Administração Pública

Fuabc manipula pesquisa enquanto
esconde buracos administrativos

DANIEL LIMA - 30/04/2013

A Fundação do ABC comandada pelo petista Maurício Xangola Mindrisz manipula o conceito de qualidade de atendimento da saúde pública para enganar a distinta plateia. Além disso, fecha completamente as portas, as janelas e o teto da transparência na prestação de contas, algo que deveria expor como instituição terceirizada e regiamente paga com dinheiro público do SUS (Sistema Único de Saúde).


 


A prática de exorcismo numérico para engabelar os consumidores de informação é tão deletéria quanto a opacidade da gestão petista que, a bem da verdade, não difere das anteriores, de múltiplas cores partidárias igualmente incontidas na destreza de manusear o dinheiro da saúde regional.


 


Tudo porque a Fuabc é um reduto de conveniências que solidifica no campo do pecado mortal o único conceito de regionalidade que deu certo na Província do Grande ABC. E só deu certo porque é resultado de acertos. Se é que me entendem.


 


Fez publicar a Fundação do ABC ainda outro dia nos jornais que o AME (Ambulatório Médico de Especialidades) de Santo André está entre as unidades de saúde mais bem avaliadas na região, segundo revelaria pesquisa do Serviço de Atendimento ao Usuário, realizada em março passado pelo Governo do Estado.


 


Nada menos que 95,38% (reparem nos desdobramentos pós-vírgula dos números, que conferem cientificidade mais que manjada) de satisfação dos pacientes, em escala geral que engloba avaliação em sete indicadores: espaço físico, ambulatório, nota geral e atendimento médico, de enfermagem, na recepção e por outros profissionais.


 


Segundo o release distribuído pela Fundação do ABC e impresso sem questionamentos por jornais da região, a pesquisa de satisfação é indicador fundamental e obrigatório, exigido mensalmente pelo Governo do Estado para acompanhamento dos serviços executados. O AME, como se sabe, é ferramental de saúde bancado pelo governo paulista.


 


Na marca do pênalti


 


Como duvidar dos números divulgados? Sem levar em conta que se desconhecem a metodologia e o nível de transparência do trabalho, há um contexto que coloca na marca do pênalti qualquer tentativa de dar credibilidade à pesquisa.


 


Trata-se do seguinte: qualquer cidadão que após longa espera (de anos até) consegue chegar à reta final de atendimento transformará o feito em grande acontecimento. Portanto, estará muito suscetível a acreditar que ganhou o paraíso. Aqueles que permaneceram no inferno de filas quilométricas evidentemente não aparecem nos resultados. Detectar o impacto de atendimento em qualquer unidade de saúde depois de longa invernada tem sentido semelhante ao de pesquisar na Vila Belmiro quantos por cento de santistas estão num jogo com o Mirassol e extrapolar a participação relativa a todo o universo de torcedores brasileiros.


 


Se o presidente da Fuabc, o petista Maurício Xangola Mindrisz, pretende levar a sério de verdade a suposta comunicação da realidade de atendimento médico da instituição que conta com R$ 1,1 bilhão de orçamento para esta temporada, deveria reunir a Imprensa, formadores de opinião e quem mais quisesse para detalhar com documentação apropriada qual é o percentual de atendimento realizado de fato para cada grupo de 10 consultas programadas com especialistas ou de exames, e quantos foram pagas pelas prefeituras conveniadas e Estado, ante o absenteísmo dos médicos. Também deveria revelar quanto um mortal espera para chegar a uma unidade de média e alta complexidade ou mesmo ser atendido numa elementar UBS gerida pela Fuabc.


 


É muito mais que provável, é certo, segundo fontes médicas, que a esbórnia é generalizada, tanto quanto na Capital. O que se passa na Capital do também petista Fernando Haddad? Descobriu-se que lá três em cada 10 consultas com especialistas não contaram com atendimento especializado, mas foram pagas pela Prefeitura às OSs (Organizações Sociais), denominação na qual está enquadrada a Fuabc.


 


Cadê a contabilidade?


 


O que se quer saber com comprovação documentada e auditada por gente especializada e independente é quanto do dinheiro público está sendo contabilizado na forma de não atendimento médico. Será que proporcionalmente os números da Província do Grande ABC seriam diferentes dos da Capital? Não estaria aí, nesse tipo de operação-assalto-ao-bolso-dos-contribuintes, uma das maiores motivações à disputa pelo poder político e financeiro na Fundação do ABC?


 


Na Capital, segundo denúncia da Folha de S. Paulo do começo de abril, as entidades assemelhadas à Fuabc deveriam ter realizado 530.151 consultas nos Ambulatórios de Especialidade e nas AMAs (Atendimento Médico Ambulatorial) no ano passado. Desse total, apenas 347.454 foram feitas. No ano anterior, em 2011, ainda segundo a Folha de S. Paulo, as OSs deixaram de realizar 41% dos atendimentos previstos. Ou seja: nos dois anos as entidades receberam todos os repasses do Município normalmente. Dá-se conta que os convênios da Fuabc seguiram o mesmo caminho de desperdício.


 


Imaginar que o presidente Xangola disponibilizará esses dados e, mais que isso, detalhará esses dados na página de web da Fundação do ABC teria o mesmo sentido de acreditar que ele está preocupado em fazer daquela instituição uma obra de engenharia administrativa, não um ramal político-partidário da Administração Luiz Marinho.


 


Na Capital, sempre segundo a Folha de S. Paulo, a falta de realização de consultas tem reflexos na fila de espera. Em dezembro do ano passado eram 800.224 pedidos médicos aguardando na rede inteira (não só nas unidades administradas por OSs). Desse total, 311.627 eram com especialistas.


 


Mamão com açúcar


 


Tudo indica – e há fontes em atividade na Fundação do ABC que asseguram a realidade dos fatos – que os contratos mantidos com as prefeituras de Santo André, São Bernardo, São Caetano e Mauá são mamão com açúcar para quem participa da divisão do bolo orçamentário paralelo. Que bolo orçamentário paralelo? Ora, o bolo das consultas programadas que não se transformaram em atendimento mas que foram automaticamente listadas como despesas cobertas pelos convênios.


 


Como em São Paulo, as unidades de saúde administradas pela Fundação do ABC são remuneradas pela capacidade operacional que disponibilizam. “É um sistema ineficiente”, definiu Maurício Faria, conselheiro da área de saúde do Tribunal de Contas do Município de São Paulo, referindo-se às relações da Prefeitura de Fernando Haddad e as OSs. Nada diferente, segundo consta, da Fuabc e prefeituras locais que lhe deram origem.


 


Duvida-se que o presidente Maurício Xangola Mindrisz ou mesmo a diretoria executiva da Fundação do ABC, e muito menos o Conselho Curador que é a síntese dos interesses cruzados das administrações municipais, tomarão qualquer iniciativa para responder às demandas de informações. O mais provável, ante a esculhambação institucional da Fundação do ABC, é que todos, rigorosamente todos, se fechem em copas e façam ouvidos e olhos de mercadores. Não convém a ninguém metido até a medula nos interesses da Fundação do ABC riscar fósforo no palheiro de acomodações políticas e partidárias. A montanha de permissividades que ferem fundo a legitimidade de recursos aplicados na saúde da Província do Grande ABC não chegou ao estágio de montanha do dia para a noite. É uma obra de décadas.


 


A estigmatização do sistema de terceirização de mão de obra no setor de saúde, considerado um buraco sem fundo de improdutividades e desarranjos gerenciais, colheu a gestão de Maurício Xangola Mindrisz de frente assim que assumiu o cargo, em janeiro do ano passado. Preocupado com a imagem do abacaxi que supostamente teria de descascar, Xangola determinou que os crachás de identificação dos profissionais que representam a Fuabc fossem sumariamente reciclados, retirando-se a inscrição “Organização Social de Saúde” como complemento da denominação “Fundação do ABC”. Uma medida cosmética. Os usos e costumes seguiram os mesmos de sempre, quando não foram agravados.



Leiam também:
 
Barbada: Maurício Xangola foge mesmo de Entrevista Indesejada


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