Administração Pública

Preparem-se para a overdose dos
primeiros 700 dias dos prefeitos

DANIEL LIMA - 26/03/2013

Embora já tenha feito um alerta, acho que vale a pena repetir com outras palavras e argumentos: está chegando 10 de abril com o anúncio de um desfile de verdades, meias verdades, meias mentiras e mentiras inteiras dos primeiros 700 dias de mandatos dos prefeitos da Província do Grande ABC. Setecentos dias divididos por sete prefeitos são 100 dias de cada um. A mídia vai ser o campo de manobra de marqueteiros cada vez mais decididos a compensar com pirotecnia a baixa produção e a quase nula produtividade dos gerenciadores públicos de uma região com escassez de recursos orçamentários próprios para dar suporte às demandas sociais.


 


Nem me lembro dos detalhes do que escrevi anteriormente, mas é impossível me trair nos conceitos que os chamados 100 primeiros dias de governo evocam. Tudo é promoção pura, que encontra guarida nas redações de jornais regionais porque a situação está preta, pretíssima. Os veículos de comunicação aqui e mundo afora vivem crises financeiras cumulativas e perdem enxurradas de talentos profissionais, num processo de depauperação da embocadura crítica que, em última instância, instala o vírus da debilidade democrática num organismo significativo às transformações sociais. Nem o El Pais da Espanha, louvado por 10 entre 10 jornalistas, escapou do rapa. 


 


Com a mídia fragilizada em recursos financeiros e cada vez mais escassa de profissionais experientes que se mandam a atividades afins senão mais rentáveis pelo menos de melhor qualidade de vida, o campo ficou aberto a gestores públicos e séquitos de assessores especializados em gerar promessas e ilusões em formato de realizações e de fatos. A briga é de foice entre os operadores de imagem dos respectivos prefeitos para colocá-los em destaque. O vale-tudo pega as redações no contrapé também de independência. Liberdade de expressão e liberdade de Imprensa são valores relativos principalmente nas publicações de pequeno e médio porte. O que conta mesmo é o poder econômico dos protagonistas do noticiário.


 


Economia versus política


 


Um dos melhores medidores da saúde financeira e da liberdade editorial de uma publicação é o espaço útil que o noticiário político ocupa em relação ao restante do produto. Quanto maior o percentual de informações de gestores públicos, mais o leitor deve desconfiar. Há algo a corroer a capacidade de neutralizar direcionamento partidário e ideológico nocivo ao entendimento do contexto destes dias.


 


Na Província do Grande ABC o que encontramos é disparatoso. O noticiário econômico, que deveria ser o carro chefe de uma empreitada que levaria o Poder Público, a Sociedade e o próprio Mercado a se retroalimentarem em busca de dias menos sombrios, é simplesmente anêmico, passivo, desfibrado. As páginas de política são, em contraponto, autênticas academias que apuram os músculos de encenações, projeções, manobras e outras artimanhas.


 


É verdade que há um contraponto irrebatível a fornecer respaldo mesmo que de araque dos editores: as secretarias de Desenvolvimento Econômico dos municípios da região, a Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC e o Clube dos Prefeitos são estéreis matrizes de iniciativas e ações relevantes na área econômica. Vivemos nas trevas entre outros motivos porque o organograma municipal instala essas secretarias no calabouço de preocupações.


 


Os gestores públicos da região – e a sociedade como um todo, representada para valer ou não as entidades de classe -- pouco se lixam para o andar da carruagem econômica. A maioria acredita que existe dependência total das medidas nas esferas estadual e federal ou simplesmente não está nem aí com nada, cuidando do próprio umbigo.


 


Pura bobagem: estivesse engajada num projeto para valer, com plano de metas e de realizações, a Província do Grande ABC não teria perdido ao longo das duas últimas décadas, principalmente, parcelas expressivas de riqueza. Tudo detectado e esquadrinhado nos estudos desta revista digital sobre o G-20, o grupo dos 20 mais importantes municípios paulistas, exceto a Capital.


 


Tomando de assalto


 


É mais que provável que o noticiário em torno dos 700 dias dos prefeitos da região (os 100 primeiros dias do segundo mandato de Luiz Marinho em São Bernardo correm conjuntamente, mas com o diferencial da reeleição, é claro) tome de assalto as páginas dos jornais de papel e digitais na Província do Grande ABC porque há um esquema já delineado para exploração da boa fé. Meticuloso que sou (afinal, tenho de ter alguma qualidade, não é verdade?) estou a juntar todas as páginas de publicações de papel e digital para contar com visão cronológica mais cuidadosa sobre a atuação de cada prefeito da Província.


 


Confesso que até agora não tenho feito outra coisa senão sobrepor promessas, realizações pífias e muita embromação. No ritmo em que se vai, talvez até desista de algo mais substancioso e prefira síntese temática que expressaria a insatisfação tácita de quem tem alguma pressa para ver a Província sair do marasmo de tantos anos.


 


Minha paciência já se esgotou faz tempos, entre outras razões porque, ao confrontar o noticiário destes tempos com o noticiário de outros tempos, sinto que tudo se repete e se agrava. Os problemas de ontem estão piores hoje e por isso mesmo tornaram-se complexos demais a resoluções simplistas.


 


Por isso, tudo que se relaciona aos primeiros 100 dias dos administradores públicos da região, a completarem-se em 10 de abril, deve merecer muita atenção crítica. O que vem por aí, pelo menos o que se ensaia por aí, lendo atentamente que estou a ler o noticiário político, não é pouca coisa não. Vão vender gato por lebre em tantas temáticas que o mínimo a sugerir é um filtro estreitíssimo de senso crítico.


 


As redações vão abrir generosos espaços aos fazedores de informações adocicadas e fantasiosas, porque essa é a regra do jogo. Até mesmo o que parecerá verdade absoluta deverá ganhar dos leitores cuidado extremo. A arte de encenar provavelmente é o capítulo de gestão pública que mais avançou no País, no ritmo da multiplicidade de plataformas informativas.


 


Leiam também:


 


Como serão os primeiros 700 dias dos prefeitos de nossa Província?


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