Administração Pública

Administração Marinho é corrupta
ou Diário está completamente louco?

DANIEL LIMA - 10/12/2012

É isso mesmo, cheguei a essa conclusão (ou a essa inconclusão) após ler série de matérias publicadas nos últimos dias pelo Diário do Grande ABC sobre o petista que pretende chegar ao governo do Estado em data ainda não definida e que, claro, depende dos tucanos que comandam os paulistas há duas décadas.


 


Fico encasquetado com mais um caso de despudor absoluto: como pode um gestor público (se já não bastassem alguns bandoleiros privados) simplesmente omitir-se ante tamanha saraivada de denúncias? Seria Luiz Marinho conivente ou participante ativo de uma roubalheira sem limites em pleno período de pós-julgamento do mensalão, ou o Diário do Grande ABC extrapola a liberdade de expressão e ataca o dirigente politico munido de uma artilharia de abuso informativo?


 


Vamos, primeiramente, repassar as manchetes principais de páginas internas sobre o assunto de que trataremos. A dimensão do tempo e do conteúdo mesmo que sintetizado nas manchetes fornece o combustível necessário à tentativa de avaliação do caso. Primeiro, portanto, às manchetes e à linha auxiliar:


 


 “Grupo técnico do TCE julga irregular contrato de R$ 146,5 milhões” – Licitação em São Bernardo é considerada restritiva; Consórcio OAS/Emparsanco venceu.


 


 “OAS tem R$ 735 milhões em contratos” – Valor refere-se a licitações desde 2009, quando Marinho assumiu o Paço de São Bernardo.


 


 “Marinho e OAS estão na mira do MP” – Aditivo de 185% em obra em São Bernardo salta aos olhos de promotor e da oposição.


 


 “Vereador eleito atuou com poder de mando na OAS” – Aliado de Marinho omite empresa que presta serviço à H. Guedes.


 


 “OAS, Emparsanco e PT fazem triangulação por Luiz Marinho” – Partido repassa doações milionárias de empreiteiras ao prefeito de S. Bernardo.


 


 “OAS executa obras só com Marinho no Grande ABC” – S. Bernardo é a única cidade a contratar empreiteira alvo do MP.


 


 “Marinho destina 70% dos ganhos da OAS” – Prefeitura de S. Bernardo paga R$ 1,032 bi do R$ 1,485 bi recebido pela empreiteira no Estado.


 


 “Vereador aliado de Marinho recua e declara empresa” – Ex-funcionário da OAS, Índio havia omitido patrimônio ao TSE.


 


Ante essa avalanche de manchetes que sugerem sim uma roubalheira completa, talvez fosse até mesmo desnecessário o detalhamento da relação da Administração Luiz Marinho com a empreiteira em questão.


 


O Diário do Grande ABC de segunda-feira, 16 de novembro (portanto, de uma quinzena atrás), publicou um editorial que supostamente resumiria a denúncia. Sob o título “Olho no dinheiro público”, reproduzimos o posicionamento do jornal sobre a denúncia:


 


 São mais extensos do que se imaginava os laços da Prefeitura de São Bernardo com a construtora OAS. Sabe-se agora, graças a levantamento feito por este Diário, que R$ 6 de cada R$ 100 pagos pelo contribuinte aos cofres municipais nos quatro anos da administração Luiz Marinho (PT) foram destinados à empresa. É muito dinheiro, o que deverei servir para redobrar a atenção dos órgãos fiscalizadores, Câmara incluída, com os contratos públicos assinados com a megaconstrutora. Todavia, não é o que se vê. Reeleito para o segundo mandato, Marinho tem voado em céu de brigadeiro. Dados oficiais obtidos no sistema do Tribunal de Contas do Estado, caminho necessário à apuração devido às limitações impostas pelo portal de transparência do município, informam que o prefeito vai destinar, somente em contratos assinados em sua gestão, R$ 734 milhões à OAS – o equivalente a 20% do Orçamento previsto para este ano, no valor de R$ 3,7 bilhões. Indícios de irregularidades, como o direcionamento dos editais para que apenas a empresa tivesse condições técnica de vencê-las, já foram apontados pelo TCE. No entanto, não foram suficientes para que a Prefeitura revisse os métodos de aplicação do dinheiro do cidadão. Pelo contrário. O governo Marinho especializou-se em obter do tribunal reiterados adiamentos de prazo para explicar as suspeitas, protelando a promulgação de sentenças que poderiam julgar irregulares os contratos com a poderosa empreiteira – que, enquanto isso, continua recebendo os polpudos repasses de verbas. A bem da sociedade são-bernardense, é preciso reforçar a fiscalização dos gastos da Prefeitura. Principalmente os que têm histórico de suspeita de irregularidade – escreveu o Diário em editorial.


 


Trégua ou recuo?


 


Nos últimos dias o Diário do Grande ABC deu uma trégua na cobrança. Seria apenas uma cronologia natural de um temário que não necessariamente requer tempo para novo fôlego ou teria o matutino desistido de ir em frente nas denúncias?


 


O que mais se verifica no jornalismo verde e amarelo é a inconstância de cobertura a determinados temas, principalmente quando envolvem denúncias de irregularidades que sugerem corrupção. Não se sabe por que cargas d’água o que advém após minuciosos relatos e posicionamentos rigorosos é um vazio completo, confiando-se na memória curta dos leitores e do cidadão de maneira geral. Tenho coleções de situações de irregularidades que evaporaram do noticiário. Assunto relevante não sai apenas por acaso da pauta jornalística, por mais que o jornalismo impresso diário tenha se especializado em negligenciar mecanismos de recuperação de material inconcluso.


 


Resta saber o que teremos nos próximos dias sobre as intimidades da Administração Luiz Marinho e aquela megaconstrutora. Nos dias seguintes à denúncia o Diário do Grande ABC mostrou a correlação dos valores obtidos pelo petista nas campanhas eleitorais de 2008 e 2012 e aquela prestadora de serviços. Que existe algo mais que uma corrente de água natural envolvendo o prefeito de São Bernardo e a OAS parece não haver dúvida. Mais ainda: desconfia-se que não seja nada republicana essa aproximação quando o prefeito simplesmente sonega qualquer tipo de informação, dando de ombros às tentativas do jornal em obter esclarecimentos.


 


Ditadura econômica


 


Por enquanto, apenas o Diário do Grande ABC tem batido na tecla da desconfiança de que a OAS não é lá uma Brastemp de construtora a ponto de converter-se em parceira mais que preferencial do prefeito petista. As demais publicações impressas e digitais da Província do Grande ABC fazem vistas grossas às denúncias. Nenhuma novidade, porque vivemos uma ditadura completa. A liberdade de imprensa está subvertida e manietada pela dificuldade de sustentação financeira dos empreendimentos jornalísticos. Dependendo do assunto e dos interesses em jogo, principalmente quando envolve o Poder Público e aliados do setor privado, o silêncio é insuportável.


 


Tomara que o Diário do Grande ABC vá em frente com o caso OAS-Marinho. Para tanto, é preciso não dar trégua e continuar a expor elementos técnicos confiáveis, por mais que uns e outros desconfiem de que seja o noticiário seletivista demais. Mas, de qualquer modo, parece evidente que há um incômodo a perturbar a Administração Luiz Marinho e o setor de construção civil, o braço mais atrevido no financiamento eleitoral, conforme provam os últimos dados desta temporada de votos em todo o Brasil. Quem conseguirá amarrar o guizo da moralidade pública no pescoço da construção civil e do mercado imobiliário que, somados, alimentam a voracidade dos políticos em busca de recursos financeiros para se manterem ou conquistarem o poder? -- entre outras iniciativas menos, digamos, nobres.


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