Administração Pública

Como serão os primeiros 700 dias
dos prefeitos de nossa Província?

DANIEL LIMA - 14/02/2013

Embora considere uma tremenda bobagem, embora bobagem também possa ser uma grande jogada de marketing quando se está do outro lado do balcão, vou conferir no momento apropriado os primeiros 700 dias dos sete prefeitos dessa Província. Não me dei o trabalho de ir ao calendário, mas sei que sei, porque sou alfabetizado, que a data supostamente simbólica está reservada para abril.


 


Perguntaria o leitor: como 700 dias em abril se os prefeitos atuais iniciaram mandato (exceto Luiz Marinho, reeleito) em janeiro último?


 


A resposta é que estou multiplicando os 100 dias individuais por sete. Deu para entender? Pois é: a relativização do tempo se impõe porque cada prefeito terá tido em abril 100 dias de primeiro mandato, ou do segundo mandato do petista de São Bernardo.


 


Por enquanto, observando atentamente o noticiário mais que controlado pelos marqueteiros dos administradores públicos, pelos assessores de imprensa e principalmente pela ingenuidade, quando não pela passividade dos veículos de comunicação, o que temos é uma repetição de velharias da campanha eleitoral. Até parece existir um acordo tácito para transformar o noticiário político em festival de lantejoulas, de serpentinas e outros balangandãs de cunho explicitamente propagandístico.


 


Enquanto isso, a região segue com micos imobiliários espalhados por todos os cantos, e os mercadores do setor continuam a ocupar a mídia com mentiras mais que cruéis.


 


Estou em busca de novos dados, como se os já acumulados não fossem mais que suficientes, para mais uma vez provar que ainda não nos demos conta de que perdemos o trem da história e nos transformamos num Titanic comportamental instrumentalizado por uma minoria que ganha quando todos os demais perdem.


 


Almoço apropriado


 


Tanto perdemos que não vou dizer outra coisa, entre tantas coisas, no almoço que terei na semana que vem com um dos secretários de Desenvolvimento Econômico da Província. Recebi o convite e não posso negar o encontro, até porque tenho pessoalmente pelo secretário em questão apreço e solidariedade. Apreço porque é um estudioso, tem princípios e se preocupa com a região. Solidariedade porque a infraestrutura da pasta pública que dirige assemelha-se a todas as demais das Prefeituras da Província quando se trata de cuidados com o futuro: mal dá conta para sustentar atividades rotineiras, quanto mais para empreender uma revolução de que tanto carecemos.


 


Por essas e por outras razões que, ao abrir as páginas de jornais da região e ver desfilar secretários municipais, notadamente de Santo André, largamente protegidos pelo Diário do Grande ABC, porque acordos foram feitos nesse sentido e acordos feitos nesse sentido pouco se dão conta da importância real dos respectivos cargos, por isso, dizia, fico entristecido. Ainda mais que os secretários que mais aparecem eram os primeiros a desancar os petistas, casos de Paulinho Serra e de Raimundo Salles, hoje correndo em raias próprias de auxilio explicito à Administração porque têm a promessa de que em oito anos, após dois mandatos de Carlos Grana, serão naturais candidatos ao cargo. Como se oito anos fossem oito dias, vejam só.


 


Vivemos a sociedade do espetáculo, da aparência e do esnobismo individual, fermentada por intrigas palacianas. Aliás, nesse ponto, nem a Igreja Católica escapa, como acaba de denunciar o papa renunciante.


 


Voltando aos 700 dias, não venham os mais realistas que os reis me advertirem que exagero na quantificação do tempo e na suposta anabolização dos 100 dias multiplicados por sete, porque ninguém vai me convencer do contrário.


 


Se a soma de minha idade com a idade de meus filhos chegar a determinado ponto, é esse o total de dias familiares que vivemos, e está acabado. Cada prefeito terá seus 100 dias de marquetagem a explorar (ou alguém duvida que seus assessores já sabem qual é o dia exato em que se completará essa jornada mais que consagrada pelos marqueteiros de plantão?) e para tanto devem estar preparando produtos informativos especiais.


 


Vão, os marqueteiros, enfeitar o pavão, porque essa é a atividade a que estão subordinados na estrutura organizacional das administrações públicas. Vão cumprir rigorosamente suas atribuições. Quem ainda não se deu conta do contraditório inerente ao jornalismo são os jornalistas incrustrados nas redações, resignadamente prontos a aceitar como verdade tudo que venha de fora. E que tentem oferecer resistência para ver o que acontece. Pesa nesse ponto entre outros motivos a cláusula pétrea de não contrariar os donos das publicações, muitos dos quais não sabem o significado de lide, termo técnico que pode ser traduzido como os primeiros parágrafos que sintetizariam o texto completo. 


 


Arquivos em ordem


 


Como estou conseguindo colocar meus arquivos em ordem (todos os personagens pessoais e institucionais já estão ao meu lado aqui no escritório, depois de um translado cansativo, extenuante, mas revigorador) tratarei de nas próximas semanas organizar os respectivos mandatos dos atuais prefeitos, a partir de primeiro de janeiro último.


 


É sempre um aprendizado encher as mãos e os olhos de materiais jornalísticos já consumidos mas que ganham outra dimensão quando distribuídos de tal maneira que oferecem uma linha de tempo mais apropriada à mensuração das realizações, das promessas, das omissões e de tudo que possa ser catalogado como cronologia relativa a determinadas temáticas.


 


Não gosto de confiar demais na memória. Sei dos ganhos mas também dos embaralhamentos cognitivos potencializados pela intensidade de toneladas de informações diárias, com uma jornada de pelo menos 18 horas de trabalho, acompanhando esse mundo louco que nos escraviza como receptáculo do noticiário. Por isso recorro aos arquivos sempre que algo de especial entra no radar de produção.


 


Apesar dessa advertência a que me imponho por dever de ofício e de credibilidade, duvido que minha intuição esteja à deriva: os atuais prefeitos e também o prefeito Luiz Marinho ainda não acrescentaram expectativas sólidas que modifiquem os rumos da Província. É cedo? Bobagem. Tivessem eles mais contatos com a sociedade independente, não com o séquito de apoiadores manjados, saberiam e atuariam em sentido progressivamente devorador das inapetências cristalizadas ao longo de décadas. Principalmente desde a quebra do quase monopólio de produção automotiva, nossa Doença Holandesa.


 


Os primeiros 700 dias das administrações públicas locais, portanto, não são os 100 dias individuais que os prefeitos teriam ocupado os respectivos paços municipais quando abril chegar. Quem não percebeu a semântica numérica não está preparado para compreender a materialidade elementar: é nossa regionalidade fragilizada e tão esquecida que continua em jogo. Uma regionalidade que o Clube dos Prefeitos diz representar mas que, ao longo da história, não produziu praticamente nada.


 


Aliás, sobre isso, acabei de reencontrar um documento importantíssimo formulado pela Fundação Getúlio Vargas e apresentado à direção do Clube dos Prefeitos em 2004. Além de dirigir a revista LivreMercado, estava diretor de Redação do Diário do Grande ABC. Havia muito tempo procurava aquele documento crítico que me levou a produzir matérias à época, inclusive uma das quais está disponível nesta revista digital. Procurei tanto que desisti de encontrar o documento, até que, sem querer, numa vasculhada aleatória no sótão residencial, local onde meus arquivos estavam concentrados até outro dia, eis que dei de cara com aquela preciosidade.


 


Vou reler atentamente aquele trabalho e, quem sabe, providenciar cópias aos atuais prefeitos. Primeiro porque a maioria deles não conhece o histórico de desperdícios da entidade. Segundo porque, certamente, o diagnóstico da FGV deverá estar atualizadíssimo. Só não estará atualizadíssimo e, portanto, teria ingressado no campo minado do despautério, porque certamente a situação do Clube dos Prefeitos e da Província se deteriorou ainda mais na quase nova década perdida que adveio.  


 


Leiam também:


 


Onze sugestões para o Consórcio


 


Clube fechado


Leia mais matérias desta seção: Administração Pública

Total de 813 matérias | Página 1

15/10/2024 SÃO BERNARDO DÁ UMA SURRA EM SANTO ANDRÉ
30/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (5)
27/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (4)
26/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (3)
25/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (2)
24/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (1)
19/09/2024 Indicadores implacáveis de uma Santo André real
05/09/2024 Por que estamos tão mal no Ranking de Eficiência?
03/09/2024 São Caetano lidera em Gestão Social
27/08/2024 São Bernardo lidera em Gestão Fiscal na região
26/08/2024 Santo André ainda pior no Ranking Econômico
23/08/2024 Propaganda não segura fracasso de Santo André
22/08/2024 Santo André apanha de novo em competitividade
06/05/2024 Só viaduto é pouco na Avenida dos Estados
30/04/2024 Paulinho Serra, bom de voto e ruim de governo (14)
24/04/2024 Paulinho Serra segue com efeitos especiais
22/04/2024 Paulinho Serra, bom de voto e ruim de governo (13)
10/04/2024 Caso André do Viva: MP requer mais três prisões
08/04/2024 Marketing do atraso na festa de Santo André