Administração Pública

Cidade Pirelli desaparece mesmo;
quem paga a conta do escândalo?

DANIEL LIMA - 21/11/2012

Como antecipamos em março deste ano sob o título “Sai Cidade Pirelli, entra Brookfield Plaza: quem perde e quem ganha?”, está confirmado com obras o investimento na Vila Homero Thon. Dá-se conotação de ampla e irrestrita normalidade ao assunto, festejado nas páginas de jornais. Como se o histórico de corrupção fosse fantasia. Celso Daniel morreria de vergonha se vivo estivesse, porque a Cidade Pirelli deixou um rastro de irregularidades que até agora o Ministério Público não apurou.


 


Algumas migalhas de contrapartidas serão repassadas pela Brookfield, que adquiriu parte das áreas em que seria distribuído o conjunto daquele empreendimento lançado com pompa e circunstância no final dos anos 1990. Revistas de circulação nacional destacaram o empreendimento pretendido pela Pirelli. Mais tarde, após beneficiar-se de mudanças na lei de uso e ocupação do solo, a multinacional italiana negociou os 170 mil metros quadrados.


 


O secretário municipal da Administração Aidan Ravin que cuidou de tudo isso, Francisco Muraro, foi executivo da Pirelli durante 30 anos e vai deixar de herança também um Plano Diretor aprovado na calada da noite no final do ano passado. Sem contar que foi denunciado como um dos integrantes da quadrilha que atuava no Semasa, autarquia da Prefeitura à qual está vinculada a área de água e esgoto.  Com um currículo desses, não se poderia esperar qualquer iniciativa moralizadora de Frederico Muraro.


 


Como os mercadores imobiliários não esgotam jamais o arsenal de marketing, agora se vive nova etapa, a etapa de especulação. O Diário do Grande ABC, que permaneceu durante todo esse tempo absolutamente omisso sobre as irregularidades da transposição de Cidade Pirelli para Brookfield Plaza, publicou uma matéria na edição de domingo com todas as características de publicidade, bem ao gosto dos mercadores imobiliários. O título do que chamaria de press-release -- “Valorização próxima à Pirelli será de 20%” -- dá o tom do esquema promocional por trás do lançamento do agora oficialmente chamado Brookfield Century Plaza.


 


Aliás, a mudança de denominação foi o arremedo preparado para dar um drible nas responsabilidades contratuais firmadas pela Pirelli quando das negociações aprovadas pelo Legislativo de Santo André, em 1998. Acredita-se, vejam só, que com a nova marca a Cidade Pirelli morreu para valer inclusive para efeitos jurídicos -- ou seja, as transgressões cometidas vão ser simplesmente esquecidas. Estarão, portanto, a salvo de penalidades.


 


Viaduto Cassaquera é um escândalo


 


A construção do Viaduto Cassaquera, obrigação legal da Pirelli e das empresas com as quais compartilharia a Cidade Pirelli, foi bancada integralmente pela Prefeitura de Santo André, durante a Administração João Avamileno. Convenhamos que nenhum administrador público cometeria tamanha aberração se não contasse com reciprocidades. 


 


Em julho do ano passado produzimos um texto (“Má notícia para Aidan Ravin: Cidade Pirelli está enterrada”) que apontava a posição da Construtora e Incorporadora Brookfield favorável à extinção da marca que remetia àquela multinacional de origem italiana, porque sabia que lhe sobrariam buchas. O passivo dos investidores em contrapartida às enormes vantagens da multiplicação do potencial de construção nas áreas aprovadas para a Cidade Pirelli não teria sido comunicado àquela construtora. A Brookfield ficou com apenas 45 mil metros quadrados do total de 170 mil do estoque pertencente à Pirelli.


 


Trocando em miúdos: o contrato de compra da área por R$ 50 milhões não previa qualquer relação com a Cidade Pirelli. Entrevistei pessoalmente um executivo da Brookfield, que foi enfático: o negócio foi pautado por regras do mercado. Ao desvincular as três áreas adquiridas da multinacional italiana do destino original do espaço reservado há mais de uma década para a Cidade Pirelli, a direção da Brookfield teria agido com a praticidade de quem quer apenas agregar valores econômicos e sociais aos empreendimentos. Desconfia-se, entretanto, que, ardilosamente, a omissão sobre o arcabouço legal daqueles terrenos teria sido regiamente compensada aos portadores de Alzheimer seletivo.


 


Mais tarde, para dar uma ajeitada na situação, a Brookfield decidiu em comum acordo com a Prefeitura destinar um valor monetário que será convertido em obras que pretendem minimizar os estragos no sistema viário nas imediações do empreendimento que abrigará o Atrium Shopping, dois hotéis, uma torre comercial e cinco torres residenciais. A generosidade da Brookfield teria o condão de silenciar as poucas vozes que se manifestaram intramuros contrárias aos desdobramentos das negociações entre a Prefeitura e a construtora.


 


Sobre os mais de 100 mil metros quadrados que restam a ser ocupados e que originalmente pertenciam à Cidade Pirelli, com as contrapartidas ocupacionais determinadas pela legislação, não se ouve absolutamente nada. A Administração Aidan Ravin não tem o menor zelo com a transparência. Espera-se que a Administração Carlos Grana se manifeste assim que tomar posse em janeiro. Seria exigir demais? As informações dão conta de que a especulação imobiliária tomou conta daqueles espaços. E que falar em contrapartidas é heresia.


 


Como nada disso parece importar a quem está no comando da Prefeitura de Santo André e tampouco ao partido que ganhou as eleições de outubro, porque todos estão igualmente com os fundilhos sujos e evitam uma guerra autofágica, quem vai pagar a conta será o contribuinte de Santo André. Morrer a Cidade Pirelli poderia ter morrido sem problemas adicionais, porque o assassinato de Celso Daniel provocou um vácuo administrativo na Prefeitura de Santo André durante os seis anos da Administração João Avamileno, seguido de apatia desconcertante de quatro anos da Administração Aidan Ravin. Apatia em termos, é claro, porque os olhos de boa parte do secretariado do petebista brilharam quando a Brookfield apareceu na praça com a proposta de construir um megaprojeto que une centro de compras, hotelaria e apartamentos.


 


Apenas para aguçar curiosidade à leitura: há 74 matérias nos arquivos desta revista digital que tratam direta ou indiretamente da Cidade Pirelli. As três sugestões que seguem abaixo atingem diretamente o coração desse escândalo público-privado.


 


Leiam também:


 


Sai Cidade Pirelli, entra Brookfield Plaza: quem perde e quem ganha?


 


Má notícia para Aidan Ravin: Cidade Pirelli está enterrada


 


Muraro se cala e escândalo da Cidade Pirelli é levado ao MP


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