Política

Até quando Grana vai suportar a
pressão de quem o torna refém?

DANIEL LIMA - 15/03/2013

O prefeito petista de Santo André, Carlos Grana, virou refém da oposição articuladíssima para fatiar ainda mais a ocupação multicolorida da Administração Municipal. Grana está com uma espada sobre a cabeça e não sabe o que fazer. Se bate o pé corre o risco de afundar num terreno movediço; se entregar a rapadura flertaria com a desmoralização. A coalização que o levou à vitória ante Aidan Ravin fora programada como investimento de risco. Agora se transformou em força quase impossível de controlar. A fatura a ser paga é flexível demais. Há gente gulosa que não se contenta com pouco.


 


Quem lê atentamente o noticiário e sabe separar o que é informação e o que é coerção deve ter entendido outro dia o recado de uma manchete de primeira página do Diário do Grande ABC. O vespertino atuou como porta-voz dos opositores. Concedia generosamente duas semanas de prazo para Carlos Granas dar o que tem ou descer do que tem. Essa operação escandalosamente às claras para negociações não mais que obscuras passa ao largo de ensaios disciplinadores da moralidade pública. É um toma-lá-dá-cá explicito. Se Grana resistir, vai sofrer um bocado.


 


O drama do PT que deu toda a força para Carlos Grana virar prefeito, desprezando um candidato mais apetrechado como o deputado federal Vanderlei Siraque, é que agora não há como voltar atrás. Grana está aí e é preciso preservá-lo ao máximo da avalanche do G-12, como se autodenomina o grupo de vereadores que querem tirar o que puderem da Administração Municipal, sempre com o suporte logístico de gente que atua no entorno e que de fato comanda a oposição.


 


Confissão ou liberdade


 


Não fosse Santo André um dos pedaços mais provincianos da Província do Grande ABC, estivesse Santo André explicitamente entregue à avaliação de uma mídia penetrante nas massas e decidida a cumprir obrigações com o público consumidor de informação, fosse Santo André algo que não beirasse a um ambiente de decomposição social que nem tão remotamente lembra as máfias italianas, se tudo isso fosse o que deveria ser a Administração Grana já teria causado um grande alvoroço.


 


Que tipo de alvoroço? Ou ele confessaria todos os pecadilhos que eventualmente cometeu para derrotar Aidan Ravin ou daria um grito de liberdade que faria os prevaricadores correrem em busca de salvação.


 


Como Santo André é fim de linha na arquitetura democrática que alguém ousa sonhar na Província do Grande ABC, como Santo André está dominada por gente que quer levar vantagem de qualquer maneira, como Santo André foi entregue a um prefeito que não se desvencilha da força-tarefa que deliberadamente o apoiou porque sabia o que poderia obter de recompensa em seguida, como Santo André é tudo isso e muito mais com seus guetos desavergonhados, o que temos é uma Administração Municipal manietada, a viver da ilusão de manchetes e que terá alguns trocados federais aqui e acolá e os transformará em marketing requenguela.


 


A trajetória econômica e social de Santo André no interior da Província do Grande ABC é alarmantemente preocupante, conforme provam estudos que produzo sistematicamente e que alimentam a vertente de cientificidade desta revista digital.


 


Quem nutriu a expectativa de que Carlos Grana poderia desencadear um processo de regeneração do ambiente da cidade certamente deveria constar de uma relação de candidatos a Papai Noel de shopping center. Assim como não se prepara omeletes sem quebrar ovos, não se produz uma grande crise administrativa sem se deixar levar por arapucas de inconformados.


 


O sindicalista que o ex-presidente Lula da Silva bancou a candidatura à Prefeitura, colocando toda a massa crítica petista e sindicalista a serviço da causa, está imobilizado pela oposição muito bem postada mas sem nenhum projeto republicano.


 


Grupo sanguessuga


 


O G-12 é um braço de oportunismo explícito que não faz cerimônia alguma na saga sanguessuga que o caracteriza. O G-12 é um escárnio com vestimenta democrática que consegue levar no bico todos aqueles que acompanham o noticiário político sem se dar conta de que, estivesse nas páginas policiais, não haveria diferença alguma.


 


Imaginar que Carlos Grana vai providenciar a limpeza de alguns dos pratos imundos deixados pela Administração Aidan Ravin é criar expectativa semelhante a de que o policial reformado que matou a namorada escaparia da condenação, tantos foram as provas policiais apresentadas. Como alguém que caiu na armadilha da multiplicação de forças deliberadamente voltadas a aprisioná-lo na vitória ousaria romper com um esquema de sustentação que o desmoralizaria ante eventuais denúncias?


 


Os escândalos da Administração Aidan Ravin, principalmente no setor imobiliário, não foram outra coisa senão a sucessão de escândalos das administrações petistas que o antecederam e sobre os quais Carlos Grana não teria independência partidária, política e institucional suficiente para desvendá-los completamente.


 


Esquecendo o passado


 


Aliás, por essas e por outras Carlos Grana foge de qualquer sugestão que possa colocá-lo em confronto com fatos passados. Há um pacto com os financiadores e apoiadores de sua campanha de que todo o passado deveria ser esquecido porque se pretende de verdade arrumar algum bode expiatório para os casos mais cabeludos, como o do Semasa, projetando-se ao público com arte de marketing a mensagem de que existe um viés moralizador na Administração petista.


 


A disputa que em situação de normalidade ética da política, uma normalidade por si só bastante flexível, deveria restringir-se aos bastidores, filtrando-se com comedimento a divulgação pública do movimento das pedras, tornou-se uma escaramuça explícita. Perdeu-se completamente a compostura porque os protagonistas e figurantes carregam a certeza de que nada os obstará.


 


A ideia de que o julgamento do mensalão provocaria mudanças radicais nas ações públicas dos agrupamentos políticos está mais que fadada ao fracasso, tanto quanto, durante e após o despejo do então presidente Fernando Collor de Mello, não faltaram aqueles que esfregaram as mãos e projetaram novos e alvissareiros tempos na política nacional. Não é exagero algum repetir que a Brasília do futuro é a Província do Grande ABC de agora.


 


Carlos Grana esquartejou de tal maneira o organograma da Prefeitura de Santo André para acomodar batalhões multipartidários que já não sabe com quem pode contar. Só sabe mesmo que pode contar com o G-12, desde que abra mãos dos próprios princípios.


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