Administração Pública

Acredite se quiser: Marinho insiste
no aeroportozão de São Bernardo

DANIEL LIMA - 23/08/2013

O prefeito Luiz Marinho está incomodadíssimo com o custo da lorota em forma de proposta de construir um aeroportozão em São Bernardo, anunciado em outubro de 2011 e que acabou nas malhas deste CapitalSocial. Mas como Luiz Marinho não é de entregar a rapadura tão facilmente, eis que está articulando uma forma de sair da enrascada.


 


Para tanto, move céus e infernos no governo federal e também com os investidores que pretendem a todo custo montar o equipamento o mais próximo possível do Rodoanel. Fala até em lançar uma pedra fundamental da obra antes que dezembro chegue. O legado ficaria para os futuros administradores de São Bernardo, porque ele acredita que antes de 20 anos não será possível ver o aeroportozão tinindo. Marinho criou uma nova modalidade de enganação. A enganação a termo, ou seja, a enganação com prazo de validade esticado, bem esticado, mas fixado, para não parecer enganação, quem sabe para parecer algo típico dos visionários. Visionários para os trouxas, é claro.


 


Sem dúvida, tudo não passa de prestidigitação administrativa, mas não faltará gente na mídia que dará realce à bobagem, como se o equipamento alardeado virasse realidade do dia para a noite. Nossos políticos têm a mania de prometer obras a torto e a direito porque sabem que a quase totalidade da mídia não terá o cuidado de acompanhar supostos cronogramas. Não somos apenas um país de desmemoriados. Também somos um país de enganados.


 


Barrigada que cresce


 


Qualquer gerenciador público com a cabeça no lugar teria corrigido no dia seguinte à publicação da besteira o equívoco de sua assessoria. Ou seja, que aquela manchetíssima de primeira página do Diário do Grande ABC foi fruto de delírios de alguém que possivelmente tomou um pouco a mais na noite anterior e, na manhã seguinte, ainda não se havia curado da ressaca. Tudo não teria passado de um escorregão, porque aeroporto internacional em São Bernardo, na área dos mananciais já tão vilipendiados, só poderia ser mesmo uma barbeiragem de quem não tem intimidade com a realidade local.


 


Mas Luiz Marinho deu corda ou imaginou que o besteiragem seria esquecida. Não só não foi esquecida como representa 20 dos atuais 180 pontos no passivo do prefeito no ranking do Observatório de Promessas e Lorotas desta revista digital.


 


Fico a imaginar a possibilidade de Luiz Marinho levar adiante essa farsa e criar mesmo um esquema de marketing para o lançamento da pedra fundamental do aeroportozão que insiste em colocar na agenda, quando até mesmo aeroportozinho, como já escrevemos, está fora de cogitação.


 


São Roque conta com área de seis milhões de metros quadrados para um aeroporto de porte internacional, goza de condições logísticas, estruturais e tudo o mais muito superiores a São Bernardo e se vê às voltas com os opositores que veem o equipamento como ameaça ambiental. O consórcio que anunciou um aeroporto, nem aeroportozão nem aeroportozinho, na Zona Sul de São Paulo, em Parelheiros, esbarra na negativa do prefeito paulistano, Fernando Haddad, pressionado por demandas ambientais.


 


As barreiras do Rodoanel


 


Como seria possível, mesmo com todos os entraves, Luiz Marinho peitar entre tantos a mãe natureza e enfiar goela abaixo da sociedade um trem daquele tamanho quando todos sabem ou deveriam saber que o governo do Estado fez o trecho sul do Rodoanel com apenas três acessos no território da Província do Grande ABC porque sabia que o risco de deterioração pelos invasores humanos desalmados seria incontrolável?


 


Confesso que quando li o que Luiz Marinho disse à repórter do suplemento especial do Diário do Grande ABC sobre as intenções de seguir adiante na lorota do aeroportozão, minha reação foi de quem se ocupava de uma entrevista equivocadamente impressa, retirada involuntariamente dos arquivos de dois ou três anos atrás.


 


Não pretendia tão cedo voltar ao aeroportozão que nem aeroportozinho seria mas não resisti à tentação: o prefeito Marinho transmite a ideia de teimosia suprema ao insistir numa iniciativa por natureza escandalosa. A Prefeitura de São Bernardo encaminhou a terceiros sem qualquer instrumento legal toda a iniciativa de buscar por meios financeiros e diplomáticos, por assim dizer, uma resposta efetiva ao sonho de implementar um equipamento que receberia aeronaves de grande porte e, mais que isso, porque o entorno é que faz a roda da fortuna girar, empreendimentos comerciais, de serviços e de lazer. Como, aliás, se projeta para São Roque.


 


Portanto, ficamos assim combinados: preparem-se porque Luiz Marinho vem aí, até o final do ano, com o requentamento de uma proposta que só não é absurda porque antes disso é bisonha. Se duvidam, repasso alguns trechos da entrevista ao suplemento especial do Diário do Grande ABC da última terça-feira. Leiam:


 


Diário – E como anda a questão do aeroporto?


 


Marinho – Tenho certeza que ele vai vingar. Tem coisas que você não pode comentar muito porque pode resultar em especulação imobiliária e outros aspectos que podem inviabilizar o projeto. É preciso cautela com, mas estou muito otimista.


 


Diário – Por que o senhor acredito que o projeto sairá do papel?


 


Marinho – Primeiro, porque nós trabalhamos esse processo com o governo federal, que já criou as condições para o setor privado atuar e formular o projeto, agora, nesse caso, depende da iniciativa privada. Trata-se de um investimento 100% privado. Trabalhei para mostrar que cabe mais um aeroporto metropolitano (atualmente funcionam os de Congonhas, na Capital, e Cumbica, em Guarulhos). Algumas pessoas falam que não precisa, só daqui a 20 anos. Daqui a 20 anos o aeroporto tem de estar operando. Para isso, temos de planejar agora, para gradativamente daqui a 20 anos estar operando em plenitude de um aeroporto metropolitano. Evidente que o governo federal ainda não o liberou como um aeroporto dessa magnitude, tem que nascer como aeroporto de carga e aviação executiva, mas tudo indica que em 20 anos terá de ser o terceiro aeroporto metropolitano. O que nós estamos discutindo com os investidores privados é que eles façam o planejamento para que dê conta para ter no Grande ABC um grande aeroporto metropolitano. Não é apenas interesse de São Bernardo, é do Grande ABC, do Estado e também da Baixada Santista, porque o aeroporto vai estimular negócios em toda região.


 


Diário – É possível falar em prazos para assinatura de contrato e início de obras?


 


Marinho – É muito arriscado falar nisso, mas eu diria que até o fim do ano o anúncio deve ser feito, de quando sai o cronograma, pata ter o lançamento da pedra fundamental e ter uma dimensão do tamanho (do empreendimento).


 


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Até quando Luiz Marinho vai se calar ante bobagem de aeroporto?


 


Sem aeroportozinho, Marinho pode ter apenas uma pistazinha de pouso


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