Política

Marinho não consegue manter
a unidade do PT na Província

DANIEL LIMA - 12/03/2013

Enquanto dá pitacos sobre o quadro macropolítico nacional, em entrevista publicada domingo no Estadão, o prefeito Luiz Marinho não consegue manter a unidade do PT na Província do Grande ABC. O titular do Paço de São Bernardo e do Clube dos Prefeitos não segura as pontas de independência relativa do prefeito Carlos Grana, em Santo André, e de Donisete Braga, em Mauá, entre outros subgrupos petistas.

A proximidade de Donisete Braga e de Carlos Grana com uma ala da mídia regional que não dá sossego a Marinho é vista pelos petistas de São Bernardo como insubordinação, quando não trairagem. A situação está longe de ser corrosiva, mas simboliza senão um baixo grau de compactação do projeto de controle total do partido na região por Luiz Marinho ao menos rasura incômoda no tecido harmônico que se pretende ostentar.

A insatisfação de Luiz Marinho se expressa a cada dia em que o Diário do Grande ABC sai às ruas com o direcionamento tácito de apontar o nível de corrupção e de improdutividades da Administração de São Bernardo, enquanto tempera a panela de idiossincrasias em Santo André e em Mauá com alguma arte. Está certo que se tornou cada vez mais difícil entrar na roda de louvações a Luiz Marinho, porque seu governo é medíocre, mas o Diário do Grande ABC muitas vezes erra não pelo que noticia, mas pelo que deixa de noticiar. Já com Carlos Grana e Donisete Braga a relação é mais amena. Ambos são próximos de Ronan Maria Pinto, presidente do jornal. Uma proximidade que Ronan raramente teve com Luiz Marinho. Dizem que há entre eles incompatibilidade de gênios. Trata-se de uma delicadeza interpretativa. A animosidade vai muito, mas muito além de fatores subjetivos.

Idas e vindas

Sabe-se nos bastidores do poder e da mídia que entre Ronan Maria Pinto e Carlos Grana há aproximações e afastamentos que contribuem para reduzir a carga do noticiário ostensivamente depreciativo ao petista. O que tem pegado ultimamente é o G-12, o grupo de vereadores por enquanto opositores de Carlos Grana, que conta com ampla cobertura do Diário do Grande ABC. Até ultimato em forma de manchete de primeira página foi publicado outro dia. Aliás, o prazo estipulado para Carlos Grana ceder às tentações dos 12 que na verdade são muito mais, está-se esgotando.

Já a relação do Diário do Grande ABC com Donisete Braga, prefeito de Mauá, é mais tranquila. Ronan e o prefeito são velhos amigos, inclusive de manhãs de fortalecimento de massa muscular, numa academia em Santo André. A tática de aproximação circunstancial com Carlos Grana e de aproximação permanente com Donisete Braga é uma maneira de incomodar Luiz Marinho ou mais precisamente de lhe transmitir recados.

Faz parte do show de informações amenizar em Santo André e até mesmo abrilhantar Donisete Braga em Mauá, desde que Luiz Marinho seja permanentemente questionado em São Bernardo. Afinal, a cidadela que interessa de fato como alvo de desgaste político e administrativo é a capital econômica e política da região. Bater em Luiz Marinho porque Luiz Marinho merece apanhar entre outras razões porque administra São Bernardo como se fora o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC é tão fácil para o Diário do Grande ABC e outras publicações que, de fato, o que se estranha é que outras publicações se calam.

A arrogância do prefeito de São Bernardo que, mesmo sem o aval de seu padrinho e protetor Lula da Silva imagina concorrer ao governo do Estado em 2018, virou unanimidade na região. A imagem que tentaram lhe outorgar, de político cordato, discreto, ameno, não resiste aos atos. Luiz Marinho é visto pelos mais próximos, seus aliados, como um poço de autossuficiência embalado principalmente pela primeira dama e supersecretária Nilza de Oliveira.

Contar com aliados para filtrar as demandas é comportamento compulsório de prefeitos com juízo no lugar, de forma a não perder o foco, mas Luiz Marinho exagera. Sem contar que é um produtor de maldades terceirizadas por sabujos de sempre, os xangolistas de primeira hora. Os paus mandados de sempre.

Denúncias sérias

Apesar das diferenças editoriais que mantenho ao longo dos tempos com o Diário do Grande ABC e que vai muito além do noticiário político, por conta do ziguezaguear de demandas táticas que sufocam as ações estratégicas daquele jornal, nos últimos tempos a publicação tem ganhado maturidade quando se trata de questionamentos a Luiz Marinho. As reportagens que denunciam esquemas de corrupção são aparentemente inquestionáveis, porque fundamentadas em dados, em documentos, em provas. Luiz Marinho parece encalacrado. Mas segue a subestimar o arsenal jornalístico, acreditando que os estragos ficarão restritos a guetos de uma Província que vive no ostracismo midiático quando se abre o leque e se coloca pelo menos os grandes jornais paulistas como referência. Talvez Luiz Marinho caia na real quando os chamados horários gratuitos de TV forem alimentados por estoques de inconformidades administrativas.

E olhem que estou me referindo somente às denúncias do Diário do Grande ABC que, por conveniência e compadrio, tem-se omitido persistentemente sobre os delitos praticados pelo empresário Milton Bigucci, amigo intimo daquela casa de notícias e copa e cozinha da Administração petista de São Bernardo.

Luiz Marinho, Carlos Grana e Donisete Braga, os prefeitos petistas de plantão na Província do Grande ABC, portanto, não caminham necessariamente pela mesma estrada de relações com o Diário do Grande ABC. E isso tem azedado as relações dos dois beneficiários com Luiz Marinho. Com isso, Ronan Maria Pinto tem conseguido o que os tucanos mais apreciam: incomodar um prefeito sobre o qual todos os holofotes eleitorais estão concentrados entre outros motivos porque está diretamente relacionado à cúpula máxima nacional do petismo. Essas pedras nos rins do organismo vermelho na região vão incomodar cada vez mais, na medida em que o cronograma eleitoral colocar as eleições ao governo do Estado mais próximo do eleitorado.