Administração Pública

Por que Marinho excomunga
e Grana idolatra Celso Daniel?

DANIEL LIMA - 21/03/2013

O prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, e a primeira ministra de São Bernardo, Nilza de Oliveira, não tocam jamais no nome de Celso Daniel em público. Já o prefeito de Santo André, Carlos Grana, vira e mexe, na hora do desespero, de falta de horizonte, chama Celso Daniel para o jogo administrativo. Foi o que fez segunda-feira, após longo encontro com todo o secretariado durante o final de semana. Todo o secretariado é força de expressão, porque o camaleônico Raimundo Salles, titular de Cultura, não deu as caras.


 


Afinal, o que pretende este jornalista ao propor o diferencial entre Marinho-Nilza de Oliveira e Carlos Grana e a gestão de Celso Daniel? O que quero dizer é que da mesma forma que Luiz Marinho-Nilza de Oliveira excomunga a lembrança de Celso Daniel, porque sempre e sempre será uma desagradável comparação, dessas coisas que nenhum político com ambições gostaria de colocar em seu currículo porque sempre haverá de perder, Carlos Grana faz questão de colar o prestígio daquele político como porção importantíssima ao que pretende à frente de Santo André, porque sabe que lhe seria supostamente sempre favorável.


 


Celso Daniel é um nome quase sagrado na região e, particularmente em Santo André, é um abre-alas que até os inimigos de outrora, hoje incorporados ao governo de Carlos Grana, resolveram admitir como administrador fora de questionamentos, denúncias de corrupção à parte.


 


Quem nestas alturas do campeonato estaria agindo com inteligência? Marinho-Nilza que repele Celso Daniel porque sabe que a desvantagem será sempre dolorida, tal a diferença de estatura gerencial, ou Carlos Grana, em busca de uma vantagem não comparativa, porque seria suicídio, mas de marketing, de embalar propostas com a chancela daquele que deixou um legado filosófico maior que o material entre outros motivos porque não teve tempo suficiente, dinheiro disponível e retaguarda política para inflexões mais profundas?


 


Erro duplo


 


Entendo que tanto Marinho-Nilza quanto Grana e o conglomerado de partidos que lhe dão sustentação mas também muito susto estão equivocados.


 


Ao esconder Celso Daniel de qualquer propositura administrativa, embora a primeira-ministra Nilza de Oliveira tenha carregado muito dos ensinamentos daquele prefeito a São Bernardo, atuando ao lado da hoje ministra Miriam Belchior, Luiz Marinho confessa publicamente aos mais atentos que a marca do prefeito que chegaria muito mais longe no governo Lula da Silva do que ele, Marinho, chegou, o incomoda.


 


Nem poderia ser diferente, porque é disparatosa a distância que os separa. Sem frescurite do politicamente correto, não haveria mesmo como Marinho, ex-apertador de parafusos, equivaler-se ao brilho de intelectualidade daquele que comia pipoca com colher para não correr o risco de manchar cada página de livro que consumia com avidez. Quem acalentava, como este jornalista, no início de mandato de Marinho, a esperança de que, cada um a sua maneira, Celso Daniel de um lado, novo prefeito de outro, haveriam de ficar para a história regional, caiu do andaime. Marinho não tem virtudes e grandezas de Celso Daniel. Não fosse Lula da Silva, nem tantos votos teria.


 


Já Carlos Grana peca pelo extremo oposto, ou seja, por chamar a cada aperto o legado de Celso Daniel à cena da administração, como se a medida fosse suficiente para rematerializar o projeto inacabado naquele começo de 2002.


 


Carlos Grana ainda não se deu conta de que além de Celso Daniel, o grande comandante daquele projeto de revascularização de uma Santo André com sérios sintomas de enfraquecimento, havia uma equipe bem estruturada para que se saísse do planejamento às ações de forma harmoniosa.


 


É verdade que, como em todo ambiente corporativo, um ou outro sanguessuga xangoliano colocava as manguinhas de fora, mas isso é outra história, sobre a qual discorreremos num dias desses.


 


Carlos Grana projeta os quatro anos de administração de Santo André preso demais a um passado que também por ser passado não volta mais, mesmo que tenha sido interrompido e tenha deixado muitas portas entreabertas.


 


Marinho-Nilza de Oliveira, o casal que comanda a Prefeitura de São Bernardo, cumpre com rigor a proposta de afastar a imagem de Celso Daniel, embora a metodologia em questões de saúde, educação, participação social e outras medidas tenha cromossomos da administração petista em Santo André entre 1996 e 2001.


 


Com muito mais dinheiro para investimentos públicos do que um dia Celso Daniel ousou imaginar, Marinho-Nilza dá-se ao luxo de dispensar agregado de valor intelectual às iniciativas. Mais que isso, comete barbeiragens do tipo Aeroportozão que ridicularizam eventuais propostas mais sérias, oportunas e exequíveis.


 


Possivelmente o casal petista deixará São Bernardo após oito anos com um estoque de obras jamais observado em período semelhante de qualquer outra administração, mas não ficará para a história porque a história comporta de verdade quem deixa muito mais que obras físicas.


 


Salles na corda bamba?


 


Ficou pendente neste texto a razão da ausência de Raimundo Salles no encontro petista. Nenhum outro secretário se ausentou e não faltaram versões sobre os motivos que teriam levado o ex-secretário de Comunicação da Prefeitura de São Bernardo a renunciar àquelas horas. Como o Diário do Grande ABC, antigo desafeto e já há algum tempo aliado de Raimundo Salles, saiu em defesa do secretário, atribuindo-lhe o maior peso da vitória eleitoral de Carlos Grana no segundo turno, provavelmente a situação esteja complicada. Salles estaria balançando no governo de Carlos Grana, possivelmente como vítima de dissonâncias entre o petista e aquele jornal.


 


Duvida-se que haja fundo de verdade ou pelo menos profundidade na possibilidade de Raimundo Salles ser apeado do cargo, por mais que haja indisposição latente entre ele e a classe cultural de Santo André, que o rejeita como interlocutor. Possivelmente o que esteja a acontecer é que exista uma disputa surda entre os comandantes do jornal e do Paço Municipal. Haveria contas que precisariam ser fechadas e não o são porque o G-12 teria de ser mais valorizado. G-12 é o agrupamento de vereadores de oposição a Carlos Grana com fome pantagruélica por nacos orçamentários.


 


Raimundo Salles seria uma peça descartável pelos petistas no jogo de eventuais blefes para conter o ímpeto do G-12 ou de fato teria criado embaraços com gente importante do PT a ponto de tornar-se adversário íntimo? Só o tempo dirá.


 


Certo mesmo me parece que a Administração Celso Daniel jamais teria preparado uma coalizão partidária que contemplasse Raimundo Salles com o cargo de Secretário de Cultura, entre outras razões porque Raimundo Salles teria muito mais a dar em outra pasta.


 


O problema maior de Carlos Grana, além de chamar Celso Daniel para corrigir todas as falhas estruturais na composição de um grupo de secretários onde sistemicidade não é algo a ser encontrado, é que embaralhou demais muitos nomes estranhos e os distribuiu sem engenharia no organograma que o esperava em 1º de janeiro. Ou seja, cometeu dois pecados numa mesma ação: deu pastas para quem tanto não estava habilitado àquela função como também à função alguma. Não é o caso de Raimundo Salles, a bem da verdade. Pelo menos na duplicidade danosa.


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