Administração Pública

Marco Zero: nem Prefeitura nem MP
informam sobre crime da quadrilha

DANIEL LIMA - 04/02/2013

A Prefeitura e o Ministério Público de São Bernardo mantêm em segredo os desdobramentos de denúncias de CapitalSocial sobre a fraude na licitação pública de um terreno mais que especial de 16 mil metros quadrados que o empresário Milton Bigucci, presidente da MBigucci, arrematou em 10 de julho de 2008. A operação fraudulenta reúne tipologia de quadrilheiros. Há mais de dois anos solicitamos ao Gaeco de São Bernardo a apuração do caso e há seis meses entregamos pessoalmente ao Procurador-Geral do Município documentos inquestionáveis de consumação do delito.

 

Preocupa a direção de CapitalSocial a informação gerada por fontes próximas do empresário Milton Bigucci, também presidente da Associação dos Construtores do Grande ABC. Suposta decisão já teria sido tomada pela promotora de Justiça, Mylene Comploier, e encaminhada ao Judiciário -- aquela operação teria seguido as normas legais. CapitalSocial enviou na última semana duas correspondências eletrônicas àquela Promotoria, solicitando esclarecimentos. Não chegaram as respostas. Enquanto isso, segundo as mesmas fontes, Milton Bigucci comemora a suposta decisão.

 

Caso a versão de que o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) já teria dado por encerrada a investigação – sem deixar de lado, entretanto, a possibilidade de reabertura ante contraposições -- CapitalSocial agirá incisivamente novamente para consubstanciar provas documentais e testemunhais que caracterizam os delitos contra a Administração Pública. O terreno arrematado fraudulentamente pela Big Top 2, subsidiária criada pela MBigucci especialmente para comportar o patrimônio arrematado, está avaliado em quase R$ 100 milhões e vai dar suporte ao empreendimento Marco Zero, já lançado pela MBigucci e localizado nas esquinas da Avenida Kennedy e da Avenida Senador Vergueiro, área nobre de São Bernardo.

 

À época do leilão, realizado em 10 de julho de 2008, o terreno não valeria menos que R$ 30 milhões, embora a Administração William Dib o tivesse colocado à venda por menos da metade, ou seja, R$ 12 milhões. Milton Bigucci e parceiros de negócios levaram o terreno em conluio sacramentado nas provas documentais e testemunhais às quais CapitalSocial teve acesso. O valor final da transação delituosa, R$ 14 milhões, ou menos de R$ 1 mil o metro quadrado, chocou concorrentes do setor imobiliário que desconheciam o processo licitatório.

 

Embora no comando da classe na região, Milton Bigucci manteve a informação sob sete chaves, compartilhando apenas com parceiros de confiança que, ao comparecerem ao evento, desempenharam com absoluta inapetência cênica uma arte comum nos teatros.  No País de Renans Calheiros, é natural que peças protagonizadas por canastrões podem até se manter em cartaz impunemente, ganhando formas de concreto, como é o caso do empreendimento Marco Zero.  Até que autoridades constituídas intervenham, é claro.

 

Silêncio desafiador

 

O silêncio do Procurador-Geral do Município de São Bernardo e da Prefeitura comandada pelo petista Luiz Marinho é um desafio à paciência de quem pretende ver esclarecido o assalto aos cofres públicos. O que mais intriga é que o Procurador-Geral não teve dúvidas em informar a este jornalista, quando da entrega de provas cabais do crime, que agiria em sentido duplo: requerer a punição dos autores da tramoia que integram os quadros da Administração Pública e encaminhar a documentação ao Gaeco de São Bernardo para que, informado, deliberasse por decisão que implicasse na denúncia dos empresários envolvidos. Não demorou muito para o Procurador-Geral preferir o mutismo.

 

Inimigo da Administração Luiz Marinho nos primeiros tempos da gestão iniciada em 2009, Milton Bigucci não demorou para aproximar-se do Poder Público. Nada surpreendente, porque essa é uma de suas especialidades. O abre-alas das demandas de Milton Bigucci nos escaninhos do Poder é a direção da Associação dos Construtores, que exerce há duas décadas. Relegado pela maioria dos empreendedores da construção civil da região, Milton Bigucci conta com poucos colaboradores na entidade. O quadro de associados não expressa nem 1% do setor na região.

 

Um dos esportes preferidos de Milton Bigucci, além de convidar amigos do peito e amigos de conveniência para maltratar a bola em peladas na mansão na praia de Acapulco, no Guarujá, é atacar a liberdade de imprensa exercida por CapitalSocial. Não faltam ações na Justiça. Não conseguiu sequer uma vitória parcial. Mais que isso: já coleciona derrotas sobre derrotas. O alvo de Milton Bigucci é este jornalista. Seu representante no Judiciário tenta de todas as formas semânticas convencer os magistrados de o seu cliente é apenas uma vítima de perseguição deste jornalista. Em nenhuma das intervenções se colocou o outro lado da moeda, esta sim cabível e indissolúvel: Milton Bigucci é protegido pelas demais mídias porque abastece os cofres das publicações com intermediações diplomáticas à destinação de verbas publicitárias de empreendimentos imobiliários.

 

Em resumo, Milton Bigucci só não é intocável na Província do Grande ABC porque CapitalSocial não integra a confraria de devoção incondicional e acrítica. O que é muito diferente de perseguição. É mais que provável, é certo, que o representante legal do empresário ainda não aprendeu a distinguir relevância de futrica. 

 

Importância do setor

 

Este jornalista não faz do direito constitucional de liberdade de expressão carro-chefe de argumentos para provar ao Judiciário que existe uma sanha avassaladoramente arbitrária e ditatorial nas imputações de crime esgrimidas a mando de Milton Bigucci. Se fosse presidente da Associação dos Passarinheiros do Grande ABC e se não promovesse um matança para contemplar os amigos com uma festa de confraternização em que o prato principal fosse exatamente o objeto de suposta defesa da natureza, Milton Bigucci jamais seria objeto de informações jornalísticas de CapitalSocial.

 

Entretanto, como Milton Bigucci dirige mal e porcamente uma entidade que representa os interesses de milhões de consumidores de moradia e de negócios da Província do Grande ABC, e transforma deliberadamente dados estatísticos inconsistentes e especulativos em instrumentos de decisões importantes, CapitalSocial se sente na obrigação de acompanhar seus passos. Assim como o faz com os administradores públicos e outros agentes públicos e privados com imbricamento social. 

 

CapitalSocial não descarta as informações sobre suposto encerramento – mesmo que sujeito a reabertura – do caso do Marco Zero. Principalmente se a vasta documentação entregue pessoalmente ao Procurador-Geral do Município não tiver sido encaminhada ao Ministério Público. É impensável, embora não descartável, que o Procurador-Geral tenha agido como Engavetador-Geral, por conta de pressões internas da Administração Luiz Marinho.

 

Diferentemente do que testemunhas judiciais de Milton Bigucci pretendem fazer crer, ao imputar a este jornalista a pecha de irresponsabilidade por acentuar o caráter de “quadrilha” no caso do terreno em questão, CapitalSocial reitera a adjetivação com a segurança jurídica constitucional que tipifica o crime da fraude no leilão como ação coletiva, previamente delineada para a obtenção de vantagens financeiras extraordinárias.

Bobagem persistente

 

É possível que nos próximos dias o Ministério Público esclareça o trâmite das investigações. Caso seja confirmada a versão de limpidez financeira da operação que culminou no arremate, CapitalSocial voltará à carga pela reabertura do caso. Sem deixar de reiterar um desafio a Milton Bigucci e seus parceiros de tramoia: que se dirijam ao Judiciário para imputar a este jornalista qualquer ação que tenha parentesco com infâmia e difamação, entre outros crimes previstos na Constituição Federal. Será uma ótima oportunidade a uma apuração mais detalhista do assalto perpetrado. Tomara que nada disso seja necessário, tão evidentes e palpáveis são as falcatruas encaminhadas ao Procurador-Geral do Município e eventualmente ainda não endereçadas ao Ministério Público.

 

Para completar, seria prudente, ao menos no sentido de que poupe munição esterilizada, que o advogado de Milton Bigucci deixe no quarto de despejos de bobagens a tentativa de caracterizar um trabalho jornalístico como o enviesamento de uma deformação pessoal na forma de perseguição ao seu cliente. O martelar ensaiado desse conceito manquitola quando confrontado com o histórico deste profissional de jornalismo soa tão imprudente e desprovido de racionalidade como imputar, como se imputou, ao Supremo Tribunal Federal algo que não seja a busca da verdade na apuração e na punição dos envolvidos no caso do mensalão.



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