parágrafo deste texto são consequências da reportagem do Diário do Grande ABC de hoje, terça-feira, sob o título “Convênio com Sehal dá dor de cabeça a Marinho”.


 


A diferença básica entre a denúncia do jornal, formulada no dia anterior em manchete principal de primeira página, e a série de textos desta revista digital sobre as lambanças de Milton Bigucci, presidente de um conglomerado de empresas do setor imobiliário e comandante há 20 anos da Associação dos Construtores do Grande ABC, é que o jornal resolveu por razões específicas retomar o corpo a corpo crítico tendo o prefeito Luiz Marinho, de São Bernardo, como alvo principal. Já esta publicação não abre mão de apontar problemas de representatividade e de idoneidade tanto numa fracassada organização de classe como num conglomerado de negócios de um empresário que não tem a ética como companheira de atuação.


 


Que seja bem-vindo o Diário do Grande ABC na apuração do caso Sehal, mas que salte do muro e se empenhe no caso das travessuras de Milton Bigucci. É claro que o jornal não vai se meter com Milton Bigucci, velho parceiro de aproximação com mercadores imobiliários naquilo que os veículos de comunicação mais apreciam, acima de qualquer veleidade ética: a imensidão de publicidade de empreendimentos comerciais e residenciais.


 


Tampouco os políticos que pretendem criar embaraços à Administração Luiz Marinho, e mesmo o prefeito Luiz Marinho, têm algum interesse em incomodar Milton Bigucci, embora o empresário tenha proporcionado para valer um prejuízo aos cofres públicos muito, mas muito superior ao que o Diário do Grande ABC aponta no caso Sehal. O terreno na esquina da Avenida Kennedy com a Senador Vergueiro, em São Bernardo, arrematado de forma fraudulenta por Milton Bigucci, causou rombo nos cofres da Prefeitura, sem deflacionamento, de R$ 15 milhões, em maio de 2008. O rombo do Sehal estaria longe disso. Nem à metade, em valores nominais, chegaria.


 


Descompasso comprometedor


 


Do que se trata, afinal, o caso Sehal? O Diário denunciou na edição de segunda-feira que o Sindicato de Hospedagem e Alimentação do Grande ABC recebeu nos últimos três anos R$ 8,4 milhões do governo federal para formação de cozinheiros, garçons, salgadeiros, confeiteiros e chapeiros. Os valores foram repassados de forma fragmentada entre 2010 e 2012. O contrato foi assinado pelo então presidente do Sehal, Wilson Bianchi, que deixou o cargo em setembro último depois de longos anos. Hoje é apenas secretário. Ou um presidente disfarçado de secretário. A suposta irregularidade que move os políticos oposicionistas em São Bernardo seria o descompasso entre o repasse de recursos financeiros ao Sehal e a efetiva aplicação técnica, que se teria dado apenas este ano e mesmo assim com severas desconfianças sobre a veracidade dos valores aplicados.


 


Sabe-se que o Diário do Grande ABC há muito estava informado sobre a suposta irregularidade, mas preferiu segurar o material até o momento apropriado. Como as relações entre a direção do jornal e a Administração Luiz Marinho voltaram a azedar, semelhantemente aos primeiros 18 meses do mandato do petista, entendeu-se na Direção do jornal que chegara a hora de jogar farofa no ventilador. Coincide com essa postura a reaproximação do comando do jornal com o governo do Estado, intermediada pelo deputado estadual Orlando Morando, queridíssimo na Rua Catequese entre outros motivos porque é o pombo correio de articulações que culminam em nacos publicitários. Além de tudo isso, a proximidade entre Wilson Bianchi, ex-presidente do Sehal, e Klinger Sousa, ex-amigo e hoje inimigo mortal de Ronan Maria Pinto, presidente do Diário do Grande ABC, seria a senha para a estocada.


 


Contraposição desafiadora


 


A contraposição entre o caso Sehal e as estripulias de Milton Bigucci à frente da Associação dos Construtores e do Grupo MBigucci é pertinente porque revela o contraste entre uma cobertura e outra do jornal sediado em Santo André e dos políticos de São Bernardo que têm o rabo preso com os mercadores imobiliários, quando não estão metidos em empreendimentos nebulosos. Sobre isso, aliás, qualquer dia desses CapitalSocial pode fazer novas revelações.


 


Quem acredita que há exclusividade em torno de Milton Bigucci sobre falcatruas negociais está muito enganado. Mercadores imobiliários e políticos formam dupla insaciável. E quem paga a conta são os contribuintes tanto em forma de impostos como de mobilidade urbana, porque se entopem os corredores viários de torres residenciais e comerciais insanas.


 


Aliás, esta é uma das explicações para o fato de, até agora, a Procuradoria Geral do Município de São Bernardo levar em banho-maria a denúncia desta revista digital, acompanhada de provas irrefutáveis, sobre as maracutaias patrocinadas por Milton Bigucci para arrematar a nobre área pública daquela esquina tão concorrida. Há um jogo de pesos e contrapesos envolvendo o setor público e mercadores imobiliários que foge ao controle da ética e da moralidade. Mas sobre isso, ou seja, sobre Milton Bigucci, o Diário do Grande ABC prefere o silêncio. Que Milton Bigucci não se atreva a aproximar-se de Klinger Sousa porque aí o bicho poderia pegar feio. Ronan Maria Pinto está decidido a acertar todos aqueles que o desafiarem. Quer Klinger Sousa isolado.


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