O sonho de Luiz Marinho concorrer ao governo do Estado de São Paulo na próxima eleição ou mesmo na seguinte, em 2018, está virando pesadelo. Nem no vácuo do prestigio do ex-presidente Lula da Silva Marinho consegue demover geleiras partidárias e interpartidárias.
O vezo sindicalista e a série de denúncias de corrupção, entre as quais a do empreendimento Marco Zero, em que está associado ao mercador imobiliário Milton Bigucci, colocaram na berlinda o ex-ministro da Previdência e ex-ministro do Trabalho. O guarda-chuva de Lula da Silva não seria suficiente a empreitadas mais ambiciosas. Até porque o ex-presidente não tem vocação a camicase.
Nem mesmo os petistas que não têm mais o que teorizar sobre ética e moralidade públicas querem saber de embalar Luiz Marinho rumo ao governo do Estado. O veto à secretária de Educação, Cleuza Repulho, para compor a Administração Fernando Haddad, na Capital, sinalizou as restrições que petistas explicitam internamente para não sofrerem novos desfalques de credibilidade. Cleuza Repulho é espécie de chama-escândalos prestigiadíssima pela Administração Luiz Marinho. É um passivo que atinge em cheio o prestígio interno do prefeito.
O que mais se propaga nos corredores do Paço Municipal de São Bernardo é a importância de avaliar servidores estrelados pela capacidade de apagarem incêndios. Já não importa o tamanho das irregularidades cometidas. Pecar virou algo corriqueiro na Administração petista. O que manda mesmo como critério de meritocracia, se isso é possível acrescentar como medidor, é mais que a resistência às denúncias – é a dissolução das denúncias.
Quem mais cometer delitos e menos hostilidades legais sofrer acabará ganhando espaços nos escaninhos do poder petista. O mensalão não foi de todo negativo ao PT, garantem os próprios petistas, porque passou a parametrizar quem é bom ou quem não é bom para o partido. É bom quem faz o que acha melhor fazer sem deixar complicações comprometedoras.
Dependência sindical
Luiz Marinho é visto com muita desconfiança entre os petistas que não suportam o excesso de subordinação administrativa a lideranças sindicais.
Graduados petistas paulistas consideram pernicioso o relacionamento de Luiz Marinho com instâncias corporativas que tem a força concentrada nas empresas privadas de grande porte, as quais se submeteriam a critérios pouco comuns de relacionamento entre capital e trabalho. Dizem que em certas situações torna-se insondável distinguir quem é a força capitalista e quem é a contrapartida de trabalho.
Os sindicalistas exercem um poder de manipulação dos tentáculos administrativos da Prefeitura de São Bernardo que contraria vertentes partidárias detentoras de perfil mais técnico, mais acadêmico.
Mesmo gente que coloca Lula da Silva no altar da admiração não quer nem ouvir falar em Luiz Marinho como eventual herdeiro do ex-presidente, porque o considera apenas uma cópia pálida.
Um arremedo sem a mesma técnica vocabular, sem arcabouço argumentativo, sem o carisma reverenciado pelo mundo todo, sem o traquejo para conciliar e sobretudo sem vocação à liderança natural. Se há viuvinhas às pencas de Celso Daniel, de Lula da Silva não faltam apadrinhados ambiciosos.
É claro que Luiz Marinho conta com aparatos partidários no governo federal. A ministra Miriam Belchior, muito próxima da primeira dama e supersecretária de São Bernardo, Nilza de Oliveira, é um dos pontos da rota de fuga do petista quando pretende se fortalecer. Sem contar, é claro, o abre-alas Lula da Silva, que, ao bancar Marinho em várias instâncias de poder, joga com um prestígio gigantesco.
Dependência política
O problema é que Luiz Marinho não tem vida política própria. Atribuem-lhe predicados como dedicação ao trabalho, compromisso de operário que já foi para acompanhar todas as obras, mas quando se pretende um brilho a mais, aquele lampejo que distingue os medíocres dos bem-aquinhoados, eis que a contabilidade de Luiz Marinho encaminha-se ao vermelho -- não o exclusivamente partidário, é claro.
O império sindical do qual Luiz Marinho é um dos maiores beneficiários também é avaliado por alquimistas eleitorais do PT como entrave a quem pretende conquistar um Estado dito conservador como São Paulo. A imagem de sindicalista assusta imensas áreas paulistas.
Há um sentimento de larga expressão do eleitorado sobre a vinculação da atividade que embalou a carreira de Lula da Silva e justificadas ou não arremetidas em direção a rebeldias e excessos tendo em conta em primeiro lugar os direitos ou os supostos direitos dos trabalhadores.
Se internamente Luiz Marinho não deslancha no processo de maturação de uma candidatura ao governo do Estado, especula-se sobre o plantio fértil em direção ao senado federal, sempre com as costas largas de Lula da Silva e do sindicalismo. O que poderia servir de suporte ao fortalecimento da imagem do petista, entretanto, é interpretado por gente que entende de pesquisas qualitativas como um diferencial de protecionismo sem correlação com competência.
Em suma, expande-se a impressão de que fazer obras em São Bernardo com tanto dinheiro do governo federal não é mais que obrigação. Duro mesmo, segundo essas avaliações, é instaurar medidas de planejamento que revirem a história de um Município que avança por osmose, por conta da Doença Holandesa do setor automobilístico. Os projetos insustentáveis no campo econômico de Luiz Marinho são motivos de anedotas. O aeroportozão tão proclamado é o carro-chefe de galhofas.
Mesmo o entorno de Luiz Marinho considera indestrutíveis as restrições críticas, mas há quem aposte que nos quatro anos de segundo mandato em São Bernardo o ex-sindicalista terá oportunidade para deslanchar novas empreitadas econômicas e minimizar o peso automotivo da contabilidade orçamentária municipal.
Não é tarefa simples, como se sabe. Luiz Marinho parece completamente perdido quando se trata de sair do labirinto em que se meteu, entre obras físicas ditadas por recursos previamente carimbados e um salto surpreendente à fixação de estacas em forma de emprego e renda.
Operariado demais
Luiz Marinho é visto como um operário extenuante, provavelmente vítima de TOC, tal o empenho com que se lança a monitorar cronogramas, mas sem vocação para a grandeza institucional que mesmo a Prefeitura de São Bernardo exigiria. Ou seja: é um prefeito à imagem de uma cidade sem apetrechamento para sensibilizar eleitorado de perfil menos operário.
Exatamente o oposto do sonho de consumo de Lula da Silva que, como se sabe, não escolheu sindicalista algum à sucessão de Gilberto Kassab. O verniz de acadêmico de Fernando Haddad é a cara do petismo que Lula da Silva pretende ver na disputa ao Palácio dos Bandeirantes. Ou seja: Lula da Silva pode ter Luiz Marinho como irmão mais novo, mas não é bobo, porque sabe que há um carimbo social no ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Quem como Lula já experimentou esse veneno e sabe o que é apanhar constantemente nas urnas paulistas, mesmo nos tempos em que o PT era venerado como exemplo de ética, não está disposto a apadrinhamento autofágico.
Por isso, tudo que se disser e escrever sobre eventuais possibilidades de Luiz Marinho concorrer ao governo do Estado, hoje ou amanhã, não passa de fumaça agregada a um jogo de cena que pretende, em situações críticas, tentar instalar a imagem do prefeito de São Bernardo numa zona de suposto conforto. Os marqueteiros são especialistas nessa operação que engana apenas os trouxas do jornalismo.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)