Administração Pública

Carlos Grana ignora Haddad e segue
submisso ao mercado imobiliário

DANIEL LIMA - 24/04/2013

Certo, mais que certo, convicto, de que tem imunidade a qualquer tipo de deslize, porque é assim que se move a Província do Grande ABC à penumbra da Capital, num ensaio mais que manjado de incubadora de escândalos que não resultam em nada, o prefeito Carlos Grana segue desdenhando da ética e da moralidade em Santo André.


 


A nomeação do empresário de construção civil Paulo Piagentini para comandar a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação é um acinte que o petista prefeito da Capital, Fernando Haddad, jamais ousaria repetir porque a repercussão da mídia, por mais que a mídia seja condescendente demais com o setor imobiliário, se faria presente. Até porque, as forças de pressão não seriam covardes como na região. Aliás, forças de pressão na região é força de expressão. O que impera mesmo o conluio institucionalizado entre setores público, privado e social.


 


O prefeito Carlos Grana continua totalmente manietado pelo partido ao qual está filiado e por um entorno multifacetado de empresários e políticos que usam direta e indiretamente agremiações partidárias diversas para darem ares de democracia ao que não passa de coerção. Nestas condições, Carlos Grana entregou o uso e a ocupação do solo de Santo André, uma verdadeira Serra Pelada dos bons tempos, a gente especializadíssima em produzir riquezas direcionadas. Já Fernando Haddad, prefeito da Capital, botou para correr os mercadores imobiliários. Se não os botou para correr, pelo menos botou para correr os intermediários políticos.


 


Esvaziando Maluf


 


Está no Valor Econômico de hoje que Haddad encaminhou ontem à Câmara Municipal de São Paulo o projeto de lei com a reforma administrativa, medida que fortalece alguns setores da Prefeitura e enfraquece outros. Adivinhem quem mais perdeu? A Secretaria de Habitação, controlada pelo PP do deputado federal Paulo Maluf, que não terá a prerrogativa de licenciar empreendimentos e controlar a ocupação do solo. Segundo o jornal, a função passará à futura Secretaria de Licenciamento, promessa de campanha do prefeito para agilizar as licenças no Município. A nova pasta será ocupada por uma técnica filiada ao PT, Paula Lara.


 


Diferentemente de Carlos Grana, cuja administração segue o ritual de gestões anteriores que fizeram do Semasa uma fábrica de irregularidades e de sem-vergonhice, o prefeito da Capital pretende, ainda segundo o jornal Valor Econômico, inibir o pagamento de propinas para passar processos na frente de outros.


 


O tema foi constante na campanha devido às acusações de corrupção contra o ex-diretor do departamento de edificações na gestão Gilberto Kassab, Hussain Aref Saab, denunciado por suposto recebimento de R$ 4,5 milhões em propinas. Aref nega as acusações, ainda segundo o jornal. Nada mais que uma defesa formal, ante as comprovadas provas de delinquência, afirma este jornalista como base na ampla cobertura da Folha de S. Paulo e do Estadão sobre o assunto. Hussain Aref se tornou um latifundiário urbano que colecionou mais de 120 imóveis em poucos anos de atividades na Prefeitura.


 


Fosse o empresário Paulo Piagentini eticamente mais preocupado com a própria biografia, o mínimo que faria ao receber o convite mais que estúpido de Carlos Grana seria agradecer e recusar. Mas como esperar algo diferente do que se dá, ou seja, a posse e os planos de ação, se a condução do empresário ao posto integrava o acordo político-partidário para reforçar as urnas eleitorais de Carlos Grana na classe média mais tradicional de Santo André, calcanhar de Aquiles dos petistas?


 


Quem vai subsidiar?


 


Numa entrevista publicada em versão digital do jornal Repórter Diário desta semana, Paulo Piagentini começa a revelar o que pretende para Santo André na área habitacional. Trata-se de uma calamidade que deve representar algum lado positivo que passará longe dos interesses coletivos. Tratada como “inevitável”, defende-se a verticalização num Município com áreas de sobra para tentar salvar a pátria do afundamento inexorável da acessibilidade viária. Somente os incautos ou despreparados alinham na coluna de sinônimos os verbetes verticalidade e inevitabilidade. Especialistas no ramo que têm compromisso com a sociedade em forma de maior fluidez do tecido viário sabem que verticalidade se combate, se elimina ou se minimiza com densidade. Algo de que já tratamos nesta revista digital.


 


O plano do secretário-empresário do setor imobiliário Paulo Piagentini é tão fantástico para os empreendedores do setor como maquiavélico para o conjunto de moradores de Santo André. Ele disse simplesmente, conforme a matéria do Repórter Diário, que a construção de núcleos habitacionais populares deve sofrer adaptações por conta do fenômeno (da verticalização). “De acordo com o titular, a construção habitacional vai ter de entrar num esquema de edifícios maiores. Hoje, o padrão é de térreo, com três pavimentos para baixo e quatro para cima, sem elevador. Vamos ter de partir para 20 andares com elevador, e estabelecer um subsídio para que o morador consiga bancar a manutenção do condomínio”, afirmou o secretário segundo o jornal.


 


A declaração do empresário-secretário do prefeito Carlos Grana é mesmo de lascar. Além de propagandear a verticalização de moradias populares, sobrecarrega o custo da sociedade com um tal de subsídio aos proprietários, sem explicar de onde sairia o dinheiro para tamanha sandice. Certamente não há explicações porque qualquer explicação seria um disparate.


 


Amigo de Milton Bigucci, presidente do Clube dos Construtores do ABC, a tal Associação dos Construtores, Paulo Piagentini provavelmente esteja entre os empresários do setor imobiliário mais próspero da Província do Grande ABC. Seus conhecimentos sobre o solo em que pisa devem ser extraordinários, porque, caso contrário, já teria sucumbido à concorrência, embora, verdade seja dita, facilidades de financiamento facilitem as coisas para o setor.


 


Interesses múltiplos


 


Tudo isso faz parte da metade da laranja de informações relevantes aos leitores. A outra metade, muito mais importante porque contaminadora, é diagnosticar até que ponto os interesses particulares do empresário e também os interesses particulares daqueles com os quais multiplica negócios, caminham na mesma trilha dos interesses da comunidade. É claro que as divergências são notórias.


 


Mas o que se pode fazer se Carlos Grana, o prefeito do supostamente reformista petista, sucumbiu aos lobbies partidários e empresariais durante a campanha para chegar ao Paço Municipal e entregou a rapadura da ética e da moralidade? Simplesmente repassou o galinheiro às raposas, porque é humanamente impossível para um representante dos mercadores imobiliários deixar de observar o território de Santo André com avidez econômica acima de suposto empenho social.


 


O prefeito paulistano sabe disso e já está apeando do poder orçamentário o partido de Paulo Maluf. Tanto que, segundo o Valor Econômico, a Habitação era a segunda secretaria com maior volume de recursos do Orçamento desse ano, num total de R$ 928,4 milhões, e teve reduzido o valor para R$ 78 milhões após contingenciamento. No caso de Santo André, há uma perspectiva de R$ 600 milhões de orçamento deste ano, a maioria a ser repassada pelos petistas federais, principalmente sob a influência da ministra Miriam Belchior, através do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), fonte inesgotável de irregularidades.


 


Talvez o prefeito Carlos Grana ainda não se tenha dado conta de que o tiro de sedução da classe média de Santo André pode sair pela culatra na medida em que a potencialidade de abusos de seus representantes no Paço Municipal, e também no entorno do Paço Municipal, saltar ao conhecimento público. Acreditar que as mídias tradicionais estão blindadas com aportes publicitários é um grande erro. Ainda há fontes alternativas de credibilidade que podem ajudar a entornar o caldo.


 


Ser prefeito de Santo André a qualquer custo é mais que um abuso ditado pela certeza de imunidade que o antecessor Aidan Ravin ajudou a consolidar com série de escândalos até agora não apurados.  Alguma coisa poderá sair dos trilhos nas esferas judiciais e ministeriais antes disso, embora o passado recente seja um estímulo à algazarra.


 


Leiam também:


 


Entorno de Piagentini prepara assalto à Administração Grana


 


Escândalo imobiliário: Grana repetirá coragem de Haddad


 


Sugestão a Marinho: traga Maria Paulani ao Clube dos Prefeitos


 


Mercadores imobiliários seguem a patrocinar mensalões e mensalinhos


 


Tensão no Morumbi é alerta contra excessos imobiliários


Leia mais matérias desta seção: Administração Pública

Total de 813 matérias | Página 1

15/10/2024 SÃO BERNARDO DÁ UMA SURRA EM SANTO ANDRÉ
30/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (5)
27/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (4)
26/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (3)
25/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (2)
24/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (1)
19/09/2024 Indicadores implacáveis de uma Santo André real
05/09/2024 Por que estamos tão mal no Ranking de Eficiência?
03/09/2024 São Caetano lidera em Gestão Social
27/08/2024 São Bernardo lidera em Gestão Fiscal na região
26/08/2024 Santo André ainda pior no Ranking Econômico
23/08/2024 Propaganda não segura fracasso de Santo André
22/08/2024 Santo André apanha de novo em competitividade
06/05/2024 Só viaduto é pouco na Avenida dos Estados
30/04/2024 Paulinho Serra, bom de voto e ruim de governo (14)
24/04/2024 Paulinho Serra segue com efeitos especiais
22/04/2024 Paulinho Serra, bom de voto e ruim de governo (13)
10/04/2024 Caso André do Viva: MP requer mais três prisões
08/04/2024 Marketing do atraso na festa de Santo André