Administração Pública

Veja a receita da vice de Grana
para a economia de Santo André

DANIEL LIMA - 23/11/2012

Fiquei em dúvida sobre o título deste artigo. Preferi o caminho da suavidade porque mulher tem de ser bem tratada, mesmo quando diz bobagens de arrepiar. É o caso de Oswana Fameli, candidata que o PT escolheu vice do então concorrente à Prefeitura de Santo André, Carlos Grana. Educadora e presidente de uma entidade que, como tantas outras da Província do Grande ABC, sempre foi mal das pernas de representatividade, Oswana Fameli caiu na farra do ufanismo a que estão condenados todos que se metem na gestão pública. No caso dela, que se meterão, porque ainda não assumiu a Prefeitura.


 


Oswana Fameli é uma mulher educada, fina, elegante, mas os parcos conhecimentos sobre a economia da Província e particularmente da cidade que representa não a autorizam a elucubrações sobre desenvolvimento sustentável.


 


A propósito da chegada do Atrium Shopping em Santo André, em parte dos espaços reservados à Cidade Pirelli que se foi sem nunca ter chegado, eis um trecho da matéria que trata de declarações de Oswana Fameli, vice-presidente licenciada da Acisa (Associação Comercial de Santo André) ao Diário do Grande ABC sempre bovino ante declarações estapafúrdias:


 


 Oswana Fameli (...) esteve ontem no espaço e comentou sobre o impacto da obra para a economia da cidade. “É distribuição de renda, receita, emprego e riqueza. Nós precisamos de inovação e tecnologia”.


 


Num texto auxiliar, sob o título “Centros de compras não devem afetar comércio de rua”, pinçamos alguns parágrafos porque também contam com a participação da vice-prefeita eleita:


 


 O Atrium Shopping, em Santo André, que será inaugurado em outubro, e outros centros de compra não devem afetar o faturamento do comércio de rua na cidade, de acordo com a vice-prefeita eleita Oswana Fameli, licenciada do cargo de vice-presidente da Acisa. “Acho que tem espaço para todo mundo. Temos que oferecer um bom trabalho e profissionalizar nosso negócio; a partir do momento que nós conseguimos isso, a circulação aumenta em todos os locais, tem espaço pra todo mundo”, afirmou.


 


Cuidado, Carlos Grana!


 


Tomara que o prefeito Carlos Grana não caia na bobagem de escalar a vice-prefeita ao comando da Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Bastaria essa loucura para superar, de cara, a inoperância da Administração Aidan Ravin na área. Ou os leitores desconhecem que aquela Secretaria, que deveria ser da linha de frente do Município que mais empobreceu nos últimos 40 anos no País, não emplacou um único profissional durante os últimos quatro anos?


 


Preferiu, Aidan Ravin, recorrer aos préstimos de um estatístico forjador de numerologias mambembes, desfilando dados que enrubesceram quem tem um pouquinho de vergonha na cara – só no ano passado, vejam só, Santo André cresceu 17%, segundo aquele suposto especialista sofisticado na condução de estudos esfarrapados.


 


As declarações não passarão de uma bobagem a ser desconsiderada se o prefeito Carlos Grana e o restrito número de assessores-chave que procurará ordenar a gestão de Santo André não rebocarem Oswana Fameli para os quadros estratégicos. Oswana Fameli não tem intimidade alguma com as nuances da Economia municipal, enfeixadas obrigatoriamente no movimento das pedras da Província do Grande ABC que, por sua vez, depende em larga parcela do que se passa no Estado de São Paulo, no País e nesse mundo globalizado.


 


Dizer como disse que um empreendimento comercial, como é o Atrium Shopping, e o entorno programado de hotéis, salas comerciais e torres residenciais significam desenvolvimento econômico, é desconhecer minimamente as matrizes que fazem a diferença. Afirmar, igualmente, que a chegada de grandes conglomerados comerciais, como centros de compras, não afetam o pequeno comércio, também é uma heresia. Tanto os shoppings como os supermercados e mesmo os pequenos mercados de bairros de grandes empreendedores nacionais e multinacionais afetam diretamente a vida dos comerciantes -- principalmente os comerciantes, de linhagem familiar. Não faltam estudos a respeito.


 


Gravidade de décadas


 


Rosana Fameli está alheia aos estudos desta revista digital publicados no agrupamento do G-20, que se refere às 20 maiores economias paulistas, excetuando-se a Capital. Produzi quase duas dezenas de matérias desde que decidi, recentemente, enquadrar esses municípios sob um mesmo invólucro, retirando portanto o manto protecionista de comparar os municípios da Província do Grande ABC entre si -- uma estupidez completa quando se pretende, de fato, acompanhar atentamente o andar da carruagem sob prisma mais completo, mais orgânico, mais crítico.


 


Em boa parte do espaço a ser ocupado pelo empreendimento da Brookfield, tão louvado por Oswana Fameli e seu desejo incontido de agradar a plateia mesmo depois de as urnas apontarem a vitória da coalizão petista, era sim geradora de riqueza, porque estavam ali os alicerces diretos ou indiretos das divisões fabris da Pirelli. A mesma Pirelli que se escafedeu quase por completa em direção a outros municípios suficientemente distantes da Região Metropolitana de São Paulo em busca de maior rentabilidade e também suficientemente perto por conta do mercado consumidor mais valioso do País, no caso a Capital do Estado, esta sim, embora ainda fortemente industrializada, capaz de resistir à desindustrialização porque conta com terciário de valor agregado que Celso Daniel tanto sonhava para Santo André.


 


O destrambelhamento econômico de Santo André em quatro décadas é notório. Mesmo num período mais ameno, do final dos anos 1990 até o final da primeira década do novo século, a situação não se reverteu. Entre 1999 e 2009 o PIB da Indústria de Santo André cresceu nominalmente (sem efeitos da inflação) apenas 92,13%, posicionando-se na lanterninha do G-20. Já no PIB Geral, que envolve todos os setores (indústria, serviços públicos, serviços privados e agropecuária), Santo André caiu no mesmo período do sétimo para o nono lugar entre os 20 municípios. Se a conta levar em consideração a riqueza do PIB Geral dividida pela população de cada Município, Santo André é um vexame total, porque desaba do 11º para o 17º lugar.


 


Praticamente sob qualquer ângulo que se observe a economia de Santo André, correlacionando-a a municípios igualmente importantes do Estado, os resultados serão constrangedores. O Município outrora Capital Econômica, Capital Política, Capital Cultural e Capital Esportiva da Província do Grande ABC, sofre viuvez múltipla, porque perdeu todos esses títulos.


 


O deslumbramento de Oswana Fameli com a chegada de um novo shopping e algumas torres imobiliárias é típico de quem acredita que vai agradar a plateia, agora que está em vias de travestir-se de agente público. Pode até conseguir o intento, mas sempre com prazo de validade curto. Foi e será sempre assim. Quem vive o dia a dia de Santo André sabe que mais que o sofrimento das perdas econômicas, que conduziram a outras perdas, dói mesmo o sentimento de que segue na praça uma velharia conceitual que resiste a ser atirada ao lixo, entre outras razões porque há interesses específicos e particulares a explorar, à custa do coletivo social.


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