Administração Pública

Síndrome de sindicalista explica
baile de máscara de Carlos Grana

DANIEL LIMA - 03/04/2013

Pelo andar da carruagem, o prefeito Carlos Grana tem tudo para ficar na história política de Santo André. Amparado por staff de marqueteiros amadores que honram a camisa da Província do Grande ABC, Carlos Grana vai administrando Santo André com um olho de subserviência em fiapos de uma classe média de baixíssima porosidade social e outro de servilismo aos desvalidos beneficiários do Bolsa Família.


 


Carlos Grana não decepciona apenas porque faz pouco. Decepciona também porque caiu na teia de supérfluos de gente que não faz nada além de transformar Santo André numa Las Vegas de quinta categoria.


 


Ler como li ainda outro dia que se prepara um baile de aniversário de Santo André com algumas centenas de convidados em trajes de gala remete o pensamento dolorosamente à metáfora do Titanic. O deboche tomou conta de Santo André sob o pretexto de dar um empurrão na autoestima que se esvaiu devagar, devagar, até murchar de vez.


 


O sindicalista que Carlos Grana jamais deixará de ser provavelmente explique a sedução que uma confraria de classe média há muito tempo doutrinada a esbaldar-se nas próprias desventuras lhe impõe. Meteram na cabeça do prefeito que ele poderia ser alguém como Celso Daniel, egresso de uma classe média igualmente sonolenta mas com o vigor do inconformismo nem sempre compreendido, porque em princípio extremista demais.


 


É mais fácil o séquito de sindicalistas da região intimamente diminuídos, porque cansaram de apertar parafusos, permanecer estruturalmente sindicalistas do que sanguessugas da classe média lhes darem valor, exceto por interesses nem sempre confessáveis.


 


A síndrome de sindicalista que atinge em cheio tanto Carlos Grana como Luiz Marinho e tantos outros agentes públicos que nasceram ou se fortaleceram com o suporte de agremiações profissionais de chão de fábricas não é algo que se elimina simplesmente ao se mudar de patamar social e profissional.


 


Tanto os conservadores que jamais respeitaram a atividade manufatureira como os próprios trabalhadores que saltaram além dos muros fabris geraram uma psicologia social indestrutível. Os primeiros de discriminação tola, os segundos de autodiscriminação imbecil.


 


Não será com bailes de gala e de conluios que ultrapassam os limites de governabilidade, mesmo num terreno eticamente movediço como a política, que se eliminarão as digitais sociológicas ditadas pelo capitalismo. 


 


Confraria manjadíssima


 


Carlos Grana como tantos outros sindicalistas ainda não compreendeu que a confraria de classe média decadente de Santo André, de gente sem lustro intelectual e com flexibilidade ética a toda prova, não pretende outra coisa senão desfrutar do poder concedido pelo povo em outubro do ano passado. Com Aidan Ravin foram barrados do baile não porque tenha faltado ao ex-prefeito jogo de cintura. Aidan Ravin não queria aumentar exponencialmente os riscos que se confirmaram deletérios mesmo agrupamento bem menor.


 


De dentro e de fora da Administração Municipal de Santo André brotam inimigos íntimos do prefeito Carlos Grana, gente que ele enfiou entre os comissionados, gente de secretarias e departamentos. Carlos Grana não se apercebeu disso, ou se se apercebeu, faz-se de desentendido. O prefeito de Santo André adotou o princípio da multiplicação dos pães de parceiros políticos que fez de Lula da Silva presidente imbatível. A diferença é que o ex-presidente dispensa legenda.


 


Carlos Grana corre o risco de ser defenestrado por quem lhe dá suporte fora do núcleo de comando do PT. Não falta quem pretenda impor um apertar ainda mais forte do torniquete que já lhe dificulta a mobilidade executiva. Carlos Grana é um prefeito sob tantas condicionalidades de adversários que se fingem de parceiros, de inimigos que se fingem de parceiros, que não lhe resta liberdade a movimentos mais expressivos. Quem o relacionar a marionete não estará completamente enganado, embora possa no momento parecer precipitado.


 


Vícios imprevidentes


 


Há vícios pessoais a envolver o prefeito de Santo André que o colocam sob intenso bombardeio nos bastidores mais íntimos. Gente inescrupulosa lhe faz chantagem com o sorriso nos lábios. A vulnerabilidade do prefeito de Santo André no âmbito pessoal ainda não é assunto à pauta jornalística, mas talvez venha a ser porque contamina decisões que toma diariamente. Nestes tempos de democratização de tecnologias portáteis, passos em falso podem ser arrasadores.


 


Mal se dá conta Carlos Grana de que algumas pessoas às quais entregou as vísceras da vida pessoal não fazem outro uso das informações obtidas senão a espalhar idiossincrasias internas. Algumas se aproximaram deliberadamente para abastecerem-se de nuances do comportamento individual e familiar. Foram operações meticulosamente traçadas por profissionais da bisbilhotagem travestidos de amigos solidários. As informações que detêm não são necessariamente publicáveis, porque o segredo compartilhado por poucos é a alma do negócio, mas não se pode assegurar que, num futuro que só ao poderoso pertence, não mudem de ideia.


 


Todo gestor público e outros protagonistas da vida social estão sujeitos à maledicência. Não faltam redes, inclusive tecnológicas, ultrapreparadas para cultivar agressões explícitas ou não. No caso de Carlos Grana, há elementos a merecer maiores cuidados para minimizar eventuais custos à imagem do administrador.


 


Pensei um bocado antes de redigir este texto. Jamais o faria se Carlos Grana não fosse prefeito de Santo André, porque particularidades da vida pessoal e familiar lhe pertencem exclusivamente como pessoa física. Como pessoa institucional que o cargo lhe confere, a conversa é outra, até porque tem afetado a gestão da Prefeitura de Santo André.


 


Baile de máscaras


 


O baile de gala que se promoverá nestes dias por conta de mais um aniversário de Santo André poderia ser um baile de máscaras, com os convidados obrigados a prestar juramento de que se utilizariam de indumentárias e apetrechos a conferir absoluta fidelidade aos motivos que os aproximam em diferentes graus do prefeito de Santo André.


 


Seria mais que provável, seria certeiro, que haveria muitas dificuldades para dar conta da demanda explosiva que determinados objetos de caracterização dos convidados provocaria num segmento temático nada lisonjeiro.


 


O prefeito Carlos Grana tem falado com entusiasmo da festa que se aproxima, porque é festeiro de dia, de tarde e de noite, quando não também de madrugada. Falasse com tamanha frequência de eventual preocupação com o destino de uma Santo André que desde a morte de Celso Daniel perdeu o rumo, tendo antes disso vivido aos solavancos, provavelmente teria mandado decapitar quem lhe propôs tamanho deboche festivo sob o pretexto de sugerir mensagem de amor e carinho pelo Município.


 


Quem se der ao trabalho de relembrar nos arquivos os primeiros 100 dias dos mandatos do prefeito Celso Daniel, e compará-los aos quase completos 100 dias de Carlos Grana, notará a grande diferença entre aquele que foi sem ter podido ser e deste que não é tendo tudo para ser.


 


Celso Daniel foi um administrador de luminosidade plena mesmo sem ter podido completar a trajetória de um terceiro mandado, o mais fértil de todos, enquanto Carlos Grana é apenas uma sombra opaca de gerenciador público quando teria tudo, por força do contexto político-econômico, para notabilizar-se como gestor de seriedade inabalável e de objetivos bem delineados para retirar Santo André da pasmaceira em que se encontra.


 


Carlos Grana uniu-se ao que há de mais retrógrado na classe média de Santo André, o mesmo grupo que cansou de tentar desqualificar e desmoralizar Celso Daniel e que, agora, converteu-se em seguidores petistas por razões exclusivamente fisiológicas. Uma eventual derrapagem do governo federal com repercussões eleitorais nas grandes metrópoles levaria esse bando de bajuladores a retirar-se correndo do campo petista.


 


Ainda há tempo para que o baile de gala de uma pobre Santo André vilipendiada por gente despreparada se transforme em baile de máscaras. Seria um horror de realidade, mas um preço que valeria a pena pagar, até para que o prefeito caia em si de que não vale a pena deixar-se levar no bico.


 


Talvez o prefeito Carlos Grana, que não é bobo nem nada, tenha plena consciência de que boa parte dos convidados da festa de gala vai estar sim de máscaras, porque é assim no dia a dia político. 


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