Administração Pública

Só Ministério Público pode acabar
com o vale-tudo da gestão Grana

DANIEL LIMA - 16/08/2013

Somente o Ministério Público poderá acabar com acordos rastejantes que transformaram a Administração Carlos Grana em espécie de vale-tudo no tratamento de escândalos imobiliários que brotaram feito cogumelos na rede de corrupção do antecessor Aidan Ravin.


 


Se depender de vontade própria, até porque os acordos costurados para chegar à torre principal do Paço Municipal implicaram em retirada compulsória do grau de autonomia que deveria balizar sua gestão, Carlos Grana nada fará. Muito pelo contrário: seguirá dando aval, porque assim está estabelecido em regime de reciprocidades.


 


O Ministério Público investiga alguns dos casos imobiliários mais escabrosos de Santo André. Dar transparência às investigações talvez seja processo mais democrático e produtivo. Não faltam fontes insuspeitas para engrossar o caldo de denúncias. Enquanto tudo permanecer intramuros, dissemina-se corrente de amedrontamento e de omissão.


 


Demora-se demais para colocar em pratos limpos as barbaridades cometidas durante a Administração Aidan Ravin naquele que se tornou o maior centro de corrupção da gestão petebista, o Semasa de técnicos e gente competente invadido por desordeiros.


 


Fosse a Administração Carlos Grana minimamente compatível com os tempos de manifestações nas ruas, e tudo já teria sido encaminhado a esclarecimentos porque oito meses já se passaram.


 


Nenhuma surpresa


 


No fundo, não há surpresa alguma à licenciosidade ética da gestão do petista de Santo André. Basta verificar quem está à frente da Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano e os tentáculos que lhe dão amparo institucional. Trata-se de Paulo Piagentini que, à parte qualquer juízo de valor sobre eventuais aptidões para conduzir a secretaria, jamais ali deveria estar simplesmente porque significa raposa em galinheiro. Ele é um dos mais tradicionais empresários e lobistas do setor imobiliário da região.


 


Paulo Piagentini faz parte de uma confraria que tem em Milton Bigucci, conhecido velho de guerra, liderança conceitual. O convite aceito para chefiar o setor imobiliário de Santo André só não é mais deletério às instituições do que o convite feito, e o convite feito por Carlos Grana revela o quanto o prefeito está decidido a juntar peças de um tabuleiro que coloca os interesses de Santo André muito aquém dos interesses partidários.


 


Costurar alianças a qualquer custo é o dogma petista nacional e Santo André não se traduziu, nas últimas eleições, em ponto fora da curva. Basta ver que Raimundo Salles e Paulinho Serra, principais alternativas eleitorais do futuro, após a autodestruição de Aidan Ravin, viraram dóceis secretários petistas.


 


Com Celso Daniel


 


Nos últimos 18 meses só conversei duas vezes com o prefeito Carlos Grana -- mesmo assim por telefone. A primeira no primeiro dia de 2012, quando, no Interior, trocamos dialogo. Nem lembro se recebi ou fiz a chamada, mas do conjunto de palavras não esqueço. Grana se revelou agradecido por algo que não consigo entender, porque não se tratou de nada que não fizesse parte do que escrevo profissionalmente. Respondi-lhe que estaria ao lado dele na torcida por uma Santo André melhor desde que ele não se juntasse a bandidos. Acabou se juntado. Recentemente, liguei-lhe para dizer que esperava ter três horas de conversa com ele para falar sobre Santo André, como o fizera em outubro de 2001, em almoço com o prefeito Celso Daniel. Disse-lhe que esperaria pelo convite. Grana prefere passar noitadas com amigos do peito e de outras coisas a ouvir um jornalista independente que torce por Santo André mas não é vaquinha de presépio.


 


Jamais fecharei portas a diálogos com quem quer que seja porque, como jornalista, mesmo que eventualmente jornalista em off, não posso perder a fome de curiosidade congênita que a atividade pressupõe. Entretanto, não farei de qualquer encontro pretexto a aviltamentos. Aquela conversa de três horas com Celso Daniel foi inesquecível. Só perdeu para as duas horas da viagem de ônibus de um jogo do Santo André em São Carlos quando, convidado a participar de uma comitiva de dirigentes e conselheiros do clube, dividi espaço com o então prefeito de Santo André e, munido de um gravador, obtive uma das melhores entrevistas com um agente público em toda a minha carreira.


 


Sem comparações


 


Estabeleço paralelos entre Celso Daniel e Carlos Grana para tentar dizer que, embora tenha sido torpedeado por denúncias de corrupção, algo sobre o qual jamais discordei porque sei como se move a política no mundo inteiro, Celso Daniel não teria se comportado com o desleixo, a negligência e o desinteresse escandalosos de Carlos Grana sobre a farra imobiliária em Santo André. Até porque não teria vilipendiado tanto o programa petista com misturebas ideológicas, mais que pragmáticas, acintosamente abusivas.


 


O Ministério Público de Santo André que, segundo informações, apura o caso do Residencial Royale, precisa corrigir a rota de arreglos entre o prefeito que se foi e o prefeito que está. Quem mais se beneficia de tudo são os intermediários que controlam os cordéis político-financeiros do orçamento da Prefeitura de Santo André.


 


O Residencial Royale, como denunciou o ex-assessor especial de Aidan Ravin, Calixto Antônio Júnior, é apenas um dos muitos exemplares de escusas liberações de obras imobiliárias. Ainda não se tem informação segura sobre algo semelhante ao perfil da gestão de Gilberto Kassab, na qual um executivo público responsável pela liberação de licenças colecionou mais de uma centena de imóveis em poucos anos. Nada sugere que se tenha dado parecido em Santo André, mas sim a democratização da falcatrua com a pulverização de beneficiários. O secretário municipal Paulo Piagentini, detentor de todas as informações sobre a tomografia legal do setor imobiliário, tem obrigação de vir a público e prestar esclarecimentos. Pura bobagem, é claro, porque há gente de seu entorno empresarial e político que seria duramente atingida. Ao Ministério Público cabe providenciar medidas profiláticas, portanto.


 


Leiam também:


 


Entorno de Piagentini prepara assalto à Administração Grana


 


Carlos Grana ignora Haddad e segue submisso ao mercado imobiliário


Leia mais matérias desta seção: Administração Pública

Total de 813 matérias | Página 1

15/10/2024 SÃO BERNARDO DÁ UMA SURRA EM SANTO ANDRÉ
30/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (5)
27/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (4)
26/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (3)
25/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (2)
24/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (1)
19/09/2024 Indicadores implacáveis de uma Santo André real
05/09/2024 Por que estamos tão mal no Ranking de Eficiência?
03/09/2024 São Caetano lidera em Gestão Social
27/08/2024 São Bernardo lidera em Gestão Fiscal na região
26/08/2024 Santo André ainda pior no Ranking Econômico
23/08/2024 Propaganda não segura fracasso de Santo André
22/08/2024 Santo André apanha de novo em competitividade
06/05/2024 Só viaduto é pouco na Avenida dos Estados
30/04/2024 Paulinho Serra, bom de voto e ruim de governo (14)
24/04/2024 Paulinho Serra segue com efeitos especiais
22/04/2024 Paulinho Serra, bom de voto e ruim de governo (13)
10/04/2024 Caso André do Viva: MP requer mais três prisões
08/04/2024 Marketing do atraso na festa de Santo André