Administração Pública

MP investiga denúncia de corrupção
contra Bigucci publicada há um ano

DANIEL LIMA - 12/08/2013

Uma antiga denúncia de corrupção envolvendo a Construtora e Incorporadora MBigucci está sendo investigada pelo Ministério Público. A informação chega a este jornalista quase um ano após a publicação do texto “Denunciante afirma ao MP que Bigucci beneficiou-se do Semasa”, de 22 de agosto do ano passado. O caso envolve o empreendimento Royale Nobre Residence, ao lado do Shopping ABC.


 


A ação do MP não é mesmo novidade quando se trata da MBigucci. Recentemente o MP do Consumidor de São Bernardo declarou enfaticamente que o conglomerado dirigido pelo presidente do Clube dos Construtores e Incorporadores é campeão de abusos na atividade. Sem contar que, por determinação da Corregedoria-Geral do MP no Estado de São Paulo, o MP de São Bernardo investiga a fraude que culminou no arremate de área pública onde se anuncia a construção do empreendimento Marco Zero.


 


Estranhamente, já que é especialista em procurar amordaçar a mídia que não lhe estende o tapete da submissão, Milton Bigucci, dono da MBigucci, não acionou o Judiciário para tentar atingir este profissional após a veiculação da matéria em agosto do ano passado. Sempre é possível que eventualmente haja algum magistrado disposto a lhe dar razão em primeira instância. Como recentemente no caso em que Milton Bigucci se considerou ofendido por este jornalista por conta de escorregões à frente do Clube dos Construtores e dos Incorporadores do Grande ABC e também da MBigucci. Nada que envolvesse algum eventual deslize de informações. Tudo moldado na subjetividade de tratamento. Contra fatos não há argumentos, mas contra o tempero jornalístico nem sempre compreendido por um magistrado há potencial possibilidade de tergiversações semânticas que retirem o foco da análise do plano objetivo.


 


Silêncio diz tudo?


 


O silêncio de Milton Bigucci pós-denúncia de envolvimento com a Máfia do Semasa não é algo que possa ser retirado da lógica reativa do empresário. Certamente ele temia que, em função da denúncia do advogado Calixto Antônio Júnior, desdobramentos fiscalizatórios se tornassem compulsórios. A estratégia do silêncio não adiantou: a julgar pelas informações que chegam, o MP de Santo André está investigando o caso e, mais que isso, estaria acelerando os passos ao ouvir gente da alta e da baixa burocracia gerencial, além de empresários. Elucidar as irregularidades que permeiam o lançamento imobiliário ao lado do Shopping ABC é questão de simples apuração.


 


Quem denunciou a participação de Milton Bigucci num dos muitos ramais de escândalo do Semasa durante a gestão do prefeito Aidan Ravin foi justamente um dos braços operacionais do então chefe do Executivo de Santo André, o advogado Calixto Antônio Júnior. Foi ele quem denunciou o que se convencionou chamar de Máfia do Semasa.


 


Algum tempo depois Calixto revelou o conceito das tramoias a este jornalista. Não consta que tenha sido acionado judicialmente pelo empresário Milton Bigucci. O dirigente do conglomerado imobiliário beneficiou-se de irregularidades na aprovação daquele empreendimento que segue em fase de construção. Trata-se de um conjunto de torres residenciais ao lado do Shopping ABC.


 


Como o promotor criminal Roberto Wider Filho tomou há mais de um ano o depoimento de mais de quatro horas do homem contratado informalmente pelo prefeito Aidan Ravin para representá-lo naquela autarquia pública, não se poderia esperar outro desfecho senão a iniciativa investigatória em âmbito competente. É o que está ocorrendo em instância do MP apropriada ao assunto.


 


Denunciante enfático


 


Calixto Antônio Júnior foi tão enfático no depoimento que prestou ao Ministério Público de Santo André há mais de um ano que tudo o que se desencadear no campo criminal será pouco. O advogado foi contundente ao assegurar que não só o empreendimento ao lado do Shopping ABC (o Royale Nobre Residence) como várias dezenas de outras licenças concedidas pelo Semasa sob a Administração Aidan Ravin obtiveram sucesso sobretudo porque manobras espúrias ditadas por figurões daquela autarquia foram levadas adiante.


 


O Semasa dos tempos de Aidan Ravin carnavalizou escândalos que só não saltaram ainda a penalidades porque é muito forte o lobby do setor e também é imensurável o tamanho das forças políticas que se autoprotegem. Mas tudo tem limites, segundo se pode deduzir de informações de bastidores do Ministério Público de Santo André. O empreendimento Royale Residencial teria extrapolado todos os limites de abusos. Entre os quais, o desprezo ao meio ambiente. Uma nascente de água passa pelo terreno e jamais poderia ser objeto de intervenções sem autorização expressa de organismos federais. A multiplicação de torres de apartamentos e a verticalização muito acima dos limites legais acrescentam abusos legais que não resistiriam a questionamentos.


 


Existe um sentimento de preocupação dos principais empresários do setor imobiliário da Província do Grande ABC com a intensidade de complicações envolvendo Milton Bigucci. Os holofotes que a mídia regional evita direcionar aos negócios mais que comprometedores da MBigucci não obscurecem mais o entendimento de autoridades públicas em geral. A visibilidade de mídias alternativas como CapitalSocial retira das sombras práticas cada vez mais condenadas pela sociedade.


 


A revolução das ruas em junho não surgiu por acaso, consequência de algum pó-de-pirlimpimpim. Camadas e camadas de inconformismos começam a se movimentar em diferentes geografias. Mercadores imobiliários ainda resiste como um todo, mas aos poucos encontrará resistências no próprio setor, entre aqueles que não toleram espertezas que subvertem conceitos de meritocracia negocial.


 


Por isso, o fim da jornada de Milton Bigucci no Clube dos Construtores e Incorporadores do Grande ABC, em eleições previstas para o final deste ano, é mais que certo. A oposição que o quer distante de uma presidência de duas décadas só pretende evitar danos à atividade. Não quer que a sucessão seja uma disputa fratricida que manche a imagem da classe.


 


Mandato final?


 


O vazamento da participação de Milton Bigucci na Máfia do Semasa seria a pá de cal à pretensão do empresário seguir adiante na instituição. Talvez nem fosse preciso, diz um dos construtores mais tradicionais de São Bernardo. Que argumenta: Milton Bigucci jamais poderá ser catalogado como presidente de uma instituição empresarial que tenha deixado alguma herança sobre a qual os novos dirigentes deverão prestar homenagem. O Clube dos Construtores e Incorporadores chegou ao fundo do poço da representatividade. Mesmo assim, há quem pretenda prestar homenagem ao dirigente quando ele deixar a entidade. Tudo para tornar a transmissão do cargo menos constrangedora. Mas deve prevalecer mesmo uma terceira via: nem socos nem lantejoulas verbais; apenas uma transição diplomática ditada pela discrição.


 


Não falta também representante do mercado imobiliário que acompanha atentamente esta revista digital e se mostre inconformado ante o silêncio de Milton Bigucci. Solicitando o anonimato por conta de eventuais retaliações, um associado do Clube dos Construtores e Incorporadores chegou a afirmar que a primeira medida que o empresário deveria tomar ante as informações de CapitalSocial seria municiar-se de eventuais provas documentais que contestassem com bases sólidas todas as denúncias. Ao não promover essa iniciativa – afirma o empresário – o empresário que comanda a MBigucci atirou-se de vez num buraco negro de desconfiança. Ainda mais, garante, que foi desafiado várias vezes por CapitalSocial a apresentar respostas a perguntas indesejáveis.


 


Ainda não há confirmação de que Milton Bigucci já tenha sido ouvido pelo Ministério Público de Santo André sobre a Máfia do Semasa. Mesmo que tenha, isso não significa necessariamente que apresentasse contribuição à elucidação das irregularidades do Residencial Royale. Afinal, na primeira fase de investigações do caso Marco Zero, Milton Bigucci e parceiros de manobras só faltaram candidatarem-se à canonização ao sugerirem que fizeram um grande favor aos cofres da Prefeitura de São Bernardo quando se juntarem no arremate que transformou a área pública entre a Avenida Senador Vergueiro e a Avenida Kennedy num sucesso do empreendimento. Pagou-se pelo metro quadrado menos da metade do valor de mercado à época. A Máfia do Metrô, denunciada pela Siemens, poderia se inspirar nos depoimentos dos parceiros de negócios do Marco Zero. Pelo menos garantiria espaço nobre no Zorra Total.


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