Política

Tucanos e petistas partem para a
briga, mas logo vão se entender

DANIEL LIMA - 29/08/2013

A paz de conveniências, quando não de cumplicidades, entre tucanos e petistas, virou sucata após o vazamento da bandalheira sobretrilhos do governo Geraldo Alckmin. A trégua em nome de locupletação mútua sem complicações com instâncias ministeriais e policiais, e também com a mídia independente, virou passado.  Até o deputado estadual Orlando Morando, tucano próximo do poder estadual, saiu distribuindo catiripapos verbais na Administração Luiz Marinho. Até outro dia eles trocavam beijos diplomáticos em forma de distanciamento de polêmicas que os desgastassem. Com o descarrilamento metroferroviário na Capital, sob investigação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa do Consumidor), o bicho pegou.


 


Tucanos e petistas devem entrar em acordo nos próximos tempos para calibrar as críticas de modo que não se ateie fogo no circo de interesses cristalizados. Não convém a nenhum dos dois partidos uma disputa fratricida que beneficie outras agremiações, ais quais, em larga escala, não têm tanta vida própria porque não contam com o centro do poder na maioria das administrações públicas recheadas de recursos orçamentários.


 


Tudo é possível em enfrentamentos de petistas e tucanos. O mando de jogo segue um ritual manjadíssimo, de comedimento a fim de evitar estardalhaços que gerem represálias. As denúncias sobre o cartel incestuoso de fornecedores de serviços no setor de transporte público estão vinculadas a pressões petistas supostamente influenciadores políticos do Cade. Quem argumentar em contrário não demoverá demover os tucanos da certeza de que tudo faz parte de uma manobra para desestabilizar principalmente o governo do Estado, sonho de consumo de 10 entre 10 seguidores de Lula da Silva.


 


Sabe-se que os bombeiros de sempre se articulam para conter os ânimos, mas até que eventualmente cheguem a um ponto de convergência, muita água ainda vai rolar em forma de revelações sobre uso de dinheiro público.


 


Inimigos cordiais


 


Quem, entretanto, entender que não haverá mesmo como segurar a barra entre as duas agremiações, principalmente em território paulista, corre sérios riscos de cair do andaime. Basta lembrar um caso emblemático das relações de cordiais inimigos entre o PT e o PSDB. Em 2002, quando o PT politizou o assassinato do prefeito Celso Daniel, atribuindo o infortúnio à carnificina na área de Segurança Pública na Região Metropolitana de São Paulo, o governo Geraldo Alckmin reagiu vigorosamente. Como? Criando uma força-tarefa do Ministério Público que melou a versão policial triplamente investigada de crime comum ao associar a morte do petista a efeitos colaterais do que teria sido um festival de roubalheiras no Paço de Santo André. O pau quebrou, como se sabe, mas, estranhamente, ou nada estranhamente, a campanha presidencial daquela temporada praticamente ignorou o assunto. Um acordo de cavalheiros teria sido selado para congelar eventuais desdobramentos.


 


Os tucanos não querem dar a menor possibilidade de serem surpreendidos nas urnas no ano que vem. Pesquisas asseguram que o PT não conseguiria superar as restrições do eleitorado interiorano, por mais que se esforce para dar face de humanismo na candidatura do ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Se houvera dúvida sobre mais uma vitória dos tucanos no Estado, a caixa de maldades será imediatamente aberta.  Mesmo que cresça a desconfiança sobre o estofo ético e de moralidade da gestão tucana, as ressalvas ao PT são ainda maiores. Bastaria, se necessário, um ajuste providencial na linguagem de campanha para que a maioria do eleitorado convirja à centro-direita.


 


PT e PSDB são faces distintas mas inseparáveis da mesma moeda política. Seus representantes odeiam os adversários, mas sabem que os mesmos limites que os separam também os unem ante a probabilidade de quebrarem a cara. As mensagens cifradas que a mídia transmite acriticamente simbolizam um estado de espírito de amor e ódio dualísticos, porque retroalimentadores e forjadores de um processo em que se chega a uma massa de contraditórios que se anulam ao mesmo tempo em que os ameaçam.  


 


Metades da mesma laranja


 


Principalmente quando o distinto público começa a perceber que são metades da mesma laranja apodrecida da política nacional, tanto petistas como tucanos dão sempre um jeito de tentar provar que passaram por prévio processo de pulverização que os manteriam como pedaço saudável a ser aprovado nas urnas.


 


Para tanto esgrimem argumentos mais que surrados, embora soem como música a ouvidos menos treinados a decodificar impropriedades inadvertidamente reveladas. Como o caso do cartel metroferroviário e, antes disso, do mensalão.


 


O caso do suspeitíssimo Grupo Consladel também pode ser evocado como prova de compartilhamento de ações entre petistas e tucanos. Os contratos daquela empresa de prestação de serviços em várias áreas públicas são ecumenicamente transmitidos entre os dois partidos em novas configurações diretivas. A Prefeitura de São Bernardo, conta há muitos anos com os préstimos da principal empresa do grupo de Jorge Moura, embora o petista Luiz Marinho tenha sucedido o tucano William Dib.  Na Capital, a transição de poder entre as duas agremiações não interrompeu o circuito de interesses daquele grupo empresarial.


 


Petistas e tucanos são tão diferentes quanto iguais. Tudo depende das circunstâncias que os coloquem em zona de atratividade ou de beligerância. Embora não se misturem porque a soma de interesses de cada agrupamento é incompatível com o outro lado do campo, atuam com a mesma objetividade de controle do poder alcançado. Quanto maior o grau de proximidade com o poder das respectivas cúpulas, mais animosidades se estabelecem e se manifestam.


 


Nos tempos em que o PT gozava de poucos poderes públicos, a estridência dos discursos moralizadores ultrapassava largamente os decibéis sempre discretos e mais educados dos tucanos, mas desde que passaram a compartilhar grandes orçamentos, mais se assemelham, mesmo que o sotaque e a fome de suprimir o plural denunciem em determinadas situações que já foram mais comuns no passado quem é afinal o irmão gêmeo que veio depois e que tentou se passar de diferente a vida toda.


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