Política

Entenda por que Luiz Marinho é
para Lula o que Zizao é para Tite

DANIEL LIMA - 09/05/2013

Tem gente que não faz outra coisa na vida senão puxar a sardinha para a própria brasa de interesse, por isso traduziu da forma que lhe convinha uma declaração repassada na edição de domingo da Folha de S. Paulo pelo articulista Élio Gaspari.


 


Trata-se da pouco provável candidatura do ex-sindicalista e ex-ministro da Previdência e do Trabalho, Luiz Marinho, atual prefeito de São Bernardo, a governador no ano que vem.


 


Reproduzo integralmente a notinha, de pé de página, da coluna de domingo, sob o título “PT em São Paulo”:


 


 Pelo andar da carruagem, Lula está estudando as nuvens da sucessão paulista. Se achar que corre riscos, seu candidato será o ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Se achar que tem força suficiente para ganhar, como a teve elegendo Fernando Haddad para a Prefeitura de São Paulo, o candidato será Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo. Do contrário, poupa-o.


 


A tradução da declaração de Lula da Silva é simples, cortante, fria e calculista e quer dizer exatamente o seguinte se transposta ao campo futebolístico: Marinho tem tantas possibilidades de medir forças com o governador Geraldo Alckmin quanto o chinês Zizao de ser escalado pelo técnico Tite a uma não tão improvável final de Mundial de Clubes que este ano está programada para Marrocos.


 


Para aqueles cuja ficha não caiu, traduzo ainda mais a questão: o prefeito de São Bernardo, que conta com sérias restrições do eleitorado da região em que se forjou politicamente e que sofre ainda mais as durezas do prélio no Interior mais conservador, só seria escalado pelo PT se o jogo eleitoral com os tucanos for considerado fácil.


 


Nem entre reservas


 


Ora bola, como o jogo não será fácil, diria que será bastante difícil porque o PT ainda não conseguiu encaixar um candidato que comova o eleitorado, Marinho não vai ficar nem no banco de reservas. Lula, o velho amigo Lula que o embalou à Prefeitura de São Bernardo, enche a bola do prefeito de São Bernardo porque a relação quase paternal assim o determina.


 


Lula pode ser tudo de bom e até mesmo de ruim, dependendo do ângulo, mas bobo não é, como todo mundo sabe. A carta na manga nas eleições na cidade de São Paulo chamada Fernando Haddad foi um sucesso de público e de bilheteria porque atendeu deliberadamente ao perfil mais resistente ao PT na Capital – a ojeriza da classe média tradicional – e não bloqueou a profusão de um nome do partido nas camadas mais populares.


 


Alguém com o perfil de Luiz Marinho não ganharia aquela batalha paulistana, mesmo se considerando que o condimento de rejeição ao PT de viés sindicalista não é tão polarizado na Capital como nas principais cidades da Província do Grande ABC.


 


As declarações de Lula da Silva sobre a possibilidade de o PT paulista atender às eventuais demandas por Luiz Marinho chegou a arrancar aplausos mais que programados de gente que gosta de tratar uma linha reta como se torta fosse.


 


Houve quem tenha entendido nas declarações de Lula da Silva uma nova prova de dedicação total do amigo de lutas sindicais. Mais que ingenuidade, o que se pretendeu de verdade foi ludibriar o distinto público com uma interpretação caolha.


 


Aversão sindical


 


O PT sindical de Luiz Marinho dificilmente terá vez como cabeça de chapa ao governo paulista porque a imagem histórica dos petistas que ajudaram a acabar com o Regime Militar em intensidade tão grande quanto o tratamento hostil que dispensaram a um capitalismo rastaquera ainda assusta muita gente do Interior e da Capital que representam as classes conservadoras. Ainda há distinção de tratamento ao PT sindical e ao PT mais diplomático e mais educado. O PT de Luiz Marinho é um e o de Fernando Haddad é outro, se é que me entendem.


 


Por enquanto a mediocridade do petista reeleito em São Bernardo não foi adicionada à panela de pressão. Mas o seria, sem dúvida, o que contrariaria muita gente que está a imaginar que a blindagem ou quase blindagem da Administração Luiz Marinho seria mantida numa campanha eleitoral pelo comando do maior e mais rico Estado Brasileiro.


 


Entenda-se mediocridade no sentido amplo do léxico, ou seja: Luiz Marinho é um administrador público adequado a um contexto gastronômico de prato feito típico de almoço popular, incapaz de uma guinada mesmo que acidental para surpreender com um cardápio especial. É um arroz-com-feijão que, com méritos de quem se preparou para tanto, obteve recursos orçamentários do governo federal e produz série de obras.


 


Devagar com o andor


 


Pretender que Luiz Marinho seja uma luminosidade, como se tenta vender sua imagem desde os tempos em que surgiu como estrela sindical moderada, é desconhecer o alcance de sua imaginação, de sua criatividade e de seu preparo intelectual. Quem o colocar num patamar pouco acima de um pragmatismo político forjado no sindicalismo provavelmente lhe serviria de clone.


 


No fundo, no fundo, o que se passa com o PT paulista é um verdadeiro drama. O excesso de candidatos ou pré-candidatos é o sintoma da falta de uma candidatura com embocadura para enfrentar o governador Geraldo Alckmin. O que, francamente, não deixa de ser um grande fracasso petista. Os tucanos dirigem o Estado de forma tão medíocre como Luiz Marinho dirige São Bernardo.


 


A perda em números absolutos e também em números relativos da força econômica paulista no cenário nacional resulta da inapetência tucana. Mais que provavelmente, sem dúvidas, o PT não faria nada diferente. As prefeituras administradas pela agremiação estão longe de ingressar na modernidade de desenvolvimento econômico que rompa com a mesmice de dependência excessiva dos cofres públicos estaduais e federais.


 


Se fosse montar um time de futebol que pudesse representar o perfil do PT e do PSDB no comando do Estado de São Paulo, sempre tendo o desenvolvimento econômico como referência, até porque é a base de tudo, não deixaria de contar com o chinês Zizao. Tampouco deixaria de lado o chileno Valdívia, cuja trajetória no Palmeiras causa estupefação porque o que mais aparece é a rotina de manter-se afastado da equipe. Ou seja: a economia paulista dirigida pelos tucanos e a economia dos municípios da Província do Grande ABC, comandadas pelo PT, são uma mistura das limitações técnicas do chinês e da inapetência produtiva de Valdívia.


 


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