Administração Pública

Entorno de Piagentini prepara
assalto à Administração Grana

DANIEL LIMA - 19/12/2012

O construtor Paulo Piagentini ainda não assumiu a Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano da Administração Carlos Grana, mas a ocupação do terreno já é uma realidade nos bastidores. A indicação do empresário dá uma clara ideia de que não se espera nada de republicano no governo petista que sucederá Aidan Ravin em Santo André. O que isso quer dizer? Quer dizer que é intestinamente suspeita, por mais que Paulo Piagentini não tenha nada que o desabone como empresário.


 


Então, qual é o problema para que seja mantida a indicação? É o entorno do secretário indicado, as conexões empresariais, o manancial de desvios éticos, morais e materiais que a secretaria, umbilicalmente ligada ao Semasa, ensejam. E é, principalmente, um plano já em fase de aperfeiçoamento para tomar de assalto o território de Santo André em tudo que se referir ao mercado imobiliário e a obras públicas.


 


Um plano audacioso, manipulado por gente muito próxima ao secretário indicado, ao governo municipal e também a tentáculos do governo federal. Gente sem escrúpulo -- um mercador imobiliário muito conhecido em São Bernardo, e latifundiários urbanos de Santo André, um dos quais já condenado pela Justiça, e um dublê de político sem votos e empresário ganancioso, preparadíssimo para qualquer negócio. 


 


O prefeito Carlos Grana não terá o direito constitucional de alegar desconhecimento depois destas linhas, porque mais do que ninguém na praça é muito bem informado e sabe como ser bem informado. O trafico de influência cresce às suas barbas. A dinheirama prevista é de arrepiar os cabelos.


 


Golpes que fazem milionários


 


Todo mundo sabe que mercadores imobiliários são uma espécie insaciável por dinheiro e intolerantes a ponderações. Bem diferente dos empreendedores imobiliários que sofrem para se manterem vivos num setor cartelizado, centralizado, dominado por gente sem pudores. Gente que patrocina políticos vitoriosos porque sabe que sem abastecê-los serão criadas dificuldades à tomada privilegiada de áreas estratégicas para investimentos nestes tempos de crédito farto e consumidores excessivamente dependentes de noticiários fajutos, instrumentalizados por lobistas.


 


Tem ideia o leitor do quanto passa a valer determinado terreno comprado a preço de banana, mas delituosamente ocupado por torres residenciais ou comerciais que subvertem os índices de construção ou cuidados ambientais? Imagine números estratosféricos e multiplique por 10 para chegar à metade da rentabilidade. Ou quanto rende investimento do governo federal em habitação e infraestrutura? Assim, dessa forma, não é nada difícil tornar-se rico num País tão liberal. E tão bovino, evidentemente.


 


O que se projeta para o território imobiliário e de obras públicas em Santo André é um acinte. A Administração Carlos Grana dará razão àqueles que afirmam que nada fará, exceto locupletar-se, porque não lhe interessaria criar áreas de atrito com apoiadores eleitorais. Mesmo que esses apoiadores tenham sido visceralmente hostis ao PT em tempos passados. Tempos em que o PT oposicionista explodia em oratória de moralização da ocupação espacial dos municípios. Agora o revolucionário PT e os piores tipos de mercadores imobiliários juntam-se em Santo André, depois de se juntarem em outros territórios.  Aliás, petistas e essa fauna de delinquentes já se uniram antes. Agora, pretendem aperfeiçoar o modelo, porque há muito mais dinheiro federal e doméstico em jogo.


 


Nomeação é um deboche


 


Nomear Paulo Piagentini é mais que imprudência ética -- é um deboche institucional. Nem que seja o empresário mais preparado e mais habilitado moralmente a falar em nome de uma classe por demais pragmática, Paulo Piagentini jamais poderia ocupar o posto de chefe de uma atividade que exige extremo conhecimento técnico e, sobretudo, distanciamento das forças de pressão capitalista.


 


A condição de engenheiro não habilita Paulo Piagentini a autoproclamar-se apropriado para ocupar a Secretaria. Engenharia é uma coisa e especialização em diagramar e definir critérios de qualidade de vida urbana é outra. Quanto à proximidade com agentes privados que vivem do mercado imobiliário, é dispensável avançar em avaliações. É natural proteger os próximos, principalmente os próximos quando estão mais próximos do que se imagina. Talvez o que tenha sido relevante na indicação antecipa-se às qualificações profissionais de Paulo Piagentini: ele é diretor da Acisa (Associação Comercial de Santo André) e diretor regional do Sinduscon, o Sindicato da Construção – senhas culturais para as aproximações entre esferas públicas privadas.


 


O esquema que se prepara para achincalhar a inteligência dos contribuintes é um passivo que compromete de cara a gestão de Carlos Grana. A revogação da nomeação de Paulo Piagentini é apenas uma parte de um enredo que recomenda muito mais, inclusive para preservar sua biografia. O PT não pode afundar-se ainda mais na desmoralização já embutida do mensalão e de tantos outros escândalos. É preciso que reaja com transparência às desconfianças generalizadas que a população lhe impõe. No caso da Secretaria de Habitação e Urbanismo, irmã siamesa do Semasa na estrutura de amarras burocráticas do setor de construção civil, a escolha de um técnico reconhecidamente independente e a introdução de mecanismos democráticos de transparência dos trâmites processuais são pontos nucleares da nova gestão que se avizinha.


 


Se Carlos Grana não compreender que é preciso reduzir o grau de trambicagens na Administração Pública, retirando ou amenizando o peso deletério de elementos que só não estão atrás das grades porque contam com o beneplácito de uma estrutura constitucional extremamente benévola e um arranjo burocrático que estimula cafetinagem com o Erário Público, sua Administração a ser iniciada em 1º de janeiro sinalizará um vale-tudo que, certamente, colocará Santo André nas manchetes policiais e politicas da imprensa mais séria.


 


Secretariado é menos grave


 


Carlos Grana caminhará para uma derrocada fatal caso teime em sustentar um modelo de relacionamento incestuoso que está prestes a ser deflagrado. Algo muito mais grave, por exemplo, do que a nomeação de tantos outros secretários de terceira linha para retirar Santo André da pasmaceira que já vem de longe, entre os quais sua companheira de chapa na disputa eleitoral, Oswana Famelli, nomeada para a Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Uma proprietária de escola que não resistiria a uma sabatina pública com quem entende minimamente do riscado econômico municipal e regional.


 


Como se vê, exceções à parte, Carlos Grana promete uma Administração que associará clarividente incompetência e vigarice juramentada.


 


Levando-se em conta que Carlos Grana não é ingênuo nem tampouco acredita em Papai Noel, a nomeação de Paulo Piagentini contextualiza disposição de produzir uma Administração eivada de desafios à integridade social e judiciária. O potencial do escândalo entrou na sala de análises de Carlos Grana sem causar qualquer transtorno, porque a porta da conveniência estava aberta. Por isso, Carlos Grana não poderá alegar que desconhece o assunto. Os abutres que não cansam de sair em colunas sociais de jornais e revistas e até promovem encontros benemerentes para sensibilizar o distinto público estão a rir de todos nós. Mesmo com a suposta espada do julgamento do mensalão a sinalizar decapitações. 


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