Um caso escabroso de corrupção envolvendo o deputado estadual Orlando Morando embala os petistas de São Bernardo. A aproximação entre o deputado estadual e o prefeito Luiz Marinho, outro dia no gabinete do Paço Municipal, faz parte do show de encenações de uma disputa nada amistosa entre gato e rato. Desconfia-se que, no caso, os animais seriam da mesma raça. Se há mais que desconfianças sobre o nível de prevaricações da Administração Luiz Marinho, com Orlando Morando a situação é outra. Há certezas e provas reservadas a momentos apropriados.
Embalar a candidatura de Orlando Morando significa atingir Alex Manente, rival do tucano no espectro eleitoral de centro-direita de São Bernardo. O PT manipula os cordéis como bem entende porque sabe que não tem ainda um representante forte à sucessão de Luiz Marinho. A estratégia é ganhar tempo, enrolar os adversários, fazer-se de quase companheiros, até a hora do bote fatal.
O secretário Tarcísio Secoli estaria sendo preparado para o embate final, dizem os petistas próximos à cúpula. Entenda-se cúpula o prefeito Marinho e a primeira dama Nilza de Oliveira. Com Lula da Silva sempre à espreita, é claro. Já o sensibilizador de financiamentos privados, Luiz Fernando Teixeira, presidente do São Bernardo Futebol Clube, corre em raia paralela. Já estaria satisfeito com uma coalizão de forças que embalasse candidatura a deputado estadual. Mas isso é outra história.
Qual seria a mancha pecaminosa da trajetória de Orlando Morando a ponto de ser atingido em cheio, abortando eventual campanha à Prefeitura? O deputado estadual sabe muito bem do que se trata, enquanto os petistas pensam que sabem, mas nada reúnam de provas. Tanto existem complicações envolvendo Orlando Morando que o prestígio com a cúpula tucana no Estado já foi muito mais sólido. Como é impossível apagar o passado, até porque o passado deixa marcas nestes tempos em que as comunicações dominam as relações humanas, o que se pretende no horizonte mais próximo e também de médio prazo é que os tucanos estejam também engatilhados ante os petistas para conterem eventuais ataques.
Olhem para as Coreias
Quem quiser comparar as relações entre tucanos e petistas em São Bernardo, e as influências que geram no entorno dos apadrinhamentos estadual e federal, pode deslocar o olhar para o mapa-múndi e localizar as duas Coreias. A diferença é que na política as ameaças são veladas, quando não dissimuladas, quando não portadoras de intimidades, como o encontro entre Marinho e Morando, enquanto os coreanos de vez em quando botam as asinhas de fora e prometem jogar ogivas nucleares no vizinho mais próximo. É por essas e outras que política é politica e guerra é guerra.
Quanto mais aparecer nas páginas de jornais, nas colunas sociais e no noticiário televisivo local, mais Orlando Morando estará se expondo às radiações letais do passado. Não faltarão bajuladores regados à publicidade pública que lhe prestarão apoio e suporte porque é importante para uma parcela da mídia regional contar com os benefícios da intermediação informal de recursos do governo do Estado.
A blindagem de Orlando Morando na Província do Grande ABC, como blindagens que preservam outros personagens supostamente de rica biografia na região, não resistirá aos golpeamentos que sofrerá se o cronograma de revelações finalmente for acionado. O então ministro Antônio Pallocci caiu por muito menos em relação às aventuras de Orlando Morando.
A estas alturas do campeonato os leitores devem estar a perguntar o que sabe este jornalista sobre as peripécias de Orlando Morando. A melhor resposta é que vivo de fontes nas quais confio e as quais, no caso de Morando, me abriram o suficiente para digitar este texto sem correr o menor risco de responder, sem o devido preparo, a um contragolpe.
Os detalhamentos das operações que colocam Orlando Morando em eminente banco dos réus da avaliação pública, com repercussões dilacerantes no prestígio que acumula por conta de um trabalho intenso e à altura de suas ambições estão a salvo de qualquer bisbilhotagem. Isto quer dizer que versões que eventualmente ganhem corpo nos bastidores não passariam de especulações.
Não existe, evidentemente, qualquer iniciativa deste jornalista que vise a atingir a individualidade da pessoa física de Orlando Morando. O que está em tela é o mandato do deputado estadual. Há sim uma cratera de revelações sobre sua atuação parlamentar que se mistura a atividades empresariais, daí, a conclusão de que se se trata de corrupção.
Trata-se de algo tão profundo que, sem dúvida, fosse esse um País minimamente sério, Orlando Morando estaria abatido inclusive na tentativa de reeleger-se deputado estadual. Como aqui tudo é possível – está aí a associação vergonhosamente delituosa entre a Administração Luiz Marinho e o empresário Milton Bigucci, no caso do terreno público surrupiado durante um leilão fajuto – não posso ao menos insinuar a garantia de que o deputado estadual se tornará um ficha suja irrecuperável.
Aliás, já que mencionei o nome do empresário Milton Bigucci, não estão longe da realidade as informações de que foi o deputado Orlando Morando o agente de aproximação entre o também titular da Associação dos Construtores do Grande ABC e a Administração Marinho, após escaramuças de começo de governo municipal, em 2009. Morando e Bigucci são amigos de longa data, de reciprocidades que alimentam essa relação, e se beneficiam mutuamente de relacionamentos no campo empresarial. Sustentar que sejam sócios em empreendimentos ultrapassa os limites da certeza.
Marcas comprometedoras
O que posso dizer sobre o passado que condena o deputado estadual é que a arremetida fora das quatro linhas legislativas deixou mais que vestígios, deixou uma indefensável junção de irregularidades documentais e deslizes éticos. Aqueles que acreditaram no jovem deputado como agente de transformações econômicas e sociais -- caso deste jornalista -- não deveriam continuar a cultuá-lo, se ainda o fazem, porque a carga de decepção seria enorme.
Sem conhecer as bases intestinais do escândalo que envolve Orlando Morando, os petistas acautelam-se politicamente. Contam com informações que assegurariam um caminhar tortuoso e escorregadio do deputado estadual caso ele decida mesmo expor-se à disputa municipal. Como os petistas, todos sabem, também não são flores que se cheirem, reza a doutrina defensivista que é melhor juntar-se mesmo que provisoriamente a adversários para acalmá-los e sugerir que podem correr sem hostilidades em raias paralelas do que promover carnificina da qual todos sairiam derrotados ou chamuscados em excesso.
Trocando em miúdos: o encontro público entre Marinho e Morando não seria nada além de chamar holofotes para ratificar aproximações de bastidores que remontam há bom tempo. Antes até da disputa entre Marinho e Alex Manente ser levada oficialmente a campo, ano passado. Afinal, tudo o que Morando queria era manter Manente longe do Paço Municipal. Disque M para matar virou naquela eleição mais que uma metáfora hitchcockiana.
Luiz Marinho e Orlando Morando tão próximos não é surpresa alguma, portanto. Eles são bastante parecidos em âmbito doméstico como também estadual. Consideram-se as estrelas dos respectivos partidos na região (Marinho é de fato por razões múltiplas e Morando procura reinar com troca de cotoveladas com o ex-prefeito e deputado federal Wiliam Dib num ambiente de caos partidário) e com fortes tentáculos no mercado estadual (nem tanto, nem tanto, apesar do apadrinhamento de Lula da Silva e de Geraldo Alckmin). Nesse caso, repousa um paradoxo: como pau que bate em Chico também bate em Francisco, não só os bônus envolvendo Marinho e Morando na região repercutiriam em outras fronteiras. Também os ônus devem ser considerados.
O tempo vai provar, segundo fontes seguras, que o missionarismo de Orlando Morando na construção do trecho sul do Rodoanel não reunia nada, nada mesmo, da biografia do papa argentino que Galvão Bueno vai ter de engolir.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)