Administração Pública

Grana se junta a Duílio, adversário
histórico do PT e de Celso Daniel

DANIEL LIMA - 28/01/2013

Celso Daniel provavelmente revira-se no túmulo. Onze anos depois de retirado cena regional quando preparava um salto triplo em direção ao Palácio do Planalto, o PT pelo qual fez concessões administrativas sem ferir objetivos programáticos está de braços dados com soldados inimigos. O ex-deputado federal Duílio Pisaneschi, eleito nos anos 1990 com apoio integral do Diário do Grande ABC, virou parceiro da Administração Carlos Grana. Um parceiro sem pasta oficial, embora tenha como ponta de lança no Paço Municipal, entre outros, o secretário de Habitação e Desenvolvimento Urbano, Paulo Piagentini, representante, vejam só, do setor imobiliário.


 


A recompensa por apoiar a candidatura de Carlos Grana e a suposta influência em estratos da classe média mais conservadora de Santo André fazem de Duílio Pisaneschi interlocutor permanente, embora pouco visível. O pragmatismo mútuo, de um sindicalista que se tornou prefeito por conta de uma exótica coalizão partidária e de um empresário avesso ao petismo que se entrega à Administração Pública, é uma das facetas da metamorfose política em Santo André, de resto semelhante à do País. Se o presidente Lula da Silva fez acordos inimagináveis nos tempos de sindicalista enraivecido, muitos dos quais emblematicamente expressos no escândalo do Mensalão, por que Carlos Grana seria diferente?


 


E se tantos empresários manifestadamente hostis ao PT no passado se deixaram levar pelo facilitarismo de aproximações políticas, por que Duílio Pisaneschi e seu entorno seriam diferentes? Paulo Maluf e Fernando Haddad que o digam, em São Paulo. A diferença é que Duílio Pisaneschi não assume oficialmente nenhum posto na estrutura de governo do PT de Santo André.


 


O passado de desprezo ao PT e a frequência com que Duílio Pisaneschi condenava todos aqueles que julgava estarem próximos aos “comunistas”, como dizia, causam estupor, embora em política nada seja impossível. No vale-tudo em que se transformou o conceito de administração pública do PT, nada deveria causar estresse.


 


Troca vantajosa


 


Duílio Pisaneschi faz parte de um agrupamento de centro-direita que trocou toda a carta ideológica ostensivamente contrária ao PT por algo que poderia ser chamado eufemisticamente de objetividade. Mas deixa atrás de cada movimento o rastro de um passado de sentenças desclassificatórias contra os petistas.


 


Prefeito em Santo André, Celso Daniel foi vítima preferencial dos ataques do petebista eleito deputado federal duas vezes e derrotada duas vezes como cabeça de chapa e como vice de Newton Brandão, em eleições municipais, em 1996 e 2004.


 


Em junho de 2000, numa reportagem do Diário do Grande ABC, Duílio Pisaneschi reduziu a pó a Administração Celso Daniel. A transcrição de alguns parágrafos da reportagem explicita a distância entre o petista que o prefeito Carlos Grana diz honrar com o mandato e o petista observado sob a ótica de Duílio Pisaneschi:


 


 O deputado também fez críticas à administração do prefeito Celso Daniel (PT) que tentará a reeleição neste ano. “O nosso adversário está no Paço Municipal. É como fala o caipira: aquela tiririca, onde dá, não nasce mais nada. Eles (os petistas) já deixaram um rastro muito triste na administração de 1988 a 1982, deixando uma dívida para esta cidade impagável”, disse. Pisaneschi acusou também a administração de endividar o Semasa: “Eles quebraram com o Semasa, uma empresa que nosso prefeito Brandão (Newton Brandão) e o Ajan (Ajan Marques, superintendente do Semasa na Administração Brandão) deixaram com um caixa de R$ 28 milhões e deve hoje R$ 155 milhões. Se um de nós deixar de pagar a conta do Semasa por 30 dias, cortam a água. Faz um ano que não pagam a Sabesp, para fazer plantação de coqueiro, que pagam como palmeira imperial – mas é coqueiro – e metade está bichado e não vai vingar” disse ao jornal.


 


Sempre tendo a cobertura do Diário do Grande ABC a manifestações, por conta da amizade e da autoria intelectual do lançamento de sua candidatura a deputado pelo então diretor de Redação, Fausto Polesi, morto recentemente, Duílio Pisaneschi tornou-se espécie de porta-voz da centro-direita de Santo André contra o PT. Ao longo dos anos articulou com parceiros da chamada Frente Andreense reações às políticas públicas geradas no Paço Municipal. O alvo principal era Celso Daniel e suas ideias transformadoras. Integrante da Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André) como membro do Conselho Superior, Duílio Pisaneschi ajudou a comandar o movimento contra o aumento das alíquotas do IPTU (Imposto Predial e Residencial Urbano) deflagrado por Celso Daniel.


 


Guerra contra o IPTU


 


Convém lembrar que, por conta do processo inflacionário que assegurava às Prefeituras receitas financeiras volumosas, a política de atualização dos valores do IPTU sempre foi subestimada pelos municípios. Os petistas de Santo André iniciaram o processo de mudança que se espalhou por todos os médios e grandes municípios brasileiros. Duílio Pisaneschi e a Associação Comercial, juntamente com o Diário do Grande ABC dos anos 1990, reagiram com estridência. A propriedade imobiliária era entendida – e continua a ser entendida principalmente pelos megaproprietários – como algo sacrossanto a salvo de impostos, por mais que gerem despesas com a manutenção de serviços públicos.


 


Tanto é verdade que, em nova reportagem publicada pelo Diário do Grande ABC, em março de 2004, questionado pelo jornalista Roney Domingos numa entrevista de página inteira sobre a falta de receita e as dificuldades que os municípios enfrentavam por conta da conjuntura econômica, o então pré-candidato à Prefeitura de Santo André (acabou desistindo em favor de Newton Brandão, do qual foi vice na campanha vencida pelo petista João Avamileno), foi enfático em defesa de seus interesses de grande proprietário de imóveis:


 


 Vamos ter que dar um norte para isso tudo (as consequências do esvaziamento econômico), inclusive sobre o IPTU. Vamos ter de fazer uma planta genérica nova, botando os verdadeiros valores dos imóveis aqui, porque o que eles fizeram é irreal. Estou vindo agora de uma transação em que o ITBI é uma vez e meio o valor da venda que foi feita – disse Pisaneschi.


 


Duílio Pisaneschi é considerado pouco cordial pelos adversários. Teria a fama de acusar sem provas nos bastidores políticos. Atribui juízos de valor sem comprovações. Em outubro de 2004, foi acusado pelo então deputado estadual José Dilson de ter vendido ao PT, em 2000, uma apenas ensaiada candidatura a prefeito, quando concorreria com Celso Daniel. José Dilson reagira às informações de suposta negociação envolvendo dinheiro em troca de apoio político para o segundo turno de 2004 para prefeito. O texto, nos principais parágrafos:


 


 Uma suposta negociação envolvendo dinheiro em troca de apoio para o segundo turno da eleição para prefeito de Santo André abriu uma crise entre o candidato derrotado do PDT, José Dilson, e a coligação Frente Andreense, de Newton Brandão (PSDB). A insinuação de que estaria pedindo muito dinheiro para apoiar o tucano contra João Avamileno (PT), feita por Duílio Pisaneschi, vice de Brandão, provocou a fúria de Dilson, que partiu para o ataque: acusou Duílio de ter vendido sua candidatura a prefeito nas eleições de 2000 para apoiar Celso Russomanno (PP) contra Celso Daniel (PT). “Não fui eu quem deixou de sair candidato em 2000 para receber dinheiro”, afirmou. (...) A insinuação de que Dilson teria pedido dinheiro foi feita por Duílio a Terezinho Martins, vice-presidente municipal do PDT, em um encontro casual em um restaurante de Santo André. “O Duílio me disse que o Dilson estava pedindo muito alto pelo apoio”, afirmou o pedetista. O vice de Brandão nega que tenha feito a insinuação, mas admite que conversou com Martins – publicou o Diário do Grande ABC.


 


Petistas contrariados


 


A aproximação de Duílio Pisaneschi desagrada a petistas mais tradicionais. Ainda há quem faça duras críticas ao prefeito Carlos Grana pela abrangência considerada exagerada de espalhar parceiros circunstanciais na retomada do Paço Municipal. Teme-se que embaraços sejam criados por conta de divisionismos incontroláveis. Há também quem lembre o que chamam de absoluto desconforto em ter Duílio Pisaneschi no rol de parceiros informais com tentáculos no Paço Municipal.


 


Os mais antigos militantes petistas lembram que Duílio Pisaneschi teve embates com Celso Daniel que ultrapassaram os limites éticos, mesmo levando em conta que a política é por demais permissiva.  Até outdoor preparado por Duílio Pisaneschi durante a campanha à Prefeitura em 1996 é lembrado. Na peça promocional, a expressão “pulso forte” para identificar o candidato petebista teria relação implícita com a propagação de ataques à masculinidade do petista.


 


Recorrem também os adversários petistas de Duílio Pisaneschi à história que coloca o ex-deputado federal no centro da propagação – e também de iniciativas – que culminaram na retirada do assassinato de Celso Daniel da esfera de crime comum, transplantando-o deliberadamente ao âmbito político-eleitoral. Duílio Pisaneschi atuou nos bastidores sempre ao lado dos irmãos de Celso Daniel e muito próximo do Ministério Público. Durante a campanha eleitoral de 2004, como vice na chapa de Newton Brandão, Duílio Pisaneschi teria participado ativamente do processo de divulgação de panfletos clandestinos que colocaram Celso Daniel como vítima dos próprios petistas, por conta da versão do Ministério Público de que o crime foi de encomenda, em represália a supostos desvios de propinas na Prefeitura de Santo André.


 


Outro condimento do apimentadíssimo envolvimento de Duílio Pisaneschi na Administração Carlos Grana são as relações pessoais e empresariais que o chamado “secretário informal” do Paço mantém com o também empresário Sérgio De Nadai, condenado por participar da Máfia da Merenda, esquema quadrilheiro que causou prejuízos financeiros vultosos aos cofres de dezenas de municípios. Os petistas mais empedernidos contra a inclusão de Duílio Pisaneschi no governo municipal relacionam a iniciativa eleitoral de Carlos Grana a um tiro no próprio pé. Mas não faltam defensores da medida, sob o argumento de que a melhor maneira de silenciar os conservadores de Santo André que tanto se opuseram a Celso Daniel e ao PT é entregar-lhe algumas migalhas de poder, fazendo-os crer que detêm muito poder.


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