A rodada do final de semana de Carnaval não deixou margem a dúvidas: o São Caetano saiu fortalecido após empatar com o Corinthians por 2 a 2 no Pacaembu e o São Bernardo balança, balança, após a derrota de 3 a 2 para o Bragantino, em Bragança Paulista.
Mais importante que os resultados são as consequências às duas equipes. O São Caetano ganhou ânimo para reequilibrar-se enquanto o São Bernardo precisa mesmo de mudança, de um técnico experiente, para não desabar de vez e tornar a permanência na Série A do Campeonato Paulista desafio.
O São Caetano escapou do paredão da zona de rebaixamento após as derrotas do domingo anterior para o São Bernardo e quarta-feira para o Guarani em Campinas. O São Bernardo aprofundou-se na lanterninha também após duas derrotas, para o XV de Piracicaba no Estádio Primeiro de Maio e em Bragança Paulista. Os próximos jogos vão definir o que pretendem no campeonato.
A estreia de Rivaldo no São Caetano, inclusive com um gol, deixou evidenciado o que espera pelo técnico Geninho. Se optar, como optou, por escalar o veterano meia-atacante no meio de campo, compondo o 4-2-2-2 ao lado de Eder e mantendo os atacantes Danielzinho e Vandinho mais adiantados, terá dificuldade para dar poder de marcação. Os volantes Leandro Carvalho e Moradei sofreram bastante para fechar os espaços à frente dos zagueiros. Rivaldo já não tem mobilidade nem intensidade física para reforçar o setor e dar assistência ao ataque. O melhor seria escalá-lo como segundo atacante, mais próximo da grande área adversária. Exatamente na função episódica no encadeamento do primeiro gol do São Caetano aos três minutos do segundo tempo, ao completar de cabeça, na pequena área, um cruzando de Eder, deslocado à direita do ataque.
Quando Rivaldo deixou o campo, aos 16 minutos do segundo tempo, o São Caetano passou a ter mais velocidade no contragolpe. Ailton entrou bem, procurando sempre as laterais de campo. Tanto que três minutos depois recebeu livre na intermediária do Corinthians, observou a projeção em velocidade de Danielzinho nas costas de Paulo André, fez o passe perfeito e o gol de desempate foi comemorado. Um gol que poderia ter saído antes se o árbitro tivesse apitado pênalti de Gil em Danielzinho, na pequena área. Poucos minutos depois, Eli Sabiá foi obrigado a cometer falta em Guerreiro e acabou expulso. O erro do goleiro Fábio Costa foi letal na saída de bola ante um adversário que não dá trégua no ataque, sempre para roubar a bola dos zagueiros.
São Bernardo improvisa
Meia hora depois do início do jogo no Pacaembu o São Caetano começou a jogar em Bragança Paulista. E a surpreender com uma escalação tão inédita quanto improdutiva. O técnico Edson Boaro escalou três zagueiros (Daniel Marques, Márcio Garcia e Samuel), dois volantes marcadores, um meia de articulação e dois atacantes, Gil e Fernando Baiano como pivô. Um time sem mobilidade e excessivamente vulnerável na marcação e na cobertura ante um Bragantino valente como sempre, a contar com o pivô Lincoln enfiado entre os zagueiros e dois atacantes incômodos, casos de Malaquias e Leo Jaime. O 3-5-2 adotado há muito tempo pelo Bragantino se mostrou mais eficiente, porque menos defensivo, que o improvisado 3-5-2 do São Bernardo.
A inoperância ofensiva durante todo o primeiro tempo do São Caetano ante o Corinthians se repetia em Bragança Paulista com o São Bernardo. A diferença, além do adversário mais poderoso e que tinha o controle do volume de jogo, embora finalizasse pouco, é que o São Caetano marcava melhor.
O São Bernardo pedia para tomar gol e tomou aos 19 minutos, depois de um pênalti desnecessário de Márcio Garcia em Malaquias. O time de Edson Boaro dependia exclusivamente da articulação de Bady, sempre bem marcado. Daniel Marques tentava executar dupla função, de terceiro zagueiro e volante, para dar liberdade a Glaydson ou Dudu Lima no reforço a Bady. Gil se oferecia mais como companheiro de Fernando Baiano, mas não completava as jogadas. A marcação forte do Bragantino tornou um excesso acreditar que o São Bernardo contava com sistema ofensivo. O único chute com relativo perigo foi executado por Fernando Baiana aos 40 minutos.
Antes que o primeiro tempo terminasse o Bragantino fez 2 a 0 com Leo Jaime desviando quase sem querer um cruzamento na pequena área. A bola bateu na trave e correu na risca, desgarrando-se o suficiente para penetrar antes que o goleiro Wilson Júnior a rebatesse tarde demais.
No Pacaembu o São Caetano voltou para o segundo tempo com os mesmos jogadores e uma surpreendente mudança de postura, com adiantamento da marcação, boas trocas de passes e o aperto na pressão. Em Bragança Paulista o São Bernardo trocou o zagueiro Marcio Garcia pelo meia-atacante Luciano Mandi. Uma mudança com muitos efeitos, mesmo que Mandi não tivesse sido brilhante. O aproveitamento do jogador que pertence ao São Caetano deu mais liberdade de movimentação a Bady, que passou a ser menos rigorosamente marcado e encontrou posicionamento mais adequado e menos congestionado para começar a armar a equipe ofensivamente. Bastou recuar para fugir do combate direto de um dos dois volantes de marcação do adversário e, daí, imprimir velocidade e bons passes.
Coletivo e individual
O São Caetano virou o placar no Pacaembu graças principalmente ao trabalho coletivo de movimentação mais intensa. Já o São Bernardo foi adiante em Bragança com mais ofensividade após a troca do volante Glaydson pelo meia-atacante Jonathan, um articulador razoável mas que finaliza pouco a gol. Diferentemente de Gil, mais acionado e sempre com uma opção de diálogo técnico, passou a incomodar a defesa adversária. O gol de Fernando Baiano aos 25 minutos poderia dar mais dramaticidade ao jogo, mas, um minuto depois, Samuel perdeu infantilmente para o atacante Malaquias na lateral, o passe foi perfeito para Leo Jaime que fechou livre para completar.
O segundo gol do São Bernardo só ocorreu nos descontos, numa falta bem batida por Régis, um lateral/ala que mais uma vez sentiu o peso da fama de ter liquidado com o São Caetano uma semana antes: já não tem corredor livre para atacar e precisa se esforçar dobrado para cavar espaços em velocidade. Mesmo assim mostra que é um bom executor de cruzamentos, inclusive o que terminou na finalização e gol de Fernando Baiano. Falta-lhe habilidade técnica para jogadas curtas, de tabelas e triangulações. Usa mais a força que a técnica.
Nem mesmo o gol que o São Caetano sofreu aos 42 minutos, quando Paulinho empatou para o Corinthians, quebrou o entusiasmo do grupo. Primeiro porque o adversário dispensa adjetivações. Segundo porque jogou os últimos 15 minutos com apenas nove jogadores: Eli Sabiá foi expulso aos 24 e o lateral Fernandinho sofreu contratura muscular aos 33 e fez apenas figuração até o final, porque já não era mais possível substitui-lo.
O técnico Geninho vai ter muito trabalho para dar ao São Caetano o que de mais precioso foi alcançado na Série B do Campeonato Brasileiro do ano passado – capacidade de controlar os nervos e definir com maturidade o melhor momento para contragolpear.
Já o técnico que o São Bernardo vai contratar precisa colocar o estado emocional do grupo nos trilhos. É tão evidente o estresse nocivo em campo que não existirá reação técnica e tática se a psicologia motivacional não for instaurada. Trata-se de uma tarefa e tanto, quando se sabe que a tábua de classificação exposta nos vestiários é uma espécie de espada na cabeça dos jogadores. Persistir por mais algumas rodadas na zona de rebaixamento é o pior dos mundos para um time que, como o São Bernardo, corre atrás da autoafirmação como integrante da Série A. Na primeira e última vez que teve essa experiência, em 2011, acabou rebaixado. O que agrava ainda mais a síndrome de bate e volta.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André