Administração Pública

Dilma torna suspeita usina de lixo
em São Bernardo. Como sair dessa?

DANIEL LIMA - 13/08/2013

Potencial candidato à sucessão do prefeito Luiz Marinho em São Bernardo, o supersecretário Luiz Fernando Teixeira poderá ter dificuldades ante uma mídia independente se escarafuncharem os trâmites legais e extralegais que lastrearam o leilão da milionária usina de incineração de lixo prevista para a área do desativado Lixão do Alvarenga. O modelo licitatório gera suspeitas de favorecimento. O próprio PT autoriza desconfiança. Bastar ler o noticiário de hoje. O leilão do trem-bala foi adiado pela presidente Dilma Rousseff por contar com apenas um provável concorrente. A usina de lixo de São Bernardo teve apenas um competidor.


 


O que mais os petistas de São Bernardo temem caso Luiz Fernando Teixeira vire candidato do Paço Municipal são os excessivos pontos de interrogação que supostamente deixaria no rastro das atividades de supersecretário. LFT, como é tratado entre os próximos que o amam e os próximos que o odeiam, é um animal político mil léguas adiante de Tarcísio Secoli, Secretário de Obras e Vias Públicas, ex-secretário de governo, também cotado para suceder o ex-ministro da Previdência Social na Capital Econômica da região.


 


A diferença entre um e outro é algo como água e vinho. O que sobra de carisma em LFT abunda em discrição em Tarcísio Secoli. LFT combina bastidores e holofotes sem que se coloque um contraponto ao equilíbrio entre as duas ações. Tarcísio Secoli é essencialmente introspectivo nas arremetidas do governo municipal. Mesmos nestes tempos em que tem se espalhado pela cidade como pregador da usina de lixo ele não se desvencilha da timidez.


 


Estreitamento eleitoral


 


Não falta quem afirme que o prefeito Luiz Marinho está deixando o processo de sucessão correr numa raia estreita demais. Marinho poderia ficar sem os dois concorrentes que se apresentam à disputa exatamente porque a potencialidade de a usina de lixo virar bomba-relógio os envolve diretamente.  Luiz Fernando Teixeira tratou dos aspectos políticos-administrativos da obra ao preparar a cronologia e as injunções técnico-legais do leilão. Tarcísio Secoli conduz a operação técnica. Fala com desenvoltura sobre uma obra que terá 30 anos de concessão à única empresa (na verdade, um consórcio de duas empresas) que participação do leilão.


 


Está certo que a presidente Dilma Rousseff anunciou o adiamento do leilão do trem-bala por conta de circunstâncias políticas que inquietam o Palácio do Planalto. Algumas empresas inicialmente listadas a competir estão com os fundilhos à mostra no escândalo do metrô do governo tucano de São Paulo. Pegaria mal, muito mal, tê-las em campo num momento em que o cartão amarelo ético já foi mostrado e o vermelho estaria por vir na esteira de investigações multilaterais tendo a Polícia Federal e o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) na dianteira.


 


Também pesa na decisão do adiamento por tempo indeterminado do leilão do trem bala a influência político-eleitoral das manifestações de junho. Execram-se os investimentos previstos para ligar São Paulo, Campinas e Rio de Janeiro enquanto as metrópoles sofrem barbaridade com nós logísticos ditados pela imprevidência pública e ganância privada.


 


Acontece que nem mesmo essa defesa, a defesa de que a Administração Luiz Marinho procedeu ao ritual do leilão no ano passado, longe portanto do burburinho das ruas, serve de blindagem.  A participação de uma única empresa é sim tecnicamente suspeitíssima e politicamente desastrosa. Foi sob essa ótica, a ótica da moralidade, que o governo Lula da Silva, já em 2010, suspendeu o leilão do trem-bala exatamente porque só havia um competidor inscrito. Eram os coreanos que pretendiam expor nos trilhos todos os conhecimentos técnicos para unir as duas metrópoles mais importantes do País.


 


Pontos explosivos


 


Talvez o PT de São Bernardo despreze os riscos de juntar dois pontos explosivos numa campanha eleitoral. Luiz Fernando Teixeira e usina de incineração de lixo ganham a forma de rastilho de pólvora. É impossível desvincular uma coisa da outra, ou seja, uma obra de custos milionários e de concessão extraordinariamente alongada, muito acima do razoável quando se confronta com experiências internacionais, e uma candidatura a prefeito justamente de um agente extra-público, sem cargo efetivo na máquina da Prefeitura mas capaz de mandar e prender quem bem entender.


 


Luiz Fernando Teixeira conta com ramificações administrativas, políticas e partidárias de dar inveja à maioria dos agentes públicos da Província do Grande ABC. Tanto que se lançando candidato a deputado estadual com amplas possibilidades de sucesso porque, além da imagem pública agradável, conta com respaldo de financiadores vocacionados a apostar em vencedores.


 


Nestes momentos em que as escaramuças entre petistas e tucanos deixam o congelamento de conveniências e de autoproteção, porque falam mais alto os milhões de euros que evaporaram dos cofres públicos sob os trilhos do metrô, é possível que a oposição domesticada de São Bernardo comece a se mobilizar.


 


Uma mobilização intramuros, porque, se de fato se der algo como a ressurreição de um movimento oposicionista após o estrangulamento crítico mais corrosivo dos deputados Orlando Morando e Alex Manente, o que provavelmente se estabelecerá é um tratado de preservação temporária de LFT.


 


Como assim? Não interessaria a uma oposição de verdade tornar de imediato um inferno a vida do homem que Luiz Marinho escolheu para comandar um governo paralelo em São Bernardo. Seria melhor mesmo continuar a lhe dar corda, a lhe incentivar a candidatura à sucessão até que, na reta de chegada, pumba, desabaria o que se acredita seja um escândalo em forma de usina de lixo. Tarcísio Secoli seria alvo de efeitos semelhantes, porque é o gerente operacional do projeto e como tal está metido até a medula como missionário de vantagens econômicas e mesmo ambientais do equipamento para os cofres e a qualidade de vida da população. 


 


Independentemente de a usina de incineração de lixo de São Bernardo ser um caso a ser investigado porque não seguiu as regras éticas que o próprio governo petista de Brasília decidiu empreender tanto agora quanto em 2010, é inesgotável o filão de especulações sobre dúvidas que provavelmente serão levadas aos eleitores. E convenhamos que não há exagero algum nas especulações que brotam.


 


Se fosse possível dar nota de zero a 10 à transparência dos trâmites que balizaram aquele leilão, a Administração Luiz Marinho se rivalizaria às ações que encaminharam os contratos do metrô paulistano às manchetes. No caso da usina de São Bernardo, o processo supostamente teria sido o inverso: a participação de um só competidor sugere que os demais interessados teriam acordado porque seriam igualmente beneficiados em competições semelhantes, em outros territórios. 


 


Alguém é capaz de sustentar sem risco que esse ritual está completamente fora do contexto de usos e costumes entre Poder Público e iniciativa privada?


 


Leiam também:


 


Lixo milionário de São Bernardo vai embalar candidato de Luiz Marinho


Leia mais matérias desta seção: Administração Pública

Total de 813 matérias | Página 1

15/10/2024 SÃO BERNARDO DÁ UMA SURRA EM SANTO ANDRÉ
30/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (5)
27/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (4)
26/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (3)
25/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (2)
24/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (1)
19/09/2024 Indicadores implacáveis de uma Santo André real
05/09/2024 Por que estamos tão mal no Ranking de Eficiência?
03/09/2024 São Caetano lidera em Gestão Social
27/08/2024 São Bernardo lidera em Gestão Fiscal na região
26/08/2024 Santo André ainda pior no Ranking Econômico
23/08/2024 Propaganda não segura fracasso de Santo André
22/08/2024 Santo André apanha de novo em competitividade
06/05/2024 Só viaduto é pouco na Avenida dos Estados
30/04/2024 Paulinho Serra, bom de voto e ruim de governo (14)
24/04/2024 Paulinho Serra segue com efeitos especiais
22/04/2024 Paulinho Serra, bom de voto e ruim de governo (13)
10/04/2024 Caso André do Viva: MP requer mais três prisões
08/04/2024 Marketing do atraso na festa de Santo André