Administração Pública

O que esperar de Marinho e
da nova safra de prefeitos?

DANIEL LIMA - 21/01/2013

Se a indagação for específica a tudo que se relacionar com desenvolvimento econômico, não se pode esperar nada, ou quase nada. Se o petista Luiz Marinho, cascudo da turma, não fez praticamente nada nos quatro primeiros anos de mandato, exceto muita espuma, o que esperar dos novos que, como os anteriores, sempre tendo como base a campanha eleitoral e o primeiro mês de mandatos, praticamente nem resvalam nas questões mais substantivas? E olhem que emergencialidades não faltam. A começar por um plano estratégico que jamais foi efetivamente executado na região, embora uma ou outra peça, a partir da gestão regional de Celso Daniel, tenha saído do forno.


 


A Economia da Província do Grande ABC vem apanhando tanto, tanto, que, não fosse o impulso da industrialização do passado, mesmo uma industrialização que perdeu o ímpeto e sofreu refluxo, nem constaria do ranking das mais importantes do Estado de São Paulo.


 


Hoje temos cinco representações entre os 20 maiores municípios do G-20, o agrupamento que criamos para parametrizar virtudes e defeitos em confrontos diretos com gente grande. Mas estamos comendo poeira, mesmo com o respaldo da base e da cultura industriais que vem principalmente da metade do século passado com o advento da indústria automotiva, nossa redenção e nosso calcanhar de Aquiles.


 


Raridade na mídia


 


Reparem os leitores que em todas as mídias da região, impressas, eletrônicas e digitais, o noticiário econômico é rarefeito. E quando ocorre é uma mistura de fantasia, triunfalismo e promessas. Nada efetivamente sólido que ofereça mínima condição de apostar em um futuro diferente. Estamos perdendo feio o jogo da competitividade há duas décadas -- como estamos cansados de afirmar e de medir.


 


Meu mais recente artigo sobre o assunto aborda o que aconteceu com a Província do Grande ABC e com a Grande Oeste, ou a Grande Osasco, área integrada por oito municípios vizinhos à Capital, desde a implantação do Plano Real. A Grande Osasco, favorecidíssima pelo traçado integrativo do Rodoanel Oeste, cresceu em termos nominais (sem considerar a inflação) nada menos que 707,20% no quesito Valor Adicionado, que, resumidamente, é a capacidade de transformação do produto. A Província do Grande ABC não passou no mesmo período (entre 1995 e 2011) de crescimento nominal de 289,73%. É preciso algo mais contundente para expor as vísceras do afrouxamento econômico de um território outrora tão poderoso?


 


A ladainha dos novos prefeitos é extenuante a quem procurava depurar o ambiente informativo. Minha coleção de jornais impressos e virtuais é prova disso. Praticamente não se toca em atravancamentos econômicos. Prefeitos e assessores desfilam entusiasmo marqueteiro irritante.


 


O prefeito dos prefeitos do Grande ABC, Luiz Marinho, título que emprego para designá-lo à frente dos demais porque agora é presidente do Clube dos Prefeitos, além do que dirige a Capital Econômica da região, não é versado em Economia. E, como os demais titulares dos Paços Municipais (ou exatamente por isso), não conta com respaldo de especialistas no assunto. São praticamente todos leigos em economia regional. Além disso, não há uma Prefeitura sequer na Província do Grande ABC catalogada como exemplo de infraestrutura à atuação desenvolvimentista. As respectivas secretarias municipais são um convite ao descaso e ao desinteresse. Falta pessoal, falta estrutura funcional, falta vocação municipal, falta vocação integracionista regional e falta, sobretudo, planejamento equivalente às demandas ditadas pelas carências locais e também pela competitividade de concorrentes que saltaram em busca de investimentos há muito tempo.


 


Encalacramento nativo


 


Nem mesmo a saída retórica fácil de que a Província do Grande ABC está encalacrada no esvaziamento industrial e econômico da Região Metropolitana de São Paulo serve de desculpa. Provamos estatisticamente que perdemos o jogo da criação de riqueza para a vizinha Grande Osasco, igualmente inserida na metrópole. Outras áreas desse macroterritório de 8,5 mil quilômetros quadrados avançaram economicamente muito mais que a Província do Grande ABC desde meados da década de 1990. Quando o confronto é no interior do G-20, derrotas sucessivas tanto para o conjunto dos municípios da região, quanto individualmente, são inapeláveis. Quase vexatórias.


 


A lengalenga das campanhas eleitorais tanto dos candidatos vitoriosos quanto dos derrotados em termos de futuro econômico para a Província do Grande ABC poderia ter sido o menor dos males, mas quando se constata que continua mesmo após a posse dos eleitos, pouco se tem a fazer.


 


As pautas municipais são invariavelmente uma calamidade em volume e em conteúdo e só não superam o pouco que sobra quando o interesse é regional. A duríssima limitação orçamentária dos municípios da região, com margem bastante estreita para investimentos, outro assunto que já tratamos aqui, transforma prefeitos e assessores em cenaristas cinematográficos. Cultivam um vale-tudo de promessas que não visam a outro objetivo senão engabelar o distinto público. Gestor municipal tem uma fome pantagruélica quando assumem o cargo. Contamos com seis esfomeados e um experiente que se engalfinham por manchetes tão positivas quanto pouco convincentes.


 


É por essas e por outras que um estafeta publicitário do governador Geraldo Alckmin, o deputado estadual Orlando Morando, responsável por lubrificar parte dos recursos de investimentos do Estado nas mídias locais, ganha sistemáticas chamadas de primeira página dos jornais – e ocupa os melhores espaços internos de noticiário – com a distribuição de migalhas aos municípios locais, em forma de emendas parlamentares. A Província do Grande ABC deveria se envergonhar de dar tanta publicidade a tão baixa contribuição do governo do Estado, mas a ficha do ridículo da situação de quase mendicância ainda não caiu.


 


Mais ações coletivas


 


É claro que o governo do Estado e o governo federal poderiam contribuir muito mais com os cofres da região (Luiz Marinho, assessorado informalmente pela logo depois nomeada ministra Miriam Belchior entendeu as regras do jogo de distribuição de recursos financeiros pesados para obras de infraestrutura) se as ações coletivas se fizessem prioritárias e cortassem ou amenizassem os pesos de individualidades pautadas pela cumplicidade partidária. Bastaria que a Província se organizasse.


 


Um plano de desenvolvimento econômico factível com a situação macroeconômica e com as especificidades dos cromossomos produtivos da região seria a melhor resposta para o encaminhamento de soluções técnicas, financeiras, estratégicas e sociais a bordo de investimentos produtivos.


 


Mas nada disso está no horizonte mais próximo da Província do Grande ABC porque faltam quadros confiáveis, competentes, decididos e interessados para valer em mudar o rumo da história.


 


Basta ver que a cidadela mais fragilizada da Província do Grande ABC desde a chegada do Plano Real, no caso Santo André do surrado “berço industrial”, cresceu sem considerar a inflação apenas e tão somente 239,05% no período de 16 anos, menos da metade que a média da Grande Osasco, ou precisamente menos 66,20%, terminando a disputa na penúltima colocação entre os 15 endereços listados (G-7 da Província e G-8 da Grande Osasco) e à frente somente de Ribeirão Pires, que avançou nominalmente 161,94%.


 


A mesma Santo André que, em vez de uma junta para vasculhar o que seria possível empreender para mudar o ritmo de tartaruga com que vem desempenhando o papel econômico, apostou numa obscura educadora protegida por uma ala conservadora da Acisa (Associação Comercial de Santo André) sem ao menos ter tido a ideia de procurar dourar a pílula com a apresentação de um plano de atuação. No fundo, acabou acertando. Pelo menos não decepcionará o distinto público duplamente -- primeiro pela inaptidão ao cargo, segundo por ter tentado vender farsa em forma de suposto arrazoado de medidas.


 


Nada disso, entretanto, chega aos pés da tristeza de constatar que a grande esperança de liderança política regional tornou-se um fracasso total no campo de desenvolvimento econômico nos últimos quatro anos e que agora, no posto de prefeito dos prefeitos, tem a obrigação de mostrar reação. Conseguirá? Duvido.


 


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O voo da esperança


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