Política

Aidan está na moita, à espera do
momento de voltar à cena política

DANIEL LIMA - 28/02/2013

É exatamente isso o que se depreende da entrevista que o sempre bem informado jornalista Leandro Amaral, do Bom Dia ABCD, publicou nesta semana com o ex-prefeito de Santo André. O político que tinha tudo para seguir os passos de Newton Brandão como representante da centro-direita acabou engolfado por problemas num único mandato e se viu apeado do poder por um petista que durante toda a década dos anos 2000 manteve-se distante do cotidiano da região, embora fortalecesse os laços com o sindicalismo. Perder a eleição para Carlos Grana era o cenário mais improvável traçado pelos petebistas, com razão e também por conta da arrogância.


 


Aidan Ravin perdeu para Carlos Grana quando tudo indicava que só perderia se errasse demais. Era muito pouco provável que o candidato escolhido pelo ex-presidente Lula da Silva conseguisse tornar-se popular e confiável em tão pouco tempo. Tanto é verdade que mesmo vencendo, Grana contou com um pouco mais de um terço dos votos válidos, porque os outros dois terços foram para Aidan Ravin e diluíram-se em votos brancos, nulos e abstenções.


 


Faltou ao grupo fechado de Aidan Ravin, um grupo fechado à moda dos coronéis que insistiu em reviver, desprezando as demandas de uma sociedade morta e que por isso mesmo precisa ser cutucada e valorizada, faltou ao grupo de Aidan Ravin, dizia, perceber que o desdém ao candidato petista era um risco enorme. Como acabou por se traduzir.


 


Ainda recentemente – Aidan não repetiu a avaliação na entrevista a Leandro Amaral – o já ex-prefeito de Santo André chegou a afirmar, numa balanço dos resultados eleitorais, que foi derrotado na periferia, não nas zonas de classe média. Por que chegou àquela constatação? Porque na medida em que as urnas eletrônicas começaram a ser apuradas em direção aos subúrbios de Santo André, a vantagem que acumulou nas áreas centrais e mais restritivas ao modo petista de governar acabaram por esvaziar-se no cômputo geral.


 


Aparentemente, uma conclusão sábia. Foi a periferia petista que derrotou Aidan Ravin, o mesmo Aidan Ravin que, quatro anos antes, estourara de votos nessa mesma periferia e se comportara bem em muitos bairros de classe média.


 


Derrota entre conservadores


 


A leitura eleitoral de Aidan Ravin é equivocada. Já era esperado que Carlos Grana, um braço de Lula da Silva, iria rivalizar e mesmo suplantar o petebista nos bairros mais distantes e carentes. Entre outros motivos porque as politicas públicas sociais do governo federal, extratificadas no Bolsa Família, fazem naquelas áreas tantos resultados eleitorais quanto nas regiões mais pobres do Pais. Portanto, a saída para Aidan Ravin era perder por menor margem possível de votos na periferia e ganhar com a mais larga vantagem de votos possível nas áreas centrais. 


 


Nem mesmo o julgamento do mensalão que, comprovadamente, segundo estudos respeitáveis, acertou em cheio a força petista na corrida eleitoral, levou Aidan Ravin a suplantar com a diferença necessária Carlos Grana nos bairros mais tradicionais. Aidan ganhou no Centro e na vizinhança do Centro, e também em alguns bairros da região de Camilópolis, mas os números não foram suficientemente largos para contraporem-se à vantagem do PT na periferia. A diferença líquida de 30 mil votos foi, na realidade, de apenas 15 mil. Os votos que deixou escapar entre os conservadores, muito mais suscetíveis a uma candidatura que representasse o contraponto ao desgaste petista, foram letais. 


 


Está na cara na entrevista ao Bom Dia ABCD que Aidan Ravin exercita um jogo de paciência política que o levará a disputar uma vaga a deputado estadual no ano que vem, preparando-se para o salto de volta ao passado, em 2016, certamente torcendo para que o quadro macroeconômico se deteriore a tal ponto que a provável reeleição de Dilma Rousseff seja motivo de muita decepção dos eleitores de classe média que apenas por conta da presidente desembarcaram na candidatura petista.


 


Claro que Aidan Ravin jamais dirá que torce contra o Brasil, porque nenhum político o faz senão nos bastidores familiares e de amigos, mas que o sonho de retomada da carreira de Executivo passa por uma quebra do ritmo já comprometido do crescimento econômico nacional, convém não contestar.


 


Por mais que valores locais pesem no quadro eleitoral, o peso relativo da condição macroeconômica integra a bolsa de resultados eleitorais. 


 


Não li em nenhum parágrafo da entrevista ao Bom Dia ABCD, porque assim o entrevistado não o fez, uma única alusão de Aidan Ravin sobre eventuais reposicionamentos de diretrizes que construiria para dar alguma garantia aos eleitores de Santo André de que, de volta ao Paço Municipal, fará uma Administração diferente da primeira.


 


Reprogramação de desempenho


 


Com o capital eleitoral de que ainda dispõe, porque não é para qualquer um o manancial de carisma que bloqueia o senso crítico da maioria, Aidan Ravin deveria estar reprogramando a carreira em termos programáticos. O voluntarismo dos quatro anos à frente da Prefeitura de Santo André é uma das raízes que comprometeram a estrutura de poder para sustentar uma trajetória que todos imaginavam seguir as pegadas de Newton Brandão, até então imbatível quando se referenciava o poder de sedução.


 


Aidan Ravin transmite a ideia de que coloca tanta fé na força de sua materialidade física carregada de simpatia pública que dispensa qualquer outro elemento de marketing. Não é bem assim, como se sabe, porque o arrastão que promoveu na campanha pré-primeiro mandato, colocando os petistas a nocaute, não se repetiu durante o período que antecedeu a disputa pela reeleição.


 


Se é verdade que o PT de Santo André não tem outro candidato com que se preocupar em 2016, até porque Raimundo Salles e Paulinho Serra viraram secretários de luxo sob a condicionalidade de guardarem-se para disputas apenas em 2020, o outro lado da moeda é que o próprio Aidan Ravin precisa ser orientado sobre os efeitos do tempo na memória do eleitorado.


 


Estar nos bastidores do G-12 que enchouriça a vida do prefeito Carlos Grana, dentro das regras da democracia, é muito pouco para consolidar o projeto de retomada do Paço Municipal. Não se deve colocar todos os ovos estratégicos na cesta de empobrecimento do PIB nacional. Se não fizer sua parte de modo a recuperar o tempo perdido de alguém que não conseguiu fixar um projeto desenvolvimentista para Santo André, Aidan Ravin acabará perdendo de novo, apesar do viço magnético dos contatos pessoais que transmite.


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