Ora, ora, ora, a resposta é simples: porque a maioria dos políticos está comprometidíssima com os mercadores imobiliários. A pergunta do título e a resposta no primeiro parágrafo deste texto são consequências da reportagem do Diário do Grande ABC de hoje, terça-feira, sob o título “Convênio com Sehal dá dor de cabeça a Marinho”.
A diferença básica entre a denúncia do jornal, formulada no dia anterior em manchete principal de primeira página, e a série de textos desta revista digital sobre as lambanças de Milton Bigucci, presidente de um conglomerado de empresas do setor imobiliário e comandante há 20 anos da Associação dos Construtores do Grande ABC, é que o jornal resolveu por razões específicas retomar o corpo a corpo crítico tendo o prefeito Luiz Marinho, de São Bernardo, como alvo principal. Já esta publicação não abre mão de apontar problemas de representatividade e de idoneidade tanto numa fracassada organização de classe como num conglomerado de negócios de um empresário que não tem a ética como companheira de atuação.
Que seja bem-vindo o Diário do Grande ABC na apuração do caso Sehal, mas que salte do muro e se empenhe no caso das travessuras de Milton Bigucci. É claro que o jornal não vai se meter com Milton Bigucci, velho parceiro de aproximação com mercadores imobiliários naquilo que os veículos de comunicação mais apreciam, acima de qualquer veleidade ética: a imensidão de publicidade de empreendimentos comerciais e residenciais.
Tampouco os políticos que pretendem criar embaraços à Administração Luiz Marinho, e mesmo o prefeito Luiz Marinho, têm algum interesse
Descompasso comprometedor
Do que se trata, afinal, o caso Sehal? O Diário denunciou na edição de segunda-feira que o Sindicato de Hospedagem e Alimentação do Grande ABC recebeu nos últimos três anos R$ 8,4 milhões do governo federal para formação de cozinheiros, garçons, salgadeiros, confeiteiros e chapeiros. Os valores foram repassados de forma fragmentada entre 2010 e 2012. O contrato foi assinado pelo então presidente do Sehal, Wilson Bianchi, que deixou o cargo em setembro último depois de longos anos. Hoje é apenas secretário. Ou um presidente disfarçado de secretário. A suposta irregularidade que move os políticos oposicionistas
Sabe-se que o Diário do Grande ABC há muito estava informado sobre a suposta irregularidade, mas preferiu segurar o material até o momento apropriado. Como as relações entre a direção do jornal e a Administração Luiz Marinho voltaram a azedar, semelhantemente aos primeiros 18 meses do mandato do petista, entendeu-se na Direção do jornal que chegara a hora de jogar farofa no ventilador. Coincide com essa postura a reaproximação do comando do jornal com o governo do Estado, intermediada pelo deputado estadual Orlando Morando, queridíssimo na Rua Catequese entre outros motivos porque é o pombo correio de articulações que culminam em nacos publicitários. Além de tudo isso, a proximidade entre Wilson Bianchi, ex-presidente do Sehal, e Klinger Sousa, ex-amigo e hoje inimigo mortal de Ronan Maria Pinto, presidente do Diário do Grande ABC, seria a senha para a estocada.
Contraposição desafiadora
A contraposição entre o caso Sehal e as estripulias de Milton Bigucci à frente da Associação dos Construtores e do Grupo MBigucci é pertinente porque revela o contraste entre uma cobertura e outra do jornal sediado
Quem acredita que há exclusividade em torno de Milton Bigucci sobre falcatruas negociais está muito enganado. Mercadores imobiliários e políticos formam dupla insaciável. E quem paga a conta são os contribuintes tanto em forma de impostos como de mobilidade urbana, porque se entopem os corredores viários de torres residenciais e comerciais insanas.
Aliás, esta é uma das explicações para o fato de, até agora, a Procuradoria Geral do Município de São Bernardo levar em banho-maria a denúncia desta revista digital, acompanhada de provas irrefutáveis, sobre as maracutaias patrocinadas por Milton Bigucci para arrematar a nobre área pública daquela esquina tão concorrida. Há um jogo de pesos e contrapesos envolvendo o setor público e mercadores imobiliários que foge ao controle da ética e da moralidade. Mas sobre isso, ou seja, sobre Milton Bigucci, o Diário do Grande ABC prefere o silêncio. Que Milton Bigucci não se atreva a aproximar-se de Klinger Sousa porque aí o bicho poderia pegar feio. Ronan Maria Pinto está decidido a acertar todos aqueles que o desafiarem. Quer Klinger Sousa isolado.
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15/10/2024 SÃO BERNARDO DÁ UMA SURRA EM SANTO ANDRÉ