Administração Pública

Quanto a mídia da região recebeu
do governo do Estado em 10 anos?

DANIEL LIMA - 10/04/2013

Quanto será que do bolo de R$ 2,24 bilhões que o governo do Estado, de forma direta e também na conta das estatais, despendeu em ações promocionais na Província do Grande ABC no acumulado de 10 anos encerrados em 2012? Eis uma pergunta que, se respondida com transparência, vai mostrar o tamanho das patas do elefante de condicionalidades editoriais que tornam a relação entre Imprensa e governo um jogo de cartas marcadas, marcadíssimas.


 


Provavelmente quem mais deve entender esses números, até porque é um dos emissários do governo do Estado no repasse dos valores, é o deputado estadual Orlando Morando, queridinho da mídia regional e autor reincidente de algumas pérolas de marketing de puro oportunismo.


 


A maior barbeiragem de todas, sem dúvida, é o trecho sul do Rodoanel, do qual foi o principal garoto-propaganda do governo do Estado durante muito tempo. Estranhamente, não se mete no trecho Leste em construção e que abrange Mauá e Ribeirão Pires, entre outros municípios da Região Metropolitana de São Paulo.


 


Há digitais de Orlando Morando no trecho Sul nada aconselháveis à reprodução em qualquer outra extensão desse que se está fechando como grande cinturão de logística de transporte rodoviário. Um ganho de logística, diga-se de passagem, que não inclui a Província do Grande ABC na dimensão proclamada por Orlando Morando. Venderam-nos gato por lebre da esquina mais valorizada do Brasil, quando, de fato -- e provamos com dados inquestionáveis que constam dessa revista digital -- não passamos, com o recorte regional do Rodoanel, de passagem de riqueza em direção ao Porto de Santos.


 


Denúncia do Estadão


 


Ainda outro dia o Estadão publicou uma matéria-denúncia (ou é possível ter algo diferente de um texto jornalístico que se origina da Lei de Acesso à Informação?) que quantifica o gigantismo de operações publicitárias dos tucanos tanto na administração direta quanto nas estatais. O repórter do Estadão fez o cálculo sobre o que seria possível construir com aqueles R$ 2,24 bilhões injetados na mídia e chegou à conclusão que daria para construir mais da metade da segunda fase da linha 5 do metrô, que vai ligar o Largo Treze à Chácara Klabin, ou custear o Instituto do Câncer por sete anos.


 


Transportando os valores para a Província do Grande ABC, significariam dois anos de orçamento da Fundação do ABC, que administra mais de duas dezenas de unidades de saúde da região e da Baixada Santista. Nesse caso, porém, ante a opacidade de gerenciamento da Fundação do ABC, não se sabe se o dinheiro seria mais bem empenhado ou se teríamos semelhante desperdício.


 


O jornalista e professor universitário Eugênio Bucci escreveu numa das páginas de opinião do Estadão uma série de parágrafos conectados à essência do escândalo da aplicação de vultosos recursos orçamentários em forma de publicidade. Lembrou que os gastos com publicidade de governos (federal, estaduais e municipais) dispararam no País. “É a rubrica que mais cresce. Para se ter uma ideia, veja-se a seguinte comparação: de 2003 a 2006 o governo paulista (gestão Alckmin) destinou R$ 188 milhões da administração direta à propaganda paga, de 2007 a 2009 (Serra) torrou R$ 736 milhões. O agigantamento dos gastos estatais (administração indireta) é igualmente vertiginoso: somente a Sabesp, que não gastou R$ 10 milhões ao longo de 2003, ultrapassou a casa dos R$ 98 milhões em 2012” – escreveu Eugênio Bucci.


 


Silêncio dos pecadores


 


Fossem os vereadores locais realmente independentes e não atrelados aos respectivos paços municipais, quando não fazedores de falsa oposição para obterem vantagens espúrias, o deputado estadual Orlando Morando seria convidado ou convocado a prestar contas de suas andanças de mercador publicitário, moeda de troca que o coloca permanentemente nas páginas de jornais em atividades prosaicas quando comparadas, por exemplo, o declínio contínuo e preocupante da economia regional.


 


Seria interessante ver como se comportaria Orlando Morando, papagaio de pirata dos governadores tucanos e outro dia até de um cardeal brasileiro candidato a papa, num debate de verdade para justificar a atuação paralela que o imuniza claramente ante não só tropeços parlamentares como também de outras tipologias.


 


Para não dizerem que sou um agente social cáustico demais – aliás, outro dia fui tachado de severo numa sala do Judiciário, o que, convenhamos, foi um elogio nessa Província de deslumbrados e aproveitadores – reproduzo os parágrafos finais do artigo de Eugênio Bucci no Estadão:


 


 Vivemos um duplo escândalo financeiro (de dispêndios galopantes) que também é um escândalo de cinismo (de cavalgaduras igualmente galopantes). A lei deveria limitar essa escalada. O que, já sabemos, é improvável. Os parlamentares são diretamente interessados no aumento dos gastos com publicidade oficial. De outro lado, os órgãos de imprensa no Brasil estão tomando gosto pela dinheirama que ganham de presente dos anunciantes oficiais. Vai ser difícil.


 


Quem abre os valores?


 


Vou insistir na sugestão de que se abram os valores e os respectivos destinos do dinheiro público de publicidade do governo do Estado e também, por que não, do governo federal na Província do Grande ABC? Será que não existe uma única instituição sequer que se coloque adiante nessa luta pela transparência do relacionamento entre o poder público e a mídia regional, até mesmo para que se separa o joio do trigo?


 


Se alguém tem dúvidas sobre a importância orçamentária desses recursos financeiros para a maioria dos veículos de comunicação da região que constam da lista do governo do Estado, posso antecipar um veredito: sem dinheiro público, do Estado, dos Municípios e da União, a crise que já é companheira ameaçadora teria alcançado a contundência de mortalha.


 


As graves interrogações que pairam sobre a Fundação do ABC, instituição sob o controle político, administrativo e multipartidário dos políticos de Santo André, São Bernardo e São Caetano, mais que provavelmente serão simplesmente ignoradas pela mídia regional, embora os questionamentos que constam desta revista digital sejam de conhecimento de seus representantes. Alguns movimentos que se fazem são no sentido exclusivo e oposto, de promover um rearranjo de relacionamentos multilaterais daquela instituição, dentro do pacote de publicidade geral das respectivas administrações públicas, de forma a blindá-la ainda mais contra eventual ofensiva por transparência.


 


Infelizes daqueles que imaginam haver na praça liberdade de imprensa e liberdade de expressão. Com a dinheirama toda que os governos injetam em forma de publicidade que na verdade não passa de, na maioria dos casos, imposição a linhas editoriais adocicadas, a sociedade como um todo permanecerá nas trevas da informação minimamente confiável. 


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