Administração Pública

Aeroportozinho de São Bernardo
incorpora novo escândalo do PT?

DANIEL LIMA - 29/04/2013

O velho e surrado espetáculo voltou à pauta do jornalismo regional no final de semana. O aeroportozinho previsto para São Bernardo do prefeito Luiz Marinho, projeto que foi lançado como aeroportozão à altura de Cumbica e de Congonhas, virou manchete de página interna (primeira página nunca mais, pelo visto) do Diário do Grande ABC, enquanto o ABCD Maior preferiu ficar na moita para não quebrar a cara outra vez. O problema da pauta requentada é que também é viciada, manipulada, tergiversadora. Por isso volta a ser assunto aqui. É a 10ª vez desde abril de 2011, quando escrevi sobre o assunto pela primeira vez.


 


Agora foi a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, ex-secretária municipal de Santo André durante as gestões de seu ex-marido, Celso Daniel, quem desembarcou na Província do Grande ABC para dizer exatamente aquilo que todos os interessados em votos gostam: “Claro que precisamos resolver os aeroportos para a Copa (do Mundo, em 2014), principalmente os que estão saturados. Mas, dentre os novos investimentos, esse (plano de São Bernardo) está sendo estudado, é uma das prioridades”, disse a ministra ao Diário do Grande ABC após participar do lançamento do PPA (Plano Plurianual Participativo), no Teatro Cacilda Becker, em São Bernardo.


 


O título da matéria do Diário do Grande ABC (Aeroporto de S. Bernardo é prioridade, diz ministra) exprime o desejo da ministra. O jornal, ecumênico em matéria de partidos e seletivo às nuanças dos administradores, cumpriu rigorosamente a obrigação de informar ao distinto público -- mas somente até a página três. Daí em diante, o noticiário é uma mistura de manipulação, embromação e descuido.


 


Escreve o jornalista Raphael Rocha que o Diário do Grande ABC adiantou com exclusividade à época (outubro de 2011) o planejamento da obra em São Bernardo, encaminhado à presidente Dilma Rousseff. “Funcionaria apenas para tráfego de mercadorias e voos fretados, fechado para aviação comercial”, disse o jornal. Pura balela. Basta uma consulta a alguns dos textos que constam dos links abaixo deste artigo para os leitores rememorarem a barrigada do Diário do Grande ABC (e também do ABCD Maior). Naquela oportunidade o Diário do Grande ABC estampou em letras gigantescas, como manchete principal de primeira página, que São Bernardo teria o terceiro aeroporto internacional da Região Metropolitana de São Paulo.


 


Nenhuma publicação e nenhum jornalista estão imunes a erros. Muito pelo contrário – errar faz parte do cotidiano jornalístico. O que não tem sentido senão de zombaria é tentar fazer os leitores de trouxas, de desmemoriados.


 


Aumentativo versus diminutivo


 


Durante esses 17 meses de abordagens sobre o que o prefeito Luiz Marinho pretende construir em parceria com a iniciativa privada numa área de mananciais de São Bernardo brinquei no sentido sério o tempo todo com os verbetes “aeroportozão” e “aeroportozinho”. Não nego que o objetivo e espicaçar mesmo a credibilidade pública de uma mentira gestada na cúpula petista do ex-sindicalista e ex-ministro do Trabalho e da Previdência. O tratamento implícito à Imprensa, de que se trata de um conjunto de descerebrados a repetir o que os donos do poder mandam, pode ser regra, mas cabem exceções.


 


O que a ministra Miriam Belchior disse na edição de sábado do Diário do Grande ABC (por que será que os demais jornais impressos e digitais da região se calam sobre as declarações da petista) não é nada diferente do que outro ex-integrante da Administração Celso Daniel, Gilberto Carvalho, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, disse ao ABCD Maior em 20 de dezembro de 2011: “O Marinho tem vindo com essa história nova do aeroporto. A presidente já ouviu dele, nos parece bem interessante”.


 


Convém lembrar que entre o anúncio do aeroportozão de São Bernardo, feito vazar de propósito por assessores de Luiz Marinho naquele outubro de 2011, e as arremetidas mais frequentes do prefeito petista em Brasília, houve uma mudança de discurso consequente da intervenção crítica de CapitalSocial: o que seria o terceiro terminal de passageiros e de cargas da Região Metropolitana de São Paulo, acabou virando um pequeno terminal para tráfego de mercadorias e voos fretados. Mas, entre especialista, nem isso será possível, porque a concorrência é grande e não passa de furo nágua o discurso de que o aeroportozinho de São Bernardo numa área entre o trecho sul do Rodoanel e a Rodovia Imigrantes contribuiria com a logística voltada ao Porto de Santos. Pela simples razão mais que escandalosamente anunciada de que para chegar à Baixada Santista o problema é literalmente mais embaixo, ou seja, de acessibilidade por terra.  


 


Especulação versus privilégios


 


Entretanto, o que mais chama a atenção no noticiário (estava deixando esse assunto para um novo artigo, mas não resisto à ideia de fermentá-lo já) é o conceito do prefeito Luiz Marinho do que vem a ser “especulação imobiliária”.


 


O prefeito de São Bernardo disse ao Diário do Grande ABC que o aeroportozinho (ele detesta esse termo, mas o que se pode fazer?) já conta com parceiros da iniciativa privada, que se comprometeriam a custear o projeto executivo – etapa preliminar para execução do terminal. Palavras do prefeito:


 


 Os investidores trabalham no projeto, que é de grande investimento, antes mesmo de se botar um prego ou fazer um buraco. “Só o projeto (executivo) em si custa milhões”, disse o petista.


 


Chega a sensibilizar os adoradores de Madre Teresa de Calcutá o desprendimento dos parceiros capitalistas que o prefeito petista já atraiu para o projeto do aeroportozinho de São Bernardo. Possivelmente os investidores serão agraciados com a Medalha João Ramalho (que um dia tiveram a coragem de me conceder) e quem sabe de Cidadãos Honorários de São Bernardo. É claro que por trás de tanta suposta generosidade, ou seja, por trás de despretensiosamente bancarem o projeto executivo que custa uma nota preta, os parceiros sejam muito bem recompensados. Quem tem dúvidas? Então leiam o que se segue, também extraído da matéria fastfoodiana do Diário do Grande ABC:


 


 A Prefeitura protocolou a área que poderia receber o aeroporto, mas Marinho não revelou o terreno “para evitar especulação imobiliária”. Porém, comenta-se que o espaço está situado perto do Trecho Sul do Rodoanel com a Rodovia dos Imigrantes. Como a intenção é a edificação de terminal de cargas, a área servirá para escoar os produtos que chegarem à cidade. Ontem o prefeito admitiu que o empreendimento pode ser localizado em área de manancial – o terreno entre o Rodoanel e a Imigrantes está cravada em terreno de proteção ambiental. “Os investidores têm de ter consciência de que precisarão respeitar a lei de compensações ambiental. Para ter o terreno A, precisa comprar um A e um B, para essa compensação, comentou o petista”.


 


Mananciais sacrificados?


 


As declarações do prefeito Luiz Marinho sinalizam que há um bando de idiotas a ler o noticiário e a considerar tudo muito interessante, legal, republicano, como gostam de dizer os supostos intelectuais.


 


Primeiro, está mais que na cara que os investidores já foram escolhidos a dedo. Tanto que já produziram ou estão a produzir o projeto executivo, que, sempre é bom lembrar as palavras de Luiz Marinho, custa milhões. Ninguém gasta milhões em projeto executivo se não tiver duas certezas absolutas: a de que um jogo de interesses permitirá que se construa o aeroportozinho pretendido, não o aeroportozão anunciado, e que o local escolhido já é mais que conhecido e estudado.


 


Possivelmente a especulação negada pelo prefeito para manter em segredo seletivo o local do aeroportozinho virou um negócio entre amigos do peito, a contemplar apenas aqueles que contaram com aproximações mais que interativas.


 


Entretanto, pior que tudo isso, ou seja, pior que a implicitude de que a área já tem dono porque já tem investidores, é a possibilidade de transplantar-se para os mananciais algo semelhante ao que se instaurou no mercado imobiliário, a tal outorga onerosa, mecanismo que permite ampliar a selva de concreto armado na medida em que valores adicionais sejam transferidos aos cofres públicos em forma de compensações sociais sobre as quais praticamente ninguém presta informações.


 


Se nas áreas urbanas o céu é o limite aos mercadores imobiliários protegidíssimos pela mídia subserviente, a provocar calamidades nas vias públicas em associação com e febre consumista de veículos e a escassez de transporte público, o que esperar de áreas supostamente protegidas ambientalmente?


 


Mais que impressão, tenho cada vez mais certeza de que a Província do Grande ABC virou uma Sodoma e Gomorra da gestão pública. Se é assim, que preparem a festa e entreguem os títulos de cidadania aos novos benfeitores.


 


Leiam também:


 


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Repórter Diário repercute proposta de aeroporto. Quem quer investir?


 


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