Não fosse o mico imobiliário chamado Domo, conjunto de torres comerciais e residenciais no entorno do Paço Municipal, a programação do Carnaval de São Bernardo na Avenida Aldino Pinotti seria um autêntico caos em acessibilidade, logística e, principalmente, em desconforto político para a Administração Luiz Marinho.
Leio nos jornais impressos e digitais que as escolas de samba e os blocos carnavalescos de São Bernardo vão desfilar mais uma vez na Aldino Pinotti. Confesso que ainda não acredito na informação, mas é melhor acreditar porque nada em sentido contrário se divulgou.
O constrangimento político possivelmente será digerido. Poucos moradores ocupam algumas unidades de centenas de apartamentos lançados. Mas, convenhamos, mesmo assim trata-se de uma enrascada. Quando esses poucos moradores descobrirem que botaram uma caixa de ressonância histérica e duradoura em suas janelas, acabarão desconsolados. Provavelmente vão se arrepender de não terem optado por uma viagem qualquer, pouco se importando com as estradas cheias.
Eu que moro a boa distância dali e que não tenho o sono por dizer leve, sei o quanto o Carnaval incomoda quem pretende descansar para malhar no trabalho no dia seguinte. Imagine então a situação mesmo para quem resolva relaxar e dirigir-se à janela para observar atentamente as curvas das cabrochas? Fosse apenas essa a alternativa, o mundo seria uma maravilha. Não há quem em perfeito juízo desdenhe de uns pares de pernas e de rechonchudas ancas, principalmente longe de olhares familiares desaprovadores. O problema é a barulheira, que não tem hora para terminar. Sem contar a volumosa multidão episódica, capaz de deixar um rastro de destruição por onde passar, além, é claro, de uma sucessão de improvisadas latrinas a céu aberto.
Localização inadequada
Francamente não sei o que é pior, se as torres comerciais e residenciais às moscas (sob o silêncio acumpliciado da entidade que deveria dar tratamento mais responsável às informações do setor) ou se a imprevidência da Administração petista de São Bernardo. Em são consciência e independentemente da quantidade de moradores e de ocupantes daqueles espaços imobiliários, a realização dos festejos de Momo naquele espaço já deveria ter sido suprimida há muito tempo. Até mesmo para que se valorize como espetáculo que merece um endereço específico dentro de condições tecnicamente adequadas e sem comprometer a qualidade de vida da vizinhança.
É claro que o prefeito Luiz Marinho não vai cair na esparrela de anunciar uma passarela do samba em São Bernardo, uma réplica da Marquês de Sapucaí, ou mesmo do Sambódromo de São Paulo, porque deve estar mais cauteloso após anunciar um aeroportozão na região dos mananciais e descobrir que nem aeroportozinho será possível. Tudo bem. Mas aonde a Administração Luiz Marinho encontraria espaço para solucionar um problemão que só não estourou este ano porque faltou combinar com os russos da demanda imobiliária e o que parecia um conto de fadas de empreendimento, com milhares de pessoas a ocuparem o Domo em todas as suas variáveis, virou pó? A resposta é muito menos complexa do que tentar inventar um aeroporto na cidade.
Tenho a impressão que os poucos moradores daquelas torres residenciais ainda não têm conhecimento do que os espera agora em fevereiro, porque a maioria, segundo informações, não tem a intimidade com os eventos da região, ou especificamente de São Bernardo, como legado de conhecimento prévio ao adquirirem aqueles imóveis. Muitos vieram de pontos distintos da Grande São Paulo, enfeitiçados por campanhas de marketing que prometeram os céus a quem se aventurasse naquele espaço.
Armadilha coordenada
Todo mundo sabe como funcionam as estratégias de convencimento no mercado imobiliário dominado pelos grandes players. E os grandes players da Capital são mais competentes em matéria de sensibilização dos potenciais adquirentes do que os poucos grandes players locais, ainda provincianos como quase tudo por aqui. Quando esses moradores sentirem na pele e nos ouvidos o que significarão aqueles dias de festejos, vão esconjurar até a quarta geração dos corretores de imóveis que omitiram informação tão singela.
Esperar que a Administração Luiz Marinho ou qualquer outra Administração Pública se preocupe com os ouvidos alheios é pura alucinação porque a maioria dos executivos da Prefeitura vai se mandar para lugares mais que bucólicos naquele feriado.
Luiz Marinho provavelmente cumprirá o ritual protocolar de abertura dos festejos de Momo, para em seguida esconder-se em alguma praia deserta. Se facilitar, nem mesmo vai comparecer à abertura porque tem um vice-prefeito sob medida para festejos, no caso o forrozeiro Frank Aguiar. Será pura maldade dos oposicionistas sugerir mesmo que levemente que a escalação de Frank Aguiar como vice-prefeito tem uma forte vinculação a eventos indigestos como o que se projeta para o mês que vem.
O estrangulamento viário na região do Paço Municipal de São Bernardo por conta da interdição de espaços próximos à Avenida Aldino Pinotti já faz parte da crônica dos estragos logísticos de fevereiro. E não se limita a um ou dois dias antes, durante e após a ocupação da avenida como passarela carnavalesca. Como a eficiência do Poder Público em desobstruir obstáculos é digna de uma corrida de cágados, estende-se o período de arrumação, uso e desarrumação do teatro de ocupação a mais dias do que recomenda o bom senso de quem sabe que a quebra da dinâmica de tráfego por qualquer que seja a razão, mesmo um caminhão eventualmente avariado, gera um encadeamento de dores de cabeça insuportáveis com danos à Economia e à Saúde.
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15/10/2024 SÃO BERNARDO DÁ UMA SURRA EM SANTO ANDRÉ