Esportes

Santo André pode cair
no submundo do futebol

DANIEL LIMA - 29/02/2024

O que está em disputar nos dois últimos jogos do Santo André no Campeonato Paulista da Primeira Divisão (Série A-1) é mais que o rebaixamento iminente. Confirmada a queda, e diferentemente de situações análogas do passado de outros rebaixamentos, o Santo André terá muitas dificuldades de escapar do submundo do futebol.

Submundo do futebol é uma rede de curiosos endinheirados e também de pretensos especialistas quando não de arrivistas e muitas vezes de vigaristas que vivem fora do ecossistema desse que é um cobiçado setor econômico internacional. O Santo André está com as chuteiras prestes a mergulhar num lamaçal. Ou então, de submergir por falta de competitividade mesmo entre os poucos competitivos.

Ainda faltam estudos minuciosos sobre quem comanda as equipes de futebol no Brasil nestes tempos de transição de um modelo internacional cada vez mais relacionado a negócios e ações nacionais que são uma autêntica Torre de Babel.  

QUEM É QUEM?

Quem é quem no futebol brasileiro? Eis uma questão que já deveria ter sido levada adiante, inclusive por autoridades criminais. Mas o futebol é sempre uma válvula de escape de licenciosidades acobertadas por poderosos que vão além das quatro linhas dos campos e das entidades esportivas.

Noves fora todas as possibilidades teóricas que se constroem para desenhar um retrato falado ainda impreciso do que é o futebol brasileiro nestes tempos, caracterizando os grupos em que se dividem as operações em diferentes formas de composição diretiva, é certo que o Santo André viverá um período delicadíssimo caso a queda se confirme, como tende a se confirmar entre outras razões porque o time é dotado de extraordinária incompetência ofensiva.

Sem a Primeira Divisão, único calendário de receitas da equipe, não restará saída senão avançar em direção a alguma parceria. E é aí que mora o perigo. Abutres não faltam na praça nacional.

SAF FRUSTRADA

A transformação do Santo André em SAF (Sociedade Anônima do Futebol), ramal aparentemente mais seguro para constar da lista de agremiações de primeira linha em representatividade esportiva e social, pode estar indo para o acostamento.

Poucos investidores no mundo do futebol olham para uma Segunda Divisão do futebol paulista, que, contraposta à hierarquia nacional, não passa da Sexta Divisão.

Mais que isso: mesmo na Primeira, onde está o Santo André, as dificuldades são enormes. Sem calendário nacional garantido, caso do Santo André, os riscos de comprar gato por lebre é maior.

Como demorou demais para virar SAF, legislação que vai completar três anos e que já conta com vários participantes, o Santo André caminhou mesmo para o cadafalso do rebaixamento. Não existe nenhuma surpresa porque surpresa só existe quando configurações remetem a sentido oposto. No caso do Santo André, a água da correnteza de mudanças seguiu ladeira abaixo esperada.

Nada menos que 11 das 16 equipes que disputam a Série A-1 Paulista estão nas duas principais divisões do País, o Campeonato Brasileiro da Série A e da Série B. É muita desigualdade competitiva. A margem de manobra para se desvencilhar da queda estadual é cada vez mais reduzida.

BARRACA DE PRAIA

O Santo André é uma barraca de praia que só serve a clientela durante a temporada de verão. São menos de três meses de atividades para valer, no caso o Campeonato Paulista. Disputar a Série D do Brasileiro exige muito investimento e a certeza de que o sucesso é incerto. Afinal, apenas os quatro primeiros colocados chegam à Série C do Brasileiro, que tem outro formato e mais consistência à programação do futuro. Na Série D do Brasileiro a equação é terrível: é subir ou voltar a disputar uma vaga para reocupar a Série D novamente eliminatória.

Competir com equipes que têm calendário anual, como 11 dos 16 integrantes da Série A e da Série B do Campeonato Brasileiro, é uma bola furada em probabilidade de sucesso. Quem desconsidera a equação investimento versus competitividade como correlação lógica não entende nada de futebol. Nem de negócios.

Durante o período em que tomou todas as providências legais para fechar um acordo com potenciais investidores na formulação de um modelo de SAF inserido no mundo da bola com responsabilidade, faltou ao Santo André o principal: a Prefeitura jamais se preocupou com um arcabouço legal de cessão do Estádio Bruno Daniel sem que o potencial investidor encontrasse barreiras.

OBSCURIDADE SEGUE

A obscuridade segue adiante. Sem o passaporte da liberação do estádio, praxe dos municípios brasileiros às agremiações que os representam, o Santo André ficou com a brocha da expectativa na mão. E os investidores sumiram do radar. Há ofertas em abundância no mercado nacional à transformação de clubes associativos em clubes empresariais. Quando a demanda é maior que a oferta, a seletividade é muito mais agressiva.

Esta é a trigésima análise que faço sobre Sociedade Anônima do Futebol vinculada ao Santo André. O que há em comum entre todas é a imperiosidade de o Santo André buscar esse caminho para sair da arapuca em que se meteu como clube associativo.

Arapuca no sentido de que já não é mais possível competir sem enxergar o futebol como empreendimento. E um clube associativo com deveres inerentes junto aos associados que em larga escala não estão integrados à equipe de futebol, não tem alternativa senão buscar um parceiro. E parceiro bom de verdade é mais que parceiro: é controlador do futebol.

O submundo do futebol que aguardaria o Santo André rebaixado é um oceano de diversidade que reúne desde fanáticos por futebol, por notoriedade, por agenda social, por afirmação pessoal, como também aproveitadores e mesmo delinquentes no sentido mais criminal que o termo poderia sugerir. É contra esse assédio geralmente de voluntaristas que o Santo André deve se preparar caso volte para a Segunda Divisão. Ataques não faltarão. Os abutres estão sempre à espreita.

Talvez seja necessário que o Santo André rebaixado lance um plano de ação emergencial, liderado pelo presidente Celso Luiz de Almeida, para impedir que o pior dos mundos tome conta da agremiação.

Nada pior que o modelo associativo de agora do que o modelo falsamente profissional do submundo ainda pouco radiografado no País. Um submundo a quem as autoridades esportivas fazem vistas grossas, quando não atuam em conluios, com a omissão da imprensa combativa apenas contra alvos frágeis.  



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