Administração Pública

Sugestão a Marinho: traga Maria
Paulani ao Clube dos Prefeitos

DANIEL LIMA - 02/04/2013

Duvido, duvido para valer, sou até capaz de apostar o que quiserem, que o prefeito dos prefeitos, Luiz Marinho, que, por ser prefeito dos prefeitos, comanda o Clube dos Prefeitos da Província do Grande ABC, o tal Consórcio Intermunicipal, topará a sugestão.


 


E a sugestão é trazer para um debate público, com autoridades de todos os níveis, com gente da sociedade, a secretária de Planejamento, Orçamento e Gestão da Prefeitura de São Paulo, comandada pelo também petista Fernando Haddad.


 


Afinal, por que não haveria Luiz Marinho de aceitar a proposta de CapitalSocial? Porque a titular daquela pasta, Maria Paulani, é um chute no traseiro, para não dizer em outro local, dos administradores públicos conservadores, para dizer o mínimo, que comandam as prefeituras da região.


 


Maria Paulani é opositora contundente da lógica de atuação principalmente dos grandes players do setor imobiliário, que nadam de braçadas na Província. Chamá-la a um encontro no Clube dos Prefeitos teria o significado de falar em corda em casa de enforcado.


 


Luiz Marinho não cometeria essa barbeiragem porque todos sabem que o modelo de financiamento espúrio de campanhas eleitorais no País, que colhe todas as agremiações partidárias, é que o que mais se fertiliza por aqui. Tanto que o escândalo do Marco Zero, da MBigucci, foi sumariamente retirado da pauta de integridade ética e administrativa do prefeito de São Bernardo. Como o seria dos demais, todos adeptos do recorte estilístico de fazer caixa eleitoral, entre outras iniciativas menos nobres. 


 


Repasso algumas declarações da secretária paulistana sobre uso e ocupação do solo na Capital do Estado. A entrevista à Folha de S. Paulo está mais completa na versão digital do que na de papel. Só descobri a diferença porque a versão de papel desapareceu e recorri à Internet. Nesse ponto, cabe um parêntese: quem generaliza a ideia de que o jornalismo digital é menos denso que o de papel precisa refazer conceitos, porque esse não é o primeiro nem sequer o último caso de inversão de valores imaginados. Os custos relativos de produção e distribuição explicam a mudança.


 


Vamos então a algumas sentenças extraordinárias da secretária de Fernando Haddad, sempre ressaltando que seria ótimo se por aqui houvesse um único titular de secretaria análoga que seguisse aqueles passos. Pura ilusão, porque na Província o que dá mesmo é muita malandragem entre administradores públicos e mercadores imobiliários:


 


 Há duas cidades dentro de São Paulo: uma cidade dos direitos, da democracia, da cidadania, da vida material minimamente organizada, e outra meio da barbárie.


 


 Os processos que são comandados pela lógica mercantil são muito poderosos. Isso fica visível no preço dos imóveis, dos terrenos de três anos para cá: subiram muitíssimo além do que qualquer alteração monetária justificaria.


 


 Quando há um processo de financeirização forte, ocorre um processo de formação de bolhas de ativos. É natural. A terra é um ativo real dos mais importantes. Essa lógica mercantil entra em um Município como São Paulo e vai varrendo, levando de roldão as coisas. E o que é a especulação? É quando se mantém um determinado ativo para ganhar com a variação de preço dele.


 


 Dizer que há bolha é dizer que vai estourar. É preciso qualificar. As bolhas podem estourar ou desinflar simplesmente, absoluta ou relativamente. Se dizia há três ou quatro anos que havia uma bolha de imóveis em São Paulo, os preços estouraram. Mas não houve estouro de bolha. Como aconteceu nos Estados na crise de 2008. Não dá para dizer que alguma coisa desse tipo está aqui. Mas quando o preço de alguma coisa sobe de uma maneira que não é possível justificar, e se esse negócio é um ativo como a terra em São Paulo sempre muito caro e de uns tempos para cá subiu muito mais, tem alguma coisa acontecendo aí.


 


 Quanto ao setor imobiliário, sua força impositiva é inversamente proporcional à força do Poder Público municipal em seu papel de ordenar o crescimento urbano. (...) A meu ver, a vitória do Fernando (Haddad) e de seu programa de governo indica que está na hora de o poder municipal começar a exercer seu papel de ordenador, pautando o setor imobiliário, em vez de ser pautado por ele. Institucionalmente, os instrumentos existem (plano diretor, lei de zoneamento, estatuto das cidades) e vontade política para tanto, ao menos nesta gestão, é o que não falta.


 


 A força do capital por aqui foi construindo espaços privados contíguos e não espaço público, que é onde a cidade de fato existe. Seus principais problemas são, de uma forma ou o de outra, decorrentes disso. O crescimento explosivo da cidade, sua transformação numa megalópole no exíguo prazo de três ou quatro décadas, produziu essa concretude estonteante e contraditória de riqueza suntuosa e pobreza aviltante, de civilização e barbárie, e esse processo insano foi puxado em boa medida pela lógica da valorização capitalista.


 


Sem qualquer reparo


 


Não há uma vírgula sequer da seleção de declarações da secretária paulistana que não se encaixe na realidade da Província do Grande ABC. Mais que isso: como de alguma forma a mídia da Capital tem maior grau de liberdade de expressão, embora nem tanto como ingênuos possam acreditar, é muito mais provável que eventuais medidas que valorizem a qualidade de vida urbana sejam tomadas com maior rigor e efetividade prática do que o que ocorreria na Província do Grande ABC, entregue às baratas de um blecaute social intenso.


 


O que parece transparecer pelo menos no campo urbanístico entre a gestão do acadêmico Fernando Haddad e de egressos do sindicalismo nas prefeituras da Província do Grande ABC é um contraste flagrante da vontade política de mudar o caos metropolitano na Cinderela em relação à Gata Borralheira.


 


Não existe um prefeito sequer na região, tampouco secretários municipais, vários dos quais direta e indiretamente comprometidos com as atividades imobiliárias, que construa qualquer pensamento público que minimamente resvale no conteúdo da secretária paulistana. E quem imaginar que é apenas questão de oportunidade não sabe da missa um terço.


 


O que se propõe no silêncio consentido e múltiplo entre os administradores públicos da região quando o temário é o mercado imobiliário é algo semelhante às máfias sicilianas e ramificações que invadiram os Estados Unidos com a tecnologia da coerção: disfarça-se ao máximo a operosidade de apoiar clandestinamente todos os poderosos no uso e ocupação do solo.


 


A Administração Aidan Ravin foi provavelmente a mais suscetível a encaminhamentos espúrios e o que se deu todo o mundo sabe: fizeram-se fortunas, distribuíram-se dividendos, mancharam-se solos urbanos infestados de improdutividades à mobilidade viária e ninguém foi penalizado. Nem mesmo o mordomo. Há uma simbiose de malandragem particular com o oportunismo publico a sustentar esquemas viciadíssimos de poder e dinheiro.


 


É por essas e outras que, repito, duvido que o prefeito dos prefeitos Luiz Marinho, ou qualquer outro dos prefeitos dos respectivos municípios da Província do Grande ABC, colocará o dedo na ferida cada vez mais infectada do mercado imobiliário. Ninguém mata a galinha dos ovos de ouro. Se é que me entendem.


 


Leiam também:


 


Nossas propostas para humanizar o predatório mercado imobiliário


 


Que tal um consultor para começar a dar um jeito no mercado imobiliário?


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