Desenvolvimento sustentado -- eis o resumo da ópera do projeto de modernização econômica e urbanística que o prefeito de São Caetano, José Auricchio Júnior, persegue com o entusiasmo dos catequizadores. Nesta entrevista na semana seguinte à visita ao urbanista Jaime Lerner, Auricchio dá mostras de que não deve figurar como mais um retrato da lustrosa galeria de prefeitos que passaram por São Caetano numa sucessão de sucessos mas, ao final das contas, não deixaram um legado atrevidamente instigante que sinalizasse mais que a concretude de estatísticas a garantir a esse pedaço de 140 mil habitantes espécie de oásis numa Grande São Paulo ensandecida.
O senhor acredita que a associação entre o projeto de desenvolvimento econômico, sob a responsabilidade cooperativa de sua equipe de trabalho, e de modernização urbanística, de Jaime Lerner, colocará São Caetano na condição de Município de vanguarda no mapa nacional?
José Auricchio Jr. -- Acredito que esse trabalho de conjunção de esforços entre desenvolvimento econômico e modernização urbana de São Caetano é etapa de um trabalho que trará como resultado colocar a cidade de fato numa condição de desenvolvimento sustentado. O importante não é ser vanguarda; é ter uma cidade com equilíbrio na equação desenvolvimento econômico/modernização urbanística. Trata-se de prepararmo-nos para os desafios que trazem o fato de estarmos inseridos na Região Metropolitana de São Paulo, especialmente.
É possível acreditar que, quando o senhor encerrar eventual segundo mandato, grande parte desse planejamento tenha se materializado?
José Auricchio Jr. -- O calendário político-eleitoral não está em pauta e a cidade não pode depender dele. Como administrador, acredito que num prazo de cinco a 10 anos essa nova face urbana, acoplada a um novo projeto de desenvolvimento econômico, deverá estar se maturando.
O que faz o senhor acreditar que São Caetano conseguirá atrair investimentos para efetivar esses projetos?
José Auricchio Jr. -- Estamos conseguindo reunir o maior número de fatores possíveis voltados a uma atividade econômica nova, ligada ao desenvolvimento de tecnologia de ponta. Nosso objetivo é atrair atividades de serviço de alto valor agregado à atividade industrial. Exemplos não faltam. Independentemente desse cenário todo de retração da atividade das montadoras no País, a General Motors em São Caetano está se diferenciando como uma planta vital de engenharia da América Latina e uma das cinco maiores do mundo, com uma série de projetos de desenvolvimento. E isso garante a presença e o fôlego da GM no Município.
Conquistamos ainda uma Fatec (Faculdade de Tecnologia) voltada à Tecnologia da Informação, que fará o primeiro vestibular ainda neste ano; o Senai de São Caetano abrigará também em breve o Centro de Serviços em Metal-Mecânica, uma vitória regional cuja finalidade é fornecer apoio técnico e tecnológico às pequenas e médias empresas desse segmento. Trata-se do resultado de parceria entre o Senai, o Sebrae, o Instituto Meccano, da Itália, o BID e a Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC; o projeto do Pólo Cerâmica; as incubadoras de empresas de Tecnologia da Informação, que serão um braço importantíssimo no desenvolvimento de valor agregado à iniciativa industrial; a implantação de um sistema de ensino amparado na tecnologia, com portal na Internet e acesso a conteúdo educacional de amplo valor agregado, desde o Infantil ao Ensino Médio -- o que permitirá que tenhamos uma geração amplamente preparada para o perfil que se pretende dar a São Caetano. Todas são condições excelentes para atrair investimentos. E vamos trazê-los, tenho certeza.
Qual será o índice de independência gerencial de recursos públicos para as obras de modernização urbanística de São Caetano?
José Auricchio Jr. -- O projeto todo é baseado nos limites orçamentários, gerenciados por nossa equipe de governo. Lei de Diretrizes Orçamentárias, Plano Diretor, Plano Plurianual, Estatuto das Cidades, Lei de Responsabilidade Fiscal... Todo o projeto está embasado nas diretrizes que o Município deve seguir. A modernização urbanística está inserida nesse contexto, junto ao desenvolvimento econômico, também graças à melhoria da capacidade de investimento que obtivemos nessa Administração. Isso foi possível lançando mão de melhores equações de RH, política fiscal, incentivos específicos, entre outros. Enfim: estamos investindo melhor o dinheiro público, e de maneira mais moderna e planejada.
Até que ponto o senhor entende que São Caetano beneficia-se e, em contraposição, se prejudica com a imagem externa do Grande ABC?
José Auricchio Jr. -- Sou afeto à regionalidade total. O crescimento de um Município representa o crescimento de outro. Portanto, São Caetano sempre se colocará a favor de iniciativas que beneficiem o Grande ABC nos cenários estadual e nacional. Se atuarmos em conjunto, ganharemos mais força.
Se o Grande ABC fosse um primor de regionalidade, o senhor acredita que tudo poderia ser diferente e o timing de efetivação desses projetos seria mais breve?
José Auricchio Jr. -- Acredito que o sucesso desses projetos está diretamente ligado ao espírito da regionalidade. Não somente aqui no Grande ABC, mas em todo o País. No entanto, até que ponto as questões nacionais, sobretudo as macroeconômicas, permitem que regiões se fortaleçam? Onde encontramos exemplos de regiões que conseguem efetivamente caminhar conjuntamente, pelo menos nas questões vitais, com tamanho achatamento da economia nacional? Uma das soluções, sem dúvida, é as agências de desenvolvimento urbano trabalharem nesse sentido de desenvolvimento sustentado.
O terço reservado para o desenvolvimento econômico de São Caetano, dentro de novos prismas, é resultado de planejamento espacial absolutamente factível ou corre-se o risco de gerar expectativa que se frustraria na sequência?
José Auricchio Jr. -- Tudo está planejado dentro do maior eixo possível de exequibilidade. Acredito ser plenamente possível alcançarmos o desenvolvimento econômico dentro do planejamento que fizemos.
Como os dois terços de uma São Caetano cada vez mais seletiva em termos de ocupação demográfica deverão interpretar a proposta de ocupação de um terço do território com alternativas econômicas?
José Auricchio Jr. -- Estamos frente a um desafio: São Caetano precisa de desenvolvimento econômico sustentado, aliado à modernização urbanística. Ou enfrentamos a questão, ou a cidade estará fadada no mínimo à estagnação na próxima década. Tenho trabalhado junto à sociedade civil continuamente para levar a questão, e sinto que a população está absolutamente engajada nesse projeto. Mas jamais deixo de lado outro ponto vital: o desenvolvimento ambiental, sem o qual a equação desenvolvimento econômico sustentado/modernização urbanística não fecha. Desenvolvimento ambiental também é crucial para São Caetano.
Total de 197 matérias | Página 1
10/05/2024 Todas as respostas de Carlos Ferreira