Política

Marinho arrogante e Regina generosa
dão o tom pós-eleitoral na Província

DANIEL LIMA - 06/12/2012

Na mesma terça-feira última, em jornais diferentes, Diário Regional e Diário do Grande ABC, estão impressos dois comportamentos contrastantes e que subvertem o lugar comum dos observadores nem sempre atentos da cena política regional: o supostamente afável e conciliador Luiz Marinho dá uma demonstração inequívoca de arrogância e de ignorância enquanto a derrotada candidata à Prefeitura de São Caetano, Regina Maura Zetone, deu uma prova de grandeza, embora com excesso de humildade, e quebra a cara daqueles que a converteram num monumento de nariz empinado deliberadamente para desclassificá-la na corrida eleitoral.


 


Há gente para tudo quando se trata de construir ou destruir imagens sob bases de subjetividades interpretativas nem sempre atentas. A suposta humildade de Luiz Marinho é apenas uma fachada do petista que dirige a Prefeitura de São Bernardo. Há exemplos fartos de que o homem escolhido e apoiado por Lula da Silva para dirigir a Capital Econômica da Província do Grande ABC e controlar o partido em toda a região não é tão acessível e muito menos um esplendor de competência administrativa que alguns insistem em rotular. A realidade dos fatos é que Luiz Marinho é um prefeito-operário. Operário no sentido mais profundo do termo, de trabalhador incansável.


 


Já com Regina Maura, o que fizeram durante as eleições foi um assassinato de reputação. O suposto distanciamento que manteria dos mortais comuns foi café pequeno ao confundirem uma executiva pública inquieta com as demandas sociais com uma mulher protegida pelo prefeito. Atribuíram-lhe muito mais supostos deslizes. E até hoje se insiste nessa tecla, inclusive com a junção do prefeito José Auricchio Júnior, até outro dia reconhecidamente um Executivo competente mas, bastou a derrota de sua indicada, em circunstâncias de guerra de guerrilhas, para virar igualmente um intragável exemplar político. Os mesmos que o aplaudiam antes agora dão corda ao cordão de detratores.


 


Show de estrelismo


 


Primeiro vamos ao caso envolvendo o prefeito Luiz Marinho -- aliás, mais um caso do petista. O título da matéria publicada pelo Diário Regional (“Marinho muda discurso e não descarta assumir Consórcio”) não trafega pela via escorregadia da essência do texto. Fosse o título à altura do conteúdo, não deveria faltar algum verbete seguido ao nome de Marinho. Arrogante ou prepotente, por exemplo. Vale a pena, até para preservar a precisão das informações, repassar os principais trechos da matéria:


 


 O prefeito reeleito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), mudou o discurso e, agora, não descarta assumir a presidência do Consórcio Intermunicipal do ABC em 2013. Além de ter sido o único prefeito da região a garantir mais quatro anos de mandato entre os três que disputaram a reeleição, o petista já está por dentro da pauta da entidade. Também conta a seu favor a vasta experiência em administração pública para dar prosseguimento aos assuntos de interesse da região e o fato de os demais seis prefeitos serem marinheiros de primeira viagem. “Tenho consciência de que, se tivesse pautado o desejo de presidir o Consórcio, já teria presidido. Nunca pautei e não pautaria nos próximos anos. Porém, o fato de ser um veterano me coloca na condição de aceitar ser presidente, desde que os demais prefeitos coloquem que devo assumir. Não fujo da briga nem da raia e, por isso, acho que vou assumir. Não fosse isso, não brigaria para ser (presidente do Consórcio). Só assumirei se houver consenso e, caso haja alguém que discorde disso, não vou assumir”, disse Marinho. Ao ser questionado sobre possíveis mudanças para a entidade, Marinho foi taxativo: “Na verdade, a região tem longa experiência de Consórcio e nasceu discutindo os resíduos sólidos. Hoje trata de absolutamente todos os temas. Talvez seja o caso de priorizar alguns projetos para trabalhar com começo, meio e fim e mobilizar toda a região. No entanto, também é algo para ser discutido no próximo ano”, ponderou.


 


Traduzindo Marinho


 


Vamos traduzir as declarações de Luiz Marinhos sem salamaleques: o petista quer ser aclamado por todos, quer ser convidado como a grande estrela regional, e estabelece a ditadura do consenso típica de sucessões sindicais, tanto no âmbito trabalhista como no setor empresarial. O consenso de conveniência é o que move Marinho, há 300 anos no ambiente econômico e social da Província do Grande ABC, mas incapaz de um momento sequer de regionalidade. Alguém que à beira de assumir o que chamo de Clube dos Prefeitos mostra claramente que não tem o menor interesse e também a menor noção do que é regionalidade, alguém assim terá muito pouco a contribuir com o organismo. Regionalidade para Luiz Marinho só tem significado de poder, de partidarização, comandando o PT nos sete municípios. De lúcido em sua declaração apenas a constatação mais que óbvia, histórica, de que o Clube dos Prefeitos é uma ode à perda de tempo, ao desperdício tático, à nebulosidade estratégica, exatamente porque a quase totalidade dos ocupantes do cargo principal dos respectivos municípios desde o começo dos anos 1990, quando a instituição foi criada, jamais se entregou à empreitada. Exceto, principalmente, Celso Daniel, até que se visse como bobo da corte.


 


Já as declarações da excessivamente humilde de Regina Maura Zetone foram publicadas pelo Diário do Grande ABC sob o titulo “Era a vez de Pinheiro, diz Regina Maura”. Convém transcrever alguns trechos do material jornalístico:


 


 Ciente das dificuldades que teve durante a eleição e dos méritos do adversário, Regina Maura Zetone (PT) admite, de maneira lúcida e republicana, que “era a vez do Paulo Pinheiro (PMDB)” ser prefeito de São Caetano: “Encontro as pessoas nas ruas, elas ainda me incentivam. Mas dizem que ainda sou jovem, que tenho uma carreira pela frente e que meu momento vai chegar. Hoje vejo que era a vez do Paulo Pinheiro. Antes da eleição não tínhamos essa sensação”, reconhece Regina. (...) Na análise da derrota, semelhanças com o adversário foram prejudiciais. “Ele fazia parte do nosso grupo (Pinheiro deixou o PTB em outubro de 2011 para ingressar no PMDB e ser candidato a prefeito). As pessoas viam que eram duas pessoas boas e isso confundia muito”, avaliou a ex-prefeiturável governista.  (...) A petebista considera ainda que houve mérito do adversário ao, durante a campanha eleitoral, descontruir o governo bem avaliado de Auricchio: “Em julho de 2011 a aprovação da gestão era de 90%. No processo eleitoral foi para 50% de rejeição. Foi o governo que mais fez obras, mais fez programas, mais fez ações na história da cidade. Recebemos muitos prêmios, talvez o maior deles na área de mortalidade infantil, ao atingirmos o índice de 6,9 mortes para cada 1.000 nascidos vivos”, discorre Regina.


 


Traduzindo Regina


 


Convenhamos que Regina Maura foi generosíssima na avaliação exposta ao Diário do Grande ABC. Bem ao gosto, aliás, do Diário do Grande ABC. Afinal, o que tivemos em São Caetano durante a campanha eleitoral (e não faltam declarações nesse sentido) foi uma autêntica carnificina moral e ética, com ataques contundentes principalmente por questão de gênero. Regina Maura Zetone foi metralhada nas quebradas e nas madrugadas por gente hipócrita que transforma disputa eleitoral em guerra de vida e morte. Inclusive com suporte do PT de Luiz Marinho, que viabilizou grande parte do financiamento da campanha de Paulo Pinheiro, tomando o controle de uma corrida rumo aos votos tendo como opção um agente público sem grande brilho durante longos períodos de vereador, mas suficientemente enquadrado no figurino de seriedade e equilíbrio que São Caetano tenta preza. 


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