Administração Pública

Luiz Marinho vai do populismo à
truculência no Clube dos Prefeitos

DANIEL LIMA - 16/07/2013

Tem mesmo muita sorte Luiz Marinho por ser apenas prefeito de São Bernardo. Fosse algo mais importante, como pretende ser, estaria coberto de pulgas de complicações. O que fez ontem durante e logo após o encerramento da reunião do Clube dos Prefeitos da Província do Grande ABC, do qual é presidente, é de lascar. Primeiro, uma deliberação que não passa de populismo para tentar aliviar a barra da classe política, escorraçada nas ruas. Segundo, a truculência em forma de violência contra manifestantes que cobram melhorias no setor de transporte público, uma das principais fontes de corrupção e de rebaixamento de qualidade de vida.


 


Quem tem convivido com Luiz Marinho (vários dos colaboradores já se foram de seu entorno) afirma que o ex-sindicalista e ex-ministro de duas pastas sempre com afável indicação do então presidente e sempre amigo Lula da Silva virou a cabeça. O que isso significa? Que ele perdeu a humildade e que, mais que isso, mostra-se intolerante ante pequenas contrariedades, quando não se arvora de sabe-tudo diante desafios administrativos.


 


A reunião do Clube dos Prefeitos de ontem parece confluir ao senso comum entre os mais próximos que não se sujeitam à hierarquia como extremo do extremo da submissão.


 


Primeiro, vamos ao populismo. Luiz Marinho anunciou ontem ao lado dos demais prefeitos da região que aquela instituição sempre insensível à sociedade e distante da mídia, proibida de frequentar os encontros, vai ouvir o povo. Replicará Luiz Marinho um programa introduzido em São Bernardo, o chamado PPA (Plano Plurianual Participativo), agora em âmbito regional. Serão sete plenárias, uma em cada Município, com quatro macrodiretrizes para, segundo o noticiário, sintonizar as prioridades locais aos orçamentos da União e do Estado.


 


Varejo e atacado


 


Demagogia pura, porque o PPA aplicado em nível municipal já é uma falácia estratégica. Ora, bolas, se as prefeituras petistas que agasalharam PPAs o fazem apenas com o sentido de dar certo verniz democrático à gestão central, utilizando-se de baixíssima parcela do orçamento geral, o que esperar quando se projeta a programação à região como um todo? Recursos da União e do Estado já são cartas marcadas em termos de destino, porque, por mais que sejam ineficientes nossos administradores públicos, qualquer um sabe que o histórico de problemas está disponível a resoluções. Os grandes buracos municipais não são assunto para PPAs, mas para especialistas. PPAs são varejo, não atacado.


 


O Plano Plurianual Participativo não passa de uma reformatação denominativa do Orçamento Participativo tão decantado pelo PT ao longo dos anos, mas que se desgastou ao se descobrir que o dimensionamento não concorreria em igualdade de condições com o factível. Mexeu-se no rótulo, introduziram-se algumas inovações de pequena monta e tudo parecia resolvido.


 


Lançado em âmbito regional pouco mais de um mês após a voz rouca das ruas apontarem o cano do revólver da indignação social em direção à classe política, até então nadando de braçadas e absolutamente cega, surda e muda às demandas sociais, o que Luiz Marinho quer mesmo com o PPA não passa de proselitismo político. Com o auxílio da mídia submissa vai passar a ideia de que aquela instituição é democrática e, mais que isso, atentíssima à agenda social. Pura bobagem.


 


Os marqueteiros de Luiz Marinho são aprendizes de feiticeiros. Podem ludibriar a boa-fé ou a ingenuidade consentida de parte da mídia, mas basta seguir a sugestão de Sócrates, o filósofo para matar a charada -- uma vida vivida sem reflexão não merece ser vivida para matar a charada. Luiz Marinho quer holofotes para uma ação que contraria o histórico do Clube dos Prefeitos, avesso à gestão transparente, colaborativa, crítica, e também a própria essência de planejamento estratégico.


 


Do jeito que se está mobilizando, com a estabilidade de biruta de aeroporto, Luiz Marinho corre sérios riscos de terminar o mandato como o pior titular do Clube dos Prefeitos em todos os tempos, porque, embora os antecessores tenham feito quase nada (exceto Celso Daniel), eles também não venderam ilusões demais. Preferiram não ser tão abusados nas ações midiáticas, porque sabiam que publicidade sobre falsos projetos tornaria a emenda pior que o soneto.


 


Temática indigesta


 


O segundo ponto da reunião de ontem do Clube dos Prefeitos e que, também exposto a uma mídia de maior ressonância e muito menos dócil do que a que encontramos na região provocaria rombos enormes no casco de credibilidade do prefeito de São Bernardo, foi a agressão sofrida por um dos manifestantes contra os descalabros do setor de transporte coletivo. Marcelo Reina, candidato do Psol nas últimas eleições em Santo André, registrou boletim de ocorrência na Delegacia de Polícia do Centro de Santo André contra seguranças de Luiz Marinho que lhe acertaram o rosto e lhe fizeram o sangue escorrer pelas narinas.


 


Tudo se deu logo após o encerramento da sessão do Clube dos Prefeitos, segundo relata o Diário do Grande ABC de hoje. Um grupo de 25 manifestantes reivindicava melhorias no setor de transporte, foram recebidos e ouvidos pelos prefeitos municipais da Província, mas no fim do encontro houve tumulto e agressões porque apenas uma das questões foi colocada em pauta. O agredido Marcelo Reina afirma que ao final do encontro foram cobrar dos prefeitos respostas aos sete pontos. A abordagem ao prefeito Luiz Marinho terminou em pancadaria. Até Luiz Marinho é acusado de, pessoalmente, desferir socos. É claro que sempre protegido por brutamontes. Pesos penas não costumam se dar bem nos embates físicos.


 


O lamentável em tudo isso é que tanto a entrega de Luiz Marinho ao mais deslavado populismo no Clube dos Prefeitos quanto as agressões pós-reunião se deram praticamente no mesmo horário em que CapitalSocial postava mais uma matéria deste jornalista sobre o comportamento da economia da Província do Grande ABC nas duas últimas décadas, com resultados cada vez mais preocupantes.


 


Enquanto o setor industrial da região é olimpicamente esquecido pelos administradores públicos, gigolôs orçamentários de um passado de glórias, outras áreas geográficas correm para o abraço. Perdemos a cada ano em média de 1994 até 2011 nada menos que 0,65% de produção da indústria de transformação, enquanto outros endereços da Região Metropolitana de São Paulo e das metrópoles de Campinas, Sorocaba e São José dos Campos alcançam avanços enormes.


 


Estão matando a galinha de ovos de ouro da economia regional porque se desdenham alternativas para dinamizar o parque industrial. Prefere-se, como é o caso de Luiz Marinho e o PPA Regional, jogar para a plateia e enganar o distinto público.


 


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